O proletariado cansado também tem sua vez nos kdramas. Isso porque Meu Diário para a Liberdade ou My Liberation Notes, da Netflix, mirou em histórias que vemos todos os dias mas muitas vezes não paramos para analisar. Bem provavelmente por conta do cansaço.
São 4 protagonistas e muitos pontos de vista sobre o conceito de felicidade para o ser humano. Já começamos com o pôster mostrando pessoas dentro de um vagão do metrô. Quer algo mais rotineiro que isso? E esse é o conceito muito bem explorado da trama.
Por isso, já fica de aviso: My Liberation Notes não é uma comédia romântica. Mas também não é um roteiro para arrancar cachoeiras. E, inclusive, esse é um dos conceitos que fica explícito na fala de um dos personagens.
Algo parecido com: Nada de fingir felicidade ou fingir tristeza. É só a vida passando e a gente tentando fazer algum sentido dela.
Um filme indie dentro de uma série
Meu Diário para a Liberdade é especial não só pelo tema, mas também por trazer uma série que mais parece um filme independente. Cada episódio é como um filme, daqueles que são gravados nos ângulos mais diferentes e as cenas não precisam necessariamente que tenha conversa toda hora.
É engraçada essa parte do silêncio das personagens, já que traz uma nova perspectiva para a produção. Será que é necessário mesmo ficar conversando o tempo todo? A companhia já não é, por si, suficiente? Na vida real esses momentos existem e também não é todo mundo que tem esse lado extrovertido.
Ao mesmo tempo, também é possível notar momentos em que a conversa é necessária. A conversa com palavras.
Um parênteses aqui! Nesses primeiros episódios eu estranhei, mas fui na onda porque gostei da protagonista quieta que não abria o bico. Enquanto isso, a pessoa que estava assistindo comigo demonstrou irritação “Como que não falam nada?” Eu, a pessoa introvertida e quieta, achei muito bom e ela, a pessoa extrovertida e falante, sentiu que algo estava errado.
Voltando para o texto:
O olhar artístico desse dorama é surreal de tão bom. É como se o público estivesse ficando cansado junto com os atores.
São momentos de interação, o caminho para os lugares, toda a rotina desde acordar até voltar para a cama. É tudo muito perto da realidade, mas mostrando pequenos atos que mudam um dia do outro.
É impossível não assistir a esse kdrama e não parar para pensar na própria vida, na morte da bezerra ou refletir sobre como o mundo funciona. Esse realmente é um drama que merece ser digerido aos poucos, com atenção aos silêncios e notando o significado de cada diálogo.
Entretanto, diferentemente de doramas como My Mister, Meu Diário para a Liberdade não é uma série com episódios feitos para bater com força. Os episódios são feitos para pensar, são densos em interpretação e profundos sem sufocar. Isso é surpreendente, já que é difícil abordar sentimentos que esmagam o peito e não tornar o drama pesado.
Inclusive, a roteirista de My Mister e My Liberation Notes é a mesma. Park Hae Young faz um excelente trabalho em trazer personagens vivendo uma realidade nem um pouco glamurosa, retratando muito bem as dificuldades vividas e o sentimento de desânimo.
A jornada para a liberdade
Essencialmente, esse kdrama é sobre encontrar a liberdade, assim como o nome diz. A série apresenta três irmãos totalmente diferentes entre si, que foram criados juntos e estão envolvidos pelo marasmo da vida, cada um de um jeito.
Mas além das histórias todas que são apresentadas ao longo do kdrama, há um ponto essencial para dar nome à trama. A criação do Clube da Liberdade, que seria como uma terapia. Vale lembrar que a Coreia do Sul é um dos países com maiores taxas de suicídio, então ter um kdrama retratando saúde mental dessa forma é uma grande sacada, ainda que não coloquem todos para consultar um psicólogo.
Sem explicar muito para não dar spoilers, o clube é o empurrãozinho que todos nós precisamos. E essa série é um cobertor que mostra que está tudo bem e não está bem ao mesmo tempo. Uma verdadeira obra artística que todo mundo que já se pegou pensando na vida deveria assistir.