Normal People – Um Romance Épico de Tirar o Fôlego

Série irlandesa conta com emoção e sem devaneios a relação complexa e adulta entre dois jovens da geração atual.

Sinopse: Normal People acompanha os encontros e desencontros de Marianne e Connell, dois jovens de origens distintas que acabam se apaixonando um pelo outro durante diferentes fases da vida, como o ensino médio em uma pequena cidade da Irlanda e a universidade em Dublin.

Normal People é baseado no livro de Sally Rooney, e diferente da maioria das séries que vemos por aí. Nesta série não há personagens carregados por clichês que muita das vezes são insuportáveis.

Este romance é verdadeiro, rico em detalhes, realista em mostrar personagens que parecem comigo e com você, cenários que são mostrados em detalhes e muita química no casal principal, que vai fazer você torcer por eles como se fossem seus melhores amigos.

Contada em 12 episódios Normal People é fruto de uma parceria entre Hulu e a uma co-produção com a BBC, esta história mostra um romance que começa no colégio.

Marianne é uma garota rica e tida como louca pelos colegas de turma, muitas vezes excluída pelos seus amigos. Connell é um jovem popular, atlético e de família humilde. Sua mãe trabalha na casa de Marianne e é lá onde eles se conhecem e começam um romance às escondidas.

Após meses de sexo e aprofundamento de seus pensamentos Marianne quer sair da bolha da privacidade e contar a todos que está apaixonada por Connell, mas ele insiste que seu relacionamento permaneça em segredo.

As divisões internas e externas são percebidas e sentidas pelo espectador, essas que separam e aproximam esse casal. Vários pequenos desvios da história  mantém os espectadores envolvidos a cada episódio.

©StarzPlay

Depois que as coisas acabam mal no colégio, Marianne e Connell se encontram novamente na universidade, mas suas posições sociais são invertidas. Na faculdade, Marianne se encaixa. Ela é rica, ela é linda, uma pequena celebridade no campus. 

Connell vem de outra classe social, um lugar menos urbano, e está perdido. Os dois encontram o caminho de volta um para o outro, e para seu amor adormecido. A conexão desse casal é tamanha, que um sabe exatamente o que quer do outro, sem ter que dizer uma palavra. É daí que vem grande parte da melancolia do programa, o desperdício de  vê-los separados. 

Essa conexão não encantaria o público se não fosse pela atuação de Daisy Edgar-Jones  e Paul Mescal que interpretam Marianne e Connell. Aos 22 anos, ela e ele 24, já desempenharam e desempenham outros papéis, mas dificilmente você irá dissociá-los desse casal após assistir Normal People.

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As cenas de sexo são inúmeras, mas como expressão artística e não erótica. Os jovens talentos nunca são mais expressivos do que quando Connell e Marianne estão sozinhos e entrelaçados. Sua primeira vez juntos você vê os nervos lentamente cedendo ao desejo, e cada reconexão oferece um vislumbre do que está acontecendo dentro da cabeça de cada personagem.

O enorme talento por trás das câmeras merece todos os elogios. Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald dividem a série ao meio e dirigem seis episódios cada, ambos fazem um trabalho primoroso, diria até o melhor do ano. O programa sabe o ritmo exato que precisa, todos os 12 episódios são misturas perfeitas de como é ser um jovem adulto, com toda a estranheza, excitação, sentimentalismo, amor e desespero que esse período da vida tem a oferecer. 

Essa série não é só romance que nem você deve estar pensando a essa altura, há muitos temas pesados e relevantes discutidos ao longo da temporada. Marianne cujo pai morreu quando tinha 13 anos, é ignorada por sua mãe e maltratada fisicamente por seu irmão. 

A série mostra muito pouco do abuso sofrido pela protagonista, mas deixa sim de fundo para a reflexão. Aos poucos nossa protagonista entra no masoquismo, seu desejo de ser dominada na cama por homens, que começa a se manifestar com força depois que ela e Connell se separam. 

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No final das contas, Marianne e Connell descobrem que o golpe mais cruel da vida é que conforme o tempo cura velhas feridas, novas surgem, e a inevitabilidade disso muitas vezes sufoca Pessoas Normais, mas consegue se tornar o maior trunfo do show porque quando você segue as pessoas nas profundezas do desespero, você ganha a recompensa de ver como eles conseguem sair do outro lado.

Eu acho que se Normal People ensinam alguma coisa, é que passar pela vida sozinho irá quebrá-lo, e se você tiver sorte o suficiente para encontrar alguém, agarre-se o máximo que puder. Apenas se lembre de deixar ir quando chegar o fim da linha. Quem sabe, talvez vocês se reencontrem, a vida é assim.

Como muitas grandes histórias de amor, a série não oferece um final fechado e organizado, e embora Hulu esteja rotulando esta como minissérie, Rooney disse que está disposta a explorar o futuro do casal, então há sim possibilidade de continuação.

Divisões de classe, construções sociais, presunções de gênero e dinâmica de poder e abuso são todos temas do romance de Sally Rooney, como uma das roteiristas e produtoras executivas da série, ela garante que todos contribuam para que Normal People seja uma releitura digna de um grande livro. 

Uma história de amor notável, um romance épico de tirar o fôlego.                                           

A 1ª Temporada de Normal People está disponível na Starz Play.

Nota Final: 5 / 5

Obs: A série levou 4 indicações ao Emmy, está concorrendo nas categorias Melhor Ator Principal em minissérie (Paul Mescal), Melhor diretor de uma minissérie (Lenny Abrahamson), Melhor Roteiro de uma minissérie (Sally Rooney e Alice Birch) e de Melhor elenco para uma minissérie (Louise Kiely).