Segunda Temporada de BoJack Horseman: o tempo como prisão

Em primeiro lugar, feliz 2020 a todos vocês, leitores do Mundo Geek. Espero que seu novo ano seja repleto de luz e peço desculpas pelos abismos emocionais que intenciono abordar nessa minha série sobre BoJack Horseman. Desta vez, focaremos na segunda temporada, essa lançada em 2015.

A primeira temporada, como abordei semana passada, conclui com o personagem epônimo confrontando alguns dos seus atos perversos do passado, graças ao desenvolvimento e à publicação da sua biografia. Preso a um ciclo infinito de auto-abuso e punição, ele age como um buraco negro de problemas que atrai todos que o cercam. Além disso tudo, agora Hollywood é conhecido como Hollywoo porque o “D” foi roubado. Para onde agora seguir?

BoJack, o protagonista não a animação, diante do sucesso estrondoso da sua biografia, começa a chamar atenção de produtores para a realização de projetos, conseguindo até o papel dos seus sonhos, o de Secretariat, seu herói de infância. Nessa onda de positividade, BoJack assume uma nova postura e alega estar cortando os hábitos ruins da sua vida – no entanto, sem aplicar auto-crítica ou algo dessa natureza. Como desejos vazios de ano novo falados por hipócritas, sua resolução de “novo BoJack” são apenas palavras.

Incapaz de desviar de seus vícios, mesmo em novos contextos, BoJack torna o tempo estático, como a sitcom episódica que o tornou tão famoso nos anos 90, Horsin’ Around. Entretanto, ainda que esse status quo de auto-depreciação e miséria obriguem o personagem a continuar na situação precária onde ele se encontra, suas ações não estão em um vácuo e, eventualmente, as consequências o atingem. Ele vai ser obrigado a aprender alguma coisa para cessar essa agonia existencial herdada pelos seus vícios.

O resto do elenco colabora com a temática narrativa da necessidade de mudança e de quebrar ciclos. Por exemplo, a agente de BoJack, Princess Carolyn (Amy Sedaris), uma gata sobrecarregada de funções, ao tentar sair da sua agência, afunda-se em novos problemas. Outro caso é da Diane, que insatisfeita com seu trabalho e sua contribuição para a sociedade, entra numa fase auto-destrutiva, o que afeta especialmente seu casamento com o Mr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins). Presas aos seus métodos, apenas a revisão de suas ações permite a superação.

BoJack, no entanto, ainda está preso ao seu momento no tempo, e, aparentemente, parou de crescer e tomar responsabilidade por seus atos. Ao namorar a coruja Wanda (Lisa Kudrow), ele tenta se ater a valores antigos. Quando tentou reconectar com uma velha amiga, causou um mal tão tremendo à família dela que dá a impressão dele ser um parasita que leva a peste por onde ele vai. O problema, todos os sinais apontam, é ele. Ele e sua recusa em mudar. Perdido em algum momento nos anos 90, BoJack toma o tempo como sua prisão, seus momentos de glória funcionando como carcereiros, impedindo quaisquer alterações em seu modo de ser. Às vezes, ele chega tão perto de uma melhora, mas parece pensar que ele mesmo não vale a pena o esforço

A segunda temporada de BoJack Horseman é ainda mais deprimente que a anterior, alcançando lugares extremamente sombrios. Sua narrativa está ainda mais mordaz e ácida, com sua escrita mais refinada e um ritmo superior que proporciona momentos brilhantes. Se eu já adorei a primeira temporada, essa daqui foi o que cimentou de vez a minha paixão pelo desenho com sua bizarra e charmosa história. Um verdadeiro espetáculo trágico.

Você pode assistir a BoJack Horseman pelo serviço de streaming da Netflix