Na última terça-feira, 09/11, foi ao ar nos Estados Unidos da América os dois últimos episódios da série Supergirl pelo canal The CW, da Warner Bros. Adaptação dos quadrinhos da DC Comics para televisão, em 6 anos os fãs acompanharam as aventuras de Kara Zor-El, aka Kara Danvers, aka Supergirl, revezando sua vida entre ser repórter da CatCo Wordwide Media e a heroína residente de National City.
Inicialmente a série foi ao ar em sua primeira temporada no canal CBS e a partir da segunda passou para a The CW e formalmente se tornou uma das séries do chamado Arrowverse, que inclui Arrow, The Flash, Legends Of Tomorrow, Black Lightning e Batwoman.
Protagonizada por Melissa Beinost como Kara Danvers/Supergirl, tendo como seus co-protagonistas Chyler Leigh como Alex Danvers/Sentinela, David Harewood como J’onn J’ozz/Caçador de Marte, Katie McGrath como Lena Luthor, Azie Tesfai como Kelly Olsen/Guardiã, Nicole Maines como Nia Nal/Dreamer e Jesse Rath como Brainiac-5/Querl Dox/Brainy, os episódios finais nomeados The Last Gauntlet, 6×19, e Kara, 6×20, finalizaram 6 anos da Garota de Aço deixando um gosto amargo em grande parte dos fãs da série.
The Last Gauntlet
(ATENÇÃO! A partir daqui contém spoiler sobre o final de Supergirl)
A chamada 6B da 6ª temporada de Supergirl teve como enredo a luta dos Superfriends contra a vilã da temporada Nyxly (Peta Sergeant), um ser mágico da quinta dimensão, pela busca dos sete totens que formam a All Stone, um artefato da quinta dimensão que dá poderes mágicos a quem possuí-la. O penúltimo episódio se concentra na finalização dessa luta. Nyxly sequestrou com a ajuda de Lex Luthor (Jon Cryer) a filha recém adotada de Alex e Kelly, Esme (Milla Jones), por esta possuir um dos totens em seu corpo em formato de tatuagem. Para que a menina seja devolvida para suas mães, Lex propõe a troca da criança pelos totens que os Superfriends possuem, e aqui que começa a primeira frustração dos fãs com o final da série.
Alex está disposta a fazer qualquer coisa para ter sua filha de volta, inclusive enfrentar sua irmã superpoderosa que estava à procura do último totem. As atitudes de Alex nesse, e em episódios anteriores nessa mesma temporada, vão contra tudo aquilo que se foi visto ao longo de seis anos do relacionamento das Danvers Sister’s, como chamadas pelos fãs. Entende-se que ter filhos sempre foi o maior sonho da Alex, algo apresentado em outro momento da série e motivo do término de seu noivado anterior com Maggie Sawyer (Floriana Lima), mas ultrapassar as linhas do limite do seu relacionamento com a irmã que sempre protegeu não condiz com a construção da personagem. Os fãs ficaram frustrados em vê o relacionamento tão sólido de Alex e Kara abalado e com medo de ser indícios de uma possível ida da Kara para o futuro.
Após essa briga e disposta a fazer qualquer coisa para salvar a sobrinha, Supergirl toma a decisão de se supercarregar com energia solar, para assim conseguir ficar mais poderosa que Nyxly, pois uma das grandes fraquezas dos kriptonianos é a magia, não só a kriptonita verde. Nisso vemos aquela que sempre foi o símbolo de esperança da cidade quase se tornar algo temido pelos cidadãos e pelo exército americano. Nesse meio tempo Alex e Kelly, com suporte de Dreamer e Lena, tentam realizar a troca dos totens pela Esme, e aqui que começa a desandar tudo.
Supergirl desiste do seu plano após apelo da população, a troca dos totens dá errado, pois Lex trai Nyxly e tenta pegar a All Stone para si com a ajuda de sua mãe Lillian Luthor (Brenda Strong). Esme assustada, e tendo o poder de absorver o poder de outras pessoas, destrói a All Stone em três pedaços. Revoltada com a traição de Lex, Nyxly o ataca e os dois começam uma batalha, sendo que cada um fica com um pedaço da pedra e Supergirl com o terceiro. O caos começa a reinar no mundo e assim partimos para o último episódio da série.
Kara
O último episódio, aquele que era para ser a celebração do legado de Supergirl, foi na realidade o contrário, foi o de maior revolta dos fãs da série.
Dando sequência a luta de Nyxly e Lex, a população mundial começa a enfraquecer, pois quanto mais os dois usam os poderes das pedras, mais eles consomem algo como a energia mundial. Assim começa a despedida dos personagens da série. A primeira é da Lena com sua mãe Lillian, que foi atingida na luta tentando proteger o amado filho. O relacionamento entre Lena e sua mãe adotiva nunca foi dos melhores, principalmente por Lena ser fruto de uma traição, ter propósitos opostos ao da família e ser aliada da Supergirl. Foi bom vê essa despedida, muitos fãs esperavam uma redenção de Lillian, pois apesar de tudo ela presava pela Lena, nem que fosse para ela continuar o legado Luthor, mas o que vimos mais uma vez foi Lillian revelando as crueldades que fazia com a filha. O lado bom dessa despedida foi que ela serviu para Lena se desligar de vez das amarras que a família Luthor tinha atadas nela.
Para tentar reverter os efeitos que a luta estava causando na população, Supergirl com a ajuda de Brainy e Lena lança mais um de seus discursos motivacionais para a população, o que dá certo e enfraquece os dois titãs que estavam lutando. Nisso os Superfriends seguem para a batalha final contra os dois vilões, que foi bem decepcionante para os fãs.
Trazendo reforços com ajuda da magia da 5º dimensão, Lex e Nyxly iniciam a luta final. E aqui vem um dos momentos de maior irritação dos fãs, a volta de personagens nem um pouco queridos pela maioria. Mon-El e Winn aparecem vindos do futuro para reforçar o time da Supergirl, sendo que o primeiro aparece ajudando a Garota de Aço e o segundo o Caçador de Marte. Desde que saíram fotos das gravações das externas do episódio final, os fãs vem lutando contra a volta de ambos personagens, principalmente Mon-El, cujo foi levantado a hastag #NoMoreMonEl no Twitter, para impedir a volta do personagem que é comprovadamente baseado em Andrew Kreisberg, ex produtor e escritor da série, que foi afastado após acusações de assédio sexual contra mulheres, e que utilizou de situações que ele fez mulheres passarem, além de falas ditas por ele, serem reproduzidas pelo personagem na segunda temporada da série. Além disso tem o fato de Mon-El ter mentido para Kara durante seu relacionamento, pois o rapaz era príncipe de Daxam, um planeta com semelhanças a Kripton, mas que era o completo oposto em sua forma de governar, tendo outros alienígenas como escravos, ele omitiu essa informação para Kara. E na terceira temporada, após ter ido para o futuro, quando volta ao presente com a Legião de Super-heróis, o rapaz tenta reatar seu namoro com a Garota de Aço, mesmo sendo casado com a Garota de Saturno, Imra Ardeen (Amy Jackson).
A série era para tratar sobre empoderamento feminino, a protagonista é uma personagem feminina e o ser mais forte do universo, comprovado em luta contra o Superman na 2ª temporada, vê-la apanhando constantemente desde a temporada anterior para seres mais fraco que ela já não estava agradando o público, e vê-la sendo salva por um homem foi a pior coisa que os produtores e escritores da série justamente no episódio final dela, mas eles conseguiram fazer algo ainda pior. No momento em que os heróis se aliam para enfrentar os vilões, vemos Mon-El ligeiramente a frente da Supergirl, como se ele fosse o protagonista da série e não ela.
Em seu último ato para tentar derrotar a Supergirl, Lex invoca os fantasmas da Zona Fantasma, mas sua tentativa dá errado e ele e Nyxly são sugados pelo portal criado para a Zona Fantasma. O que era para ser a luta final e épica na realidade nem aconteceu. Seguimos assim para a verdadeira finalização da série.
Foi realizado o enterro de William Day (Star Nair), assassinado por Lex no episódio 18. No fim dele temos a despedida de Mon-El, que volta para o futuro e para a alegria dos fãs fala que não voltará mais ao presente. Brainy precisa ir junto com ele de volta para o futuro, o que deixa os fãs do casal BraiNia, Brainy e Nia, triste pela separação dos dois. O presidente dos EUA, após toda a situação Nyxly/Lex, propõe a volta do DEO (Departamento de Operações Extranormais), que prontamente é aceita por todos. Também vemos Lena inaugurando a The Lena Luthor Foundation, um dos furos que o roteiro deixa já que não explicado para que ela serve. Dreamer inaugura o Dreamer Canter For LGBTQ Outreach e Andrea Rojas (Julie Gonzalo) inaugura a Escuela de Periodismo William Day.
A melhor parte do finally de Supergirl vem com o casamento Dansen, Alex e Kelly. Muito aguardado pelos fãs desde que as duas começaram a ficar juntas, o casamento foi lindo e emocionante do começo ao fim. A reação da Alex vendo a Kelly junto com seu irmão James Olsen (Mehcad Brooks) entrar no corredor do casamento não poderia ter sido mais verdadeira, já que a atriz Azie Tesfai falou em seu Twitter que Chyler pediu para que a produção as mantivesse separadas até o momento da gravação.
Mas antes disso tudo rolar um retorno muito surpreendente aconteceu. Inúmeros foram os pedidos para esse retorno no final da série, mas ninguém tinha realmente expectativas dele acontecer. Estou falando da volta de Cat Grant (Calista Flockhart), grande rainha da mídia, mentora de Kara Danvers e a pessoa que deu o nome Supergirl para nossa Garota de Aço. Com outro furo no roteiro (o que aconteceu com Andrea Rojas, dona da CatCo?), Cat retoma o comando de seu império midiático e chama Kara para ser editora-chefe da revista, antes ela tinha se demitido devido algumas imposições de Andrea ao seu trabalho. Nossa protagonista fica em dúvida sobre aceitar a proposta, pois o velho dilema de ser Kara Danvers ou Supergirl volta a atormentar Kara Zor-El. Em uma conversa honesta com sua irmã, no famoso sofá das Danvers Sister’s, Alex diz que a irmã encontrará a resposta, porque ela sempre a encontra.
Voltando ao casamento Dansen, os fãs não ficaram nada felizes ao descobrir que a The CW cortou algumas cenas importantes que aconteceram, como Lena sendo convidada para ser madrinha de Esme, James dando de presente uma câmera fotográfica para a sobrinha e o buquê sendo jogado. Uma coisa boa do casamento foi a volta de Brainy e o casal Brainia ficando juntos finalmente.
SuperCorp ou Queerbait?
A grande maioria do Superfandom, como é chamado o grupo de fãs de Supergirl, é formado por pessoas LGBTQI+ que ao longo de cinco anos tiveram a expectativa de verem finalmente o shipp SuperCorp, Supergirl e Lena Luthor, ser confirmado como canon, real.
Desde a chegada da personagem Lena Luthor ao seriado na segunda temporada, os fãs vêm observando as interações entre ela e Kara e a grande maioria delas davam a entender que ambas poderiam vir a ser um casal, ter um relacionamento romântico. Mas isso não aconteceu, para a indignação dos Supercorp shippers que tanto esperavam esse momento acontecer, nem que fosse somente no final da série.
Há anos o canal The CW é conhecido pela utilização de queerbaiting, termo utilizado para quando se a sugestão de um possível romance entre pessoas do mesmo sexo ou LGBT, para atrair público, mas que na realidade não é retratado de fato um romance. Grandes exemplos de queerbait em séries do canal são Lexa e Clarke de The 100 e Dean e Castiel de Supernatural. Ambos os casos são semelhantes, após haver um momento romântico entre os casais, um deles morrem logo em seguida.
A questão que envolve Supercorp vão além disso. São olhares trocados, paralelos com outros casais do Arrowverse e até mesmo com Clois, Clark Kent e Lois Lane de Superman, de séries diferentes, como Smallville e Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman. Um simples roupa usada por Lena, mas que também foi usada por Lois Lane nos quadrinhos, séries e filmes. Linhas de falas que foram semelhantes de outros casais da própria série, mas que para Kara e Lena deveriam ser vistas como só amizade. E fator principal: o episódio de número 100 da série todo dedicado a relação entre Lena e Kara. Uma simples amizade não deveria ter um dos marcos mais importantes de uma série, chegar ao episodio 100, todo voltado para si, não é mesmo?
Kara desde a primeira temporada estava em busca do “parceiro perfeito”. Aquela pessoa que a entende, não só como Kara Danvers e Supergirl, mas como Kara Zor-El também. Que seja a parceria perfeita nas noites de jogos entre os amigos, e Lena foi essa pessoa para Kara até o fim da série, quando a Garota de Aço estava em dúvida sobre quem ser naquele momento da vida dela em meio ao casamento de sua irmã e a pressão de Cat para aceitar o cargo de Editora-Chefe. Lena dá todo o apoio que ela precisa para ser somente Kara Zor-El, a agora Editora-Chefe da CatCo e a super-heroína Supergirl, com sua identidade revelada ao mundo por Cat na última cena do episódio final.
Foi nessa conversa entre Lena e Kara, a última cena de ambas juntas, que se esperava uma declaração amorosa. Todos os indícios disso foram postos nela, os termos usados nas falas da kara, Lena citando o lema da Casa de El, El Mayarah, Mais Forte Juntos após de dizer que “se alguém tentar mexer com essa família” elas vão enfrentar juntas.
A fala seguinte de Kara “De todos os amores que já tive, você me pressionou mais, me desafiou mais.”, levou a crê que rolaria finalmente um beijo entre elas, mas tudo que aconteceu foi um abraço e Lena dizendo que Kara fez dela uma melhor pessoa.
Por que Kara Danvers não pôde terminar a série com Lena Luthor como seu par romântico? Todos outros protagonista do Arrowverse tiveram, tem, seu par romântico, a pessoa que está ao lado dos heróis dando forças e sendo seu pilar nos momentos difíceis, assim como Lena sempre esteve ao lado de Kara sendo esse pilar, mas ela só é considerada uma amizade. A CW acha que por já tem Dansen como casal LGBT, e de certo modo Brainia também já que Nia é uma mulher trans, a “cota” da série já foi preenchida e não precisava de mais um casal LGBT? Kara teve anteriormente todos seus possíveis pares românticos descartados e o mais obvio para ser seu romance final era Lena Luthor, porém tudo que foi recebido foi queerbait até o último momento da série.
Kara foi a única protagonista a terminar sua série sem um par romântico já que a CW, os showrunners, produtores e escritores não tiveram a capacidade, coragem, de dar aquilo que era esperado por todos.