Em meio às sugestões bagunçadas do Prime Video, se esconde uma série cuja capa é nem um pouco chamativa. Os banners de Upload variam entre uma moça com óculos de realidade virtual e imagens sem graça típicas de série de comédia americana.
O clique do botão pode acontecer sem querer ao procurar outra série e aí já se abre a descrição.
A série propõe um conceito futurístico em que pessoas prestes a morrer podem fazer “upload” para uma realidade virtual. Assim, é possível ter a vida eterna em hotéis de luxo e modificar detalhes como num The Sims.
Interessante, não é? Parece que fizeram uma série inspirada em episódios de Black Mirror (com destaque para “San Junipero”) . Tem tudo para ser uma série boa, como já foi dito aqui na review da primeira temporada:
O detalhe é: A primeira temporada fez bem em chamar a atenção desde o primeiro episódio. Em seguida, finalizou com aquele estilo de deixar várias pontas soltas a serem resolvidas na próxima temporada. E aí estavam abertas as portas para a segunda temporada.
E o que foi o Upload dessa segunda temporada?
Sabe aquele trabalho da escola que você se lembrou de fazer de madrugada e correu para ligar para os colegas a fim de terminar a tempo? Bom, foi isso.
Como se estivessem querendo correr com a história para poder alcançar outro patamar, a segunda temporada de Upload se encheu de buracos e inconsistências. Não que tenha sido um total desastre, porque a premissa da primeira ainda segurou. Porém, Upload deveria ter sido uma série de somente uma temporada.
A partir daqui pode conter spoilers da primeira temporada. Então, esteja avisado!
Na segunda temporada, a série não consegue decidir se foca em grupos terroristas, crítica ao capitalismo, romance, investigação criminal ou comédia (seria inteligente ou simples?). Dessa forma, foi tudo pelos ares.
Um pouco de cada e nada ficou bem elaborado. Personagens indo e vindo da forma como fosse conveniente e até as ligações entre cada questão aparecem de jeito enevoado.
Se na primeira temporada entendemos sobre a complexidade de cada personagem e da história, na segunda tudo fica raso e estranho. Até a própria Nora (interpretada por Andy Allo), que é uma das protagonistas, ficou prejudicada nessa reviravolta desajeitada. Houve claramente uma mudança abrupta nas linhas de raciocínio dela e explicações nada convincentes sobre os motivos das decisões terem sido tomadas.
Outra personagem que foi para o ralo é a Ingrid (Allegra Edwards). A mocinha rica que começa a trama como namorada do protagonista mostra um potencial incrível na primeira temporada. O que desaba como amoeba que ficou no teto por um ano quando colocam ela de volta no posto de mimada irritante. Aonde foi parar aquele plot instigante que sugeriu diversas pontas na história inicial?
Ainda que diferentes lados da Ingrid tenham sido mostrados, foram de forma muito tosca. Assim como todos os arcos dessa temporada. Boa parte da trama foi abandonada e ficou difícil entender como que tal acontecimento se deu. O que custava um mínimo de desenvolvimento?
Upload: funcionou ou não?
Assisti a segunda temporada inteira esperando que no fim dessem uma consertada. Spoiler: não dão. Na realidade, quanto mais perto do final mais bagunçado fica. É isso que dá colocar muitas ideias e não separar em mais episódios.
Ainda assim, não posso ser carrasco. Existem, sim, momentos legais da segunda temporada. A ideia em si não era ruim e vários pontos que tentaram abordar, embora fracassando, fazem bastante sentido na realidade criada para Upload.
A série de comédia ainda manteve momentos cômicos, como os protagonizados pelo personagem Luke (Interpretado por Kevin Bigley), que nunca falha, sua anjo Aleesha (Zainab Johnson) e o funcionário que está em todos os cantos (Owen Daniels). Inclusive, um arco para cada seria muito interessante se conseguirem tirar Upload da lama em que atolou.
De um modo geral, a segunda temporada de Upload não chega nem a três estrelas. Vamos melhorar aí…