O Chalé – Um ótimo terror psicológico

A primeira vista, O Chalé (The Lodge) pode parecer apenas mais um filme de terror. Os elementos que se veem em muitas histórias do gênero estão presentes: um local isolado e uma casa (nesse caso, chalé) sinistra, mas O Chalé é mais do que isso. O novo filme dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (do sucesso “Boa noite, mamãe”) é o primeiro longa da dupla falado em inglês e será lançado no Brasil dia 22 de julho de 2020, em sua plataforma digital, devido ao COVID-19. Estrelado por Jaeden Martell, Alicia Silverstone, Lia McHugh, Richard Armitage e Riley Keough, esse terror psicológico extrai o máximo do emocional de cada personagem, deixando o público também aflito sobre o que poderá acontecer.

©Hammer Films

A história começa simples, mostrando uma mãe, Laura, levando seus filhos, Mia e Aiden, para a casa do pai deles, Richard. Os filhos estão preocupados, pois não querem ter que encontrar com Grace, a nova namorada do pai. Chegando lá, Richard fala para Laura que quer acelerar o processo de divórcio para poder casar com Grace. Tudo parece se encaminhar para isso, mas Laura não fica bem com a notícia e acaba cometendo suicídio. Os filhos de Laura ficam traumatizados, culpando Grace pelo suicídio da mãe e não querendo se aproximar da mulher. Logo quando isso acontece, percebemos que o filme falará sobre temas pesados, como doença mental, situações traumáticas e suicídio.

Passam-se seis meses e Richard continua querendo que os filhos se aproximem de Grace, sugerindo então que os quatro passem o Natal no chalé da família. Mia e Aiden não gostam da ideia, mas no fim o pai deles consegue que isso aconteça e então eles viajam para lá. Os irmãos ficam ainda mais aflitos quando descobrem que Grace fez parte de um culto religioso que resultou no suicídio de todos seus membros, deixando ela como única sobrevivente. O pai deles inclusive conheceu ela, porque ele escreveu um livro sobre cultos e os dois começaram a se envolver a partir daí.

Chegando ao chalé, Grace faz de tudo para se aproximar de Mia e Aiden, mas sem sucesso. Ela inclusive cai dentro da água congelante de um buraco que se abre na neve e fica visivelmente abalada. Richard, depois disso, fica receoso de deixar os filhos com Grace por dois dias enquanto cuida de assuntos de trabalho, mas ela diz que está bem. Nesse momento, vemos Grace esconder dele um frasco de remédios e é claro que ela não está mentalmente estável. Depois do trauma que ela passou, percebemos que ela está fazendo tratamento com medicamentos, mas, ainda assim, fica desconfortável com todos os itens religiosos que estão espalhados pelo chalé. A família de Richard, principalmente Laura, é muito religiosa e vemos o quão mal Grace fica com tudo isso.

A partir desse momento, o filme começa a se aprofundar ainda mais na personagem de Grace, mostrando seus traumas. Ao mesmo tempo, ela continua tentando se aproximar de Maia e Aiden. É claro para quem assiste que existe algo rondando o chalé, sentimos algo estranho no ar, mas não conseguimos saber o que vai acontecer.

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O filme consegue usar os elementos clássicos de filme de terror muito bem e trazer também algo novo. O Chalé não se apoia em jump scares ou terror gore como muitos outros filmes do gênero fazem. Ao invés disso, usa os traumas dos personagens para trazer o terror psicológico para mais próximo do público, deixando quem assiste no suspense do que poderá acontecer. É uma ameaça que não conseguimos ver, apenas sentir. Muitas teorias passam pela cabeça de quem assiste, e isso mantém o clima de tensão, segurando bem a curiosidade do público.

Algo que se destaca muito também é a trilha sonora. Ela está muito colocada e é sinistra, explorando, por exemplo, violinos e sons prolongados, que passa uma aflição enorme, além de sons de piano agudos em certas cenas, deixando tudo mais bizarro. A fotografia é também muito bem utilizada, aproveitando o lugar remoto aonde o chalé está. Os tons mais claros por conta da neve ficam contrastados com o escuro de dentro do chalé. O enquadramento também contribui muito para a narrativa, deixando os personagens em uma posição que passa a sensação de que algo, ou alguém, está os observando de cima, remetendo a talvez algo divino que julga os personagens, principalmente Grace. A câmera também fica estática durante diálogos, dando destaque ao que é dito, mas também se move furtivamente e lentamente, mostrando os espaços, como o chalé e a casa de boneca de Mia, que é um elemento muito importante para o filme também.

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Todo o elenco está muito bem em seus papéis, mas o destaque fica com Riley Keough, que interpreta Grace. A atriz passa muito bem a confusão mental da personagem e se destaca ainda mais nos momentos de tensão e desespero. Lia McHugh, que interpreta Mia, também está de parabéns. A atriz mirim se destaca bastante nos momentos mais dramáticos do filme e, quando a personagem chora, acreditamos completamente que a garota está sofrendo e é de partir o coração.

O Chalé, por mais que parece ter um ritmo lento, possui reviravoltas muito boas. Quando pensamos que sabemos o que está acontecendo, os personagens nos surpreendem e voltamos a estaca zero. O filme mostra também, que todos nós possuímos algum tipo de trauma e que, às vezes, não existem vilões reais. Na verdade, O Chalé nos deixa pensando que talvez todos sejam vítimas. O clima tenso que o filme constrói se mantém, culminando no fim, que é talvez uma das coisas mais marcantes do filme.