Good Omens: Há mais mistérios entre o céu e o inferno do que a vã filosofia dos homens pode imaginar

Eu sempre estou à procura de novos títulos de comédia em detrimento de outros gêneros narrativos. Para que chorar com uma tragédia se posso me dobrar de rir com uma ironia? Sempre estou no humor para umas boas gargalhadas e as minhas listas na Netflix e na Amazon Prime refletem essa preferência. Por essa razão, estava eu escavando nas recomendações da Amazon algo que me chamasse atenção quando meus olhos enfim bateram no meu objeto de discussão desta resenha: Good Omens.

Poster da série (Créditos: Amazon Studios)

Logo num primeiro momento fiquei intrigada. Uma minissérie de seis episódios sobre dois seres sobrenaturais tentando evitar o apocalipse? Como não seria fisgada de imediato por sua temática surreal? Essa obra é a adaptação por esse serviço de streaming do romance homônimo (em português, Belas Maldições) dos escritores britânicos Neil Gaiman e Terry Pratchett. Gaiman já havia se consagrado pela Amazon com Deuses Americanos, então eu estava tranquila que, ao menos, eu iria me entreter. O que me capturou de jeito foi o segundo autor. Sir Pratchett (falecido em 2015) foi um autor prolífico em vida, capturando milhões com a sua série de sucesso Discworld, essa ambientada em um planeta fantástico no formato de disco (daí o nome) que viaja pelo universo nas costas de uma tartaruga. Pterry, como é chamado pelos seus fãs, é simplesmente hilário, com certeza uma dos melhores autores que li, por isso eu tinha a certeza de que estaria em boas mãos com Good Omens. Prontamente marquei no calendário uma data para ver com o meu parceiro e a espera começou.

As capas de Belas Maldições em inglês (Créditos: Editora HarperCollins)

Devo adiantar que já tinha expectativas positivas, mas, meus amigos… Que série.

Logo nos primeiros instantes o espectador já é atordoado com piadas rápidas na narração de Deus sobre o início do mundo até o momento que os protagonistas são introduzidos. Apenas um pequeno gosto dos jogos de palavras e ironias e quebras de expectativa tão próprios do humor inglês. Entretanto, o segundo que finalmente contemplamos o primeiro diálogo entre o demônio Crowley (David Tennant) e o anjo Aziraphale (Michael Sheen) é quando sabemos que estamos assistindo a algo especial. A naturalidade de como os personagens conversam é estonteante, e tanto pode ser dito sobre eles apenas pela interpretação muitíssimo competente desses dois.

Desse instante em diante, eu sabia que amaria cada minuto da jornada de pouco menos de seis horas que me aguardava. 

As dinâmicas estabelecidas são bem concisas e eficientes na sua lógica interna: Crowley, apesar de um demônio, não se importa com a perdição da humanidade, e apenas anseia aproveitar os prazeres mundanos; Aziraphale desenvolveu uma grande afeição pelos humanos e gostaria de vê-los prosperar, ainda que seja ruim em seu trabalho; o céu e o inferno são grandes sistemas burocráticos que apenas querem seguir sua função apocalíptica de acabar com a realidade como conhecemos. O cenário é desenvolvido de uma maneira tão orgânica que conseguimos aceitar absurdo atrás de absurdo.

Aziraphale, Adam, e Crowley no olho da tempestade (Crédito: Amazon Studios)

Os outros núcleos, ainda que não tão interessantes, não ficam muito para trás: Sam Taylor Buck é muito eficiente no seu papel de menino normal que, por acaso, também é o Anticristo; Adria Arjona convence como Anathema Device, bruxa obcecada com tradição; Jack Whitehall também é ótimo como o amável fracassado do Newton Pulsifer.

A montagem das cenas é fenomenal, fazendo-se valer bastante de piadas visuais assim como de uma sensibilidade apurada, formando uma narrativa hilária e capaz de emocionar e gerar suspense em diversas ocasiões. A trilha sonora marcada especialmente por Queen é brilhante e bem utilizada em momentos chave. A direção também é muito eficaz: Douglas Mackinnon soube conduzir as cenas com elegância, dando atenção na medida certa a detalhes que, eventualmente, viriam à tona. 

Acabei a obra já querendo ver de novo. As quase seis horas gastas na minisserie não foram suficientes para saciar a minha vontade de Good Omens: meu coração tinha um buraco no formato de dois seres celestiais depois de toda a jornada. 

De qualquer forma, estou feliz como foi executada a adaptação: na medida certa, e cheio de risadas pelo caminho.