Especial Mês da Infância III: As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy

Em minha opinião, humor é um componente essencial da infância. O riso é lúdico, ensina a lidar com adversidades, contornar as incongruências do cotidiano. Soltou pum na escola? Ria. Seu colega escorregou? Gargalhe. De mãos dadas com o elemento cômico, contudo, está o horror. O medo também é educativo, afinal ele nos deixa mais alertas, mais preparados para o desconhecido. A boa programação infantil consegue incluir essas duas unidades em diferentes momentos. A excelente consegue mesclar as duas organicamente.

Amigos, eu vos menciono As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy.

Saído diretamente da perturbada mente do Maxwell Atoms (nome artístico do Adam Maxwell Burton), o desenho animado é um ícone do início da década retrasada do canal Cartoon Network. Estreando oficialmente em 2001 (2002 em terras brasileiras), a animação oferece a premissa de duas crianças, o imbecil Billy (interpretado acá por Pedro Eugênio) e a cruel Mandy (Nair Amorim, minha dubladora favorita inclusive), que atormentam o Ceifador Sinistro/Puro Osso (na voz do excelente Orlando Drummond) graças a um acordo entre eles. Só isso. Não há uma fórmula exata, são só aventuras episódicas que criam situações de humor a partir de ideias assustadoras.

E eu as amo muito!

Não sei o que havia exatamente naquela curiosa amálgama de riso e pavor que me hipnotizava quando eu tinha a oportunidade de assistir ao programa. Simplesmente a violência, a paródia, e o tom malicioso funcionavam. Claro, nem sempre era perfeito. A série originalmente era conhecida com Diabólico & Sinistro, dividindo em duas partes os episódios: a primeira, a qual deu certo e foi continuada, com Billy e Mandy; e a segunda, logo esquecida e ignorada após trezes segmentos, com Mal Encarnado – um super-vilão cujo corpo foi destruído e o cérebro agora divide espaço com um urso. 

A criatividade da equipe às vezes parecia não encontrar limites. Era incrível quantas piadas ofensivas e referências obscuras apareciam na animação e o quanta liberdade o canal oferecia. Em entrevista ao portal SyFy, Maxwell Atoms comentou o seguinte: “Nós fizemos um monte de misturas [de referências] nessa pegada, em que você pega algo subversivo, mas que também funcione a um nível cômico. Tipo um episódio ao estilo Billy Elliot o qual também segue a narrativa de Suspiria. Eu acho que eu sempre tive a cautela de guiar o show mais na direção das crianças, enquanto muitos dos animadores colocariam quaisquer menções a coisas que eles particularmente achavam engraçadas, resultando em algo entre esses dois princípios. Um dos meus objetivos era assustar a nossa audiência imediatamente antes de fazê-la rir.”

Foi um tiro no escuro que rendeu bem. Ao final da sua carreira no canal, essa série somou 77 episódios (divididos em 160 segmentos), três filmes, e um episódio crossover com KND – A Turma do Bairro. À sua bizarra e mórbida maneira, o programa cativou inúmeras crianças ao redor do globo. A animação era razoável na maior parte do tempo, porém com potencial de alcançar momentos excelentes. Os cenários (em termos narrativos ou cenográficos) extremamente criativos, além de um elenco completamente afastado do tradicional e clichê grupo de pré-adolescentes no subúrbio.

Desde os meus primeiros momentos, eu sou atravessada pela arte do desenho animado. Cresci consumindo essa mídia, e certamente ainda o faço. Muito é ignorado, esquecido, ultrapassado conforme meus gostos mudam. As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy, entretanto, permanece uma das obras mais importantes na formação do meu humor, envelhecendo como um bom e exótico vinho.