Nesta semana resolvi comentar sobre um clássico atemporal, muito popular entre a geração millenials (da década de 1980 até o início dos anos 2000) e que deveria ser obrigatório para qualquer geração, seja a existente ou as vindouras. Como uma das obras primas de John Hughes, o Clube dos Cinco, traz à tona toda a revolta e pressão que os adolescentes são obrigados a suportar, problemas que são expostos de maneira bastante sutil, tão sutil que talvez nem os atores puderam notar enquanto atuavam.
Em um contexto geral, o filme retrata a história de cinco jovens que são obrigados a passar um sábado de castigo na biblioteca do colégio, em virtude de alguns pequenos delitos cometidos por eles, o que não se esperava é que estes jovens pudessem ser tão diferentes. Seguindo a cultura americana, os jovens representam alguns estereótipos comumente encontrados naquela época: o marginal, o atleta, a patricinha, a esquisita e o nerd (cdf aqui no Brasil), vamos conversar sobre cada um deles e tentar entender a alma do filme.
O marginal é John Bender, (Judd Nelson) que acredita ser o maioral e acima de qualquer coisa, provocador, leva todos a loucura por sua falta de escrúpulos, porém toda esta fachada esconde outros problemas que não podem ser ignorados. Sua atitude agressiva, seu relacionamento com drogas e comportamentos desrespeitosos, são reflexos de uma vida familiar semelhante, Nesse contexto, o melhor a se fazer para conseguir se proteger, é aceitar os abusos e descontar na sociedade, mesmo sendo uma atitude errada é possível perceber em algumas cenas que sentimentos como mágoa, raiva, arrogância, inveja e medo acabam transbordando.
O atleta é Andrew Clark, (Emilio Estevez) integrante do time de luta greco-romana, com o típico estilo de rapaz popular, incapaz de discordar e expressar suas próprias opiniões, segue hábitos e posturas com rigidez militar. Foi justamente o descontrole de suas emoções que o levaram até aquele castigo, pois humilhou e agrediu um colega só para fazê-lo se sentir fraco. Após isso, Andrew começa demonstrar sentimentos de incompreensão, culpa, resistência e medo, estes sentimentos continuam até o final da trama.
A patricinha é Claire Standish, (Molly Ringwald) filha de pais ricos, bem educada, vaidosa, bonita e super popular, é a estrela do colégio e o orgulho da família, um exemplo de sucesso, porém toda esta fama tem preço. Claire e Bender são os que mais se farpam, justamente por serem opostos, as qualidades de um são desvalorizadas pelo outro, um contraste legal e super comum, até mesmo nos dias de hoje; os sentimentos que afloram de Claire são apego, repulsa, medo, inveja e intolerância.
A esquisita é Allison Reynolds, (Ally Sheedy) ela não é ninguém, simplesmente isso, não desperta a atenção dos outros e por isso tenta fazê-lo de todas as formas, já que sua natureza tímida atrapalha o diálogo. Allison, é o tipo de pessoa ignorada na sociedade, seus hábitos e comportamentos são vistos como estranhos e ela não pertence a nenhum grupo, é literalmente uma excluída e por causa disso acaba sendo ladra, mentirosa e provocadora. Na minha opinião é a melhor atuação entre eles; os sentimentos que ela demonstra são raiva, falsidade, exclusão, carência e inocência, outros sentimentos também aparecem, mas são derivados destes.
O nerd é Brian Johnson, (Anthony Michael Hall) que representa o estereotipo de CDF para nós, um menino com inteligência acima da média, comportamento tímido e com os hormônios a flor da pele, porém sem maturidade para lidar com eles. Brian, busca sempre ser a mente de todo o grupo, seus questionamentos são plausíveis e despertam muita discussão no grupo, mas sua inocência acaba causando um cansaço e um motivo de chacota, uma vez que suas esperanças são vãs. Os sentimentos que podemos identificar são inocência, esperança, medo, revolta e infelicidade.
Claro que estes jovens não estavam largados a própria sorte, quem tentava colocar ordem em tudo era o professor Richard Vernon, (Paul Gleason) que personificava a figura típica do homem antiquado, machista, autoritário, infeliz e fracassado dos anos 80, uma figura repulsiva que tenta a todo custo se mostrar superior.
O longa é realmente sensacional, mesmo usando apenas uma locação (o colégio), fato que acredito ter deixado a atmosfera da situação ainda melhor, cada cena traz um rio de representações e significados. É um material que permite horas de discussão, polêmico, provocante, impossível ficar totalmente alheio e por mais que possua algumas cenas divertidas, está longe de ser uma comédia juvenil, trata-se de um drama adolescente muito bem executado.
Tá bom, confesso que sou fã do filme, mas isso não desmerece o trabalho incrível que foi feito e como a composição foi bem montada, os estereótipos sociais são perceptíveis até na postura dos pais, nos carros que eles usam e como eles se posicionam. Claro que nem tudo é perfeito, a meu ver, os casais românticos que se formaram eram totalmente desnecessários e sem sentido, porém totalmente compreensível, levando em consideração o estilo de produção daquela época.
A conclusão é que se trata de um filme que precisa ser assistido, há muito mais nele do que se possa comentar e toda perspectiva diferente traz novas observações, então, se você é cinéfilo ou simplesmente gosta de filmes com roteiros inteligentes, este é um título obrigatório para seu currículo.