Children of the Sea: Os Mistérios do Mar

Children of the Sea, ou Kaiju no Kodomo, em japonês, tem uma história que parece simples, mas é ao mesmo tempo muito misteriosa do início ao fim, deixando o público com mais perguntas que respostas. O filme, lançado em 7 de junho de 2019 nos cinemas do Japão, é dirigido por Ayumu Watanabe (Space Brothers) e produzido por Eiko Tanaka. Children of the Sea é originalmente um mangá de Daisuke Igarashi, lançado no Brasil pela  Editora Panini, completo em 5 volumes.

Ruka é uma garota adolescente que se vê desinteressada pela vida. Entre uma mãe alcoólatra e um pai distante, ela coloca toda sua energia em jogar handball no colégio. Mas um dia ela acaba sendo expulsa do clube por brigar com uma outra aluna. Ruka é cabeça-dura e bem temperamental, portanto, não consegue se relacionar muito bem com as outras pessoas, muito menos com outros adolescentes.

©Studio 4 °C

O pai de Ruka trabalha em um aquário na cidade litorânea aonde vivem e é lá que Ruka conhece Umi e Sora, dois irmãos que possuem características peculiares e que foram criados por dugongos, um animal marinho. Umi é um garoto extrovertido e se dá muito bem com Ruka logo de cara, enquanto Sora é mais retraído e sério e não parece confiar na garota. Umi passa a maior parte do seu tempo nos tanques do aquário em meio a animais marinhos e Sora prefere ficar mais perto do mar. Os dois são estudados pelos profissionais do aquário, pois necessitam constantemente estarem com o corpo molhado se não começam a ficar doentes.

Umi e Sora tem uma ligação profunda com o mar e, quanto mais próxima Ruka se torna dos dois, mais ela mesma fica próxima do mar. É bonito ver como ela começa a se abrir mais para o mundo através da amizade com os dois e sua ligação com as águas. Os três, além dos estudiosos marinhos, começam a perceber que estão acontecendo muitos fenômenos estranhos na vida marinha em todo o mundo e que tanto Umi e Sora quanto Ruka estão, de alguma forma, no meio disso tudo. A situação começa a ficar ainda mais misteriosa depois que Sora desaparece e deixa uma mensagem com Ruka.

A coisa principal a se exaltar nesse filme sem dúvidas é a animação: ela é belíssima e é uma boa ideia assistir ao filme em uma tela bem grande, pois assim pode-se tirar o maior proveito dessa animação. Sentimos como se tivéssemos realmente mergulhado no mar junto dos personagens e a sensação que as imagens passam é a de se estar completamente imerso na história.

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O que chama a atenção no mangá de Daisuke Igarashi são os espaços “vazios” nas páginas da história, aonde só se vê as cenas, principalmente o mar, sem fala alguma. Isso se transcreve muito bem para o filme, com planos longos e cenas aonde só vemos as imagens, com a música de fundo, sem falas. O clima é muito agradável e passa uma calmaria muito boa. A história se desenvolve de maneira simples e ao mesmo tempo grandiosa, mostrando o quão pequenos somos comparados a natureza. O mangá, assim como o filme, prefere mostrar invés de dizer e é isso é uma característica muito positiva se usada bem. É o que acontece com Children of the Sea. Nada é mastigado para o público e quem assiste, assim como quem lê o mangá, precisa tirar suas conclusões e interpretar o que vê.

Algo curioso são os nomes dos personagens Umi e Sora que, respectivamente, significam Mar e Céu, e é claro no filme a união desses dois elementos. O céu e o mar se misturam inúmeras vezes parecendo um só e é como se os personagens estivessem voando quando aparecem nadando no mar. A imensidão aonde os personagens se encontram é como um paralelo para todos os humanos, mostrando o quão pequenos nós somos em relação ao universo. Mas, ao mesmo tempo, somos pequenos e grandes, pois essa imensidão também faz parte de nós e os mistérios que Ruka, Umi e Sora encontram também estão dentro dos humanos. É legal também ressaltar o papel importantíssimo que as mulheres têm na história, diversas vezes é mostrado o quão claramente essências para a vida elas são e o quão no centro do universo elas estão. Isso é transmitido também através de Ruka, que é tão importante quanto Umi e Sora.

Além do trio principal, Children of the Sea possui um time de personagens secundários que tem sua importância, por mais que a participação deles pareça pequena. Como destaque estão Jim e Anglade, dois estudiosos marinhos e rivais, e Dede, uma pescadora misteriosa que possui um carinho especial por Umi e Sora e parece saber mais do que deixa claro.

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Para os fãs do mangá, algo que pode não agradar tanto é a diferença do desenho de Daisuke Igarashi e da animação do filme. Os traços do mangaká são únicos e por vezes não tão agradáveis aos olhos mal acostumados, mas já no filme a animação é linda e talvez perfeita demais, o que pode parecer tirar um pouco da característica da arte original. Mas isso é algo muito pequeno e é importante lembrar que cada arte tem uma forma diferente. O filme é uma adaptação do mangá e não uma cópia exata, mesmo a história estando intacta. Já o roteiro é do próprio Daisuke Igarashi e condensa muito bem a história do mangá, com exceção somente das histórias extras que estão espalhadas ao longo dos capítulos do mangá e que não interferem na história principal. Vale a pena, além de assistir ao filme, também ler o mangá para ter uma experiência ainda mais profunda desse universo lindo e misterioso. Mesmo assim, o filme por si só também é uma narrativa muito forte e completa e merece ser vista. Children of the Sea é uma experiência única, sem dúvidas, e fica no pensamento muito tempo depois do filme acabar.