O drama inglês, A Última Jornada (The Last Boy), é uma produção quase independente do cineasta Perry Bhandal, roteirista, produtor e diretor do longa, que tenta colocar a trama em um cenário pré ou pós-apocalíptico, na intenção de acompanhar a jornada de um jovem até um local místico, capaz de realizar desejos. O conceito da história é muito bom, mesmo sendo uma narrativa muito explorada, tanto por filmes, quanto por séries, além do fato de ser classificado como drama, o que nos deixa ainda mais ansiosos para ver o desenrolar da história.
Já de início, o filme apresenta cenários pós-apocalípticos lindos, com uma sonoplastia envolvente e com uma frase do famoso poeta árabe Rumi. Infelizmente para por aí, o restante da história é bastante decepcionante, a montagem e continuidade do filme não foi tão bem executada e começa aparecer várias pontas soltas que atrapalham, deixando a coerência da história bastante fragilizada.
O primeiro e principal personagem apresentado é Sira (Flynn Allen), um jovem ator que ainda tem muito a aprender. Sira aparece em um lago, pescando e ao mesmo tempo utilizando uma espécie de scanner para monitorar a área próxima ao trailer onde vive com sua mãe, (Aneta Piotrowska), tentando detectar uma entidade indefinida de eles chamam de Vento. Sua mãe está muito doente e acaba morrendo, um momento bem tenso que não foi explorado, uma vez que, não houve emoção na cena. Antes de morrer ela deixar um mapa e um scanner para que Sira encontre o lugar místico, orientando-o a sempre seguir perto de rios e lagos. Assim começa a jornada de Sira.
A entidade Vento é repelida por locais que apresentam corpos d’água ou pelo scanner utilizado por Sira, que emite uma espécie de frequência. Tudo o que vemos no trajeto são campos. Somente em uma cena é possível ver um pequeno rio, acredito que deveriam ter locações mais selecionadas e cenas explorando a fraqueza da entidade. Não se sabe ao certo o que é a entidade, sabe-se somente que ela é atraída por sons artificiais e ataca somente humanos, os transformando em uma espécie de poeira cósmica.
Outra personagem que aparece na sequência é Lily (Matilda Freeman), outra atriz mirim, e quando digo “aparece”, é porque é assim mesmo que os personagens chegam na história, simplesmente do nada, sem um motivo bom ou específico, parece simplesmente que as pessoas estão andando aleatoriamente pelo mundo. Após Sira acordar Lily, que estava dormindo no mesmo celeiro que ele, os dois se tornam parceiros e vão juntos em busca do tal lugar místico. No meio do caminho (suponho eu), eles encontram um grupo composto por um clérigo e diversas mulheres.
Este encontro não precisava nem ter ocorrido, é uma passagem perdida no meio da história que não agrega nada, simplesmente mostra um homem repulsivo que se aproveita da fragilidade de outras pessoas para tirar vantagem. Claro que é uma passagem cheia de momentos em que o “fator drama” poderia ter sido explorado ao extremo, mas isso não aconteceu, devido a falta de habilidade cênica apresentada pelos atores e pela falta de um direcionamento mais emotivo na representação da cena.
Sira e Lily continuam sua jornada, e o próximo a compôr o grupo é Jay (Luke Goss), um militar que está retornando sozinho para a casa após ter saído para atender um chamado frustrado. Logo se nota que o soldado está andando aleatoriamente também. Chegando em casa, ele descobre que sua esposa morreu, atacada pelo Vento. Outra cena que poderia ser bem dramática e que não derramam uma lágrima sequer. Jay vê Sira e Lily atravessando o campo ao lado de sua casa e resolve segui-los, em seguida Sira vê uma mulher sendo perseguida pelo Vento, e utilizando seu scanner acaba salvando-a.
A mulher era Jesse (Jennifer Elise Gould), uma professora que estava indo até a casa de um colega para encontrar um equipamento que pudesse repelir o Vento e que até o momento só escapou da morte por pura sorte. Esta sequência toda faz com que os quatro se revelem e causa um encontro meio estranho. Jesse e Jay conversam e decidem que todos deveriam seguir junto com Sira, mas antes ela precisava buscar o equipamento, claro que esta ideia não era boa e uma sucessão de erros iria acontecer, uma oportunidade boa para o filme se recuperar, mas não acontece.
As cenas que deveriam ser de tensão são frágeis demais. Até mesmo a morte de Lily não causa um apelo emocional, simplesmente gera conteúdo para o roteiro continuar. A referência cronológica também deixou a desejar, simplesmente não dá pra saber em quanto tempo se passa todos os acontecimentos, somente é possível descobrir se é dia ou noite. Finalmente, do nada, eles chegam em um campo, o tal “local místico”, que está totalmente protegido por várias entidades Vento.
O local funciona como um portal do além, onde se pode ver o que deseja, se o desejo for de coração ele se realiza. Novamente temos uma sequência de atos sem sentido e que terminam de maneira ainda mais confusa. Deixar o final como subentendido não funcionou, pois o restante da história não forneceu corpo suficiente para se sustentar. Não é possível saber se aconteceu algo que gerou os Ventos e isso está causando a aniquilação humana ou se os Ventos estão gerando algo que irá aniquilar a raça humana e nem por que existem estes locais místicos onde as pessoas podem encontrar uma redenção.
A intenção é muito boa, o roteiro oferece uma gama de possibilidades dramáticas, mas precisou de mais carinho na trilha sonora, continuidade e representação artística.