Uzumaki – Descendo a espiral da loucura.

Se você gosta de terror, que tal conhecer a obra Uzumaki? O mangá é uma das obras de horror criadas pelo mangaká Junji Ito (伊藤潤二), nascido na cidade de Gifu no Japão em 1963. O autor é considerado o mestre do horror japonês por suas obras, nas quais utiliza ele elementos sobrenaturais e grotescos, como: horror, criaturas assustadoras e detalhes que podem chocar, até mesmo causar náuseas aos seus leitores. Dentre suas obras mais famosas estão Tomie e Uzumaki (Editora Devir). Este segundo, irei abordar nesta nossa leitura.

Um outro fator de destaque para as obras de Ito é a simplicidade da origem do terror e/ou horror em suas obras. Ele começa com um elemento simples e aparentemente inofensivo, como poderemos ver em Uzumaki, porém de pouco a pouco ele faz a escala de poder desse elemento ser elevada a pontos cada vez maiores e imprevisíveis sem deixar de esquecer dos elementos os quais ele antes usou como recurso.

Junji Ito – Wikipédia, a enciclopédia livre

Junji Ito (1963).

Sinopse

Em uma cidade chamada Kurôzu, coisas bizarras e misteriosas acontecem. Uma cidade em que o vento sopra em forma em curvas e redemoinhos. As fumaças também se enrolam em toma forma assustadores que parece ou lembram uma espiral. 

Nesta cidade, acompanhamos dois estudantes, a protagonista Kirie Goshima e seu namorado Shuichi Saito. Eles presenciam acontecimentos grotescos onde corpos se contorcem, cabelos se enrolam, artesanatos parecem ganhar vida própria, dentre outros fatos de início peculiares e que se revelam sobrenaturais. Shuichi é o primeiro a notar algo estranho na cidade e tenta convencer a Kirie, a sua namorada, a fugir da cidade junto a ele para não serem afetados pelo mal que ele sente que a cidade carrega em suas diversas formas, sinais e lugares. Uzumaki (1998) é um clássico mangá de terror, sendo considerado uma das principais obras do aclamado mestre do horror, Junji Ito.

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Análise

O que dizer de uma espiral? Um elemento geométrico simples e plano que nada parece oferecer de risco. O que dizer do homem que a torna não apenas uma figura de terror mas uma verdadeira entidade que atiça o horror aos personagens da história a qual ele escreve e também ao leitor ao mesmo momento?

Em Uzumaki, obra de destaque de Junji Ito, temos esta experiência da maestria do autor com este recurso e tudo começa na história através do relato da protagonista contado sobre a sua jornada a qual logo em seu primeiro capítulo faz jus tanto ao peso do autor como mestre assim como ao título que foi dado a esta parte da obra (A Obsessão por Espirais).

Cenas do mangá “Uzumaki” de Junji Ito.

Se é possível definir Uzumaki em poucas palavras estas seriam criativo, grotesco e estranho, porém a obra se estende a explorar as múltiplas camadas do fenômeno, geometria, símbolo e entidade que é a espiral. Tudo é feito para que haja o mínimo de previsibilidade para o leitor. Além disso, ela rompe os limites de clichês presentes em outras produções culturais e inclusive em um de seus capítulos desconstruindo um clichê romântico.

Não vemos o terror e horror ser manifestado de uma única forma, dominar e agir e sim vemos a obsessão contaminar e gradativamente consumir/erodir de forma igual a mente ou corpo das vítimas da espiral contando cada uma delas com as suas respectivas consequências e formas de se desejar consumir e entregar a espiral mesmo que em inconsciente porém todas com um fim em comum, seja ele a completa conversão de seus corpos a espiral ou entregues ao fim carregados pelas suas próprias obsessões.

Mesmo para aqueles não conquistados pelas tentações e obsessões da espiral, esta tem a sua própria forma de os contaminar os convertendo a sua própria forma e os diferenciando de seus adeptos.

A espiral pode não ser uma criatura, porém ela é viva, ela é ciente, possessiva e é cruel. Ela é um verdadeiro ciclo vivo assim como são as estações. Entretanto, ela é feita e também é provedora de caos, desespero, loucura, desejo e mais. Ela não é um deus, todavia ela dobra a realidade ao seu favor e gosto. Ela praticamente é uma prisão, a qual por possíveis interpretações poderia também ser considerada uma forma de inferno onde se pode entrar mas não pode sair, que faz o ser mais abismal preso nos homens se manifestar e através dos seus desejos e objetivos como entidade fazer deles o próprio mal que tanto temem ou sequer imaginam os outros homens. Ela brinca com o tempo e manipula as pessoas a se entregarem a ela por mal ou por bem dando a aqueles que a almejam a impressão do quão bela, artística e libertadora ela é.

Cenas do mangá “Uzumaki”, de Junji Ito.

Um fato peculiar sobre as pessoas da cidade onde a história se passa é a alienação ou normalização/ visão de comum que elas têm de tantas “peculiaridades” que ocorrem na cidade diariamente e ou nela existem há tempos. Elas vão desde “fenômenos naturais” bizarros como ventos formando pequenos tornados frequentemente, um lago que “engole” as coisas, rios com formação de redemoinhos em seu fluxo e um mar que se comporta de forma estranha e tem um tom escuro, além de construções bizarras como um farol negro e casas abandonadas de séculos atrás.

Em suma, se há alguma maneira à partir da qual seja possível a espiral estar presente na vida das pessoas para mais fácil consumi-las, ela usará ou guiará as pessoas para que em seus diversos níveis de consciência estejam contidos e sejam engolidos pela grande e atrativa força que é a espiral.

Observação

Nem todos os capítulos, por efeito de cronologia, são obrigatórios porém eles somam a leitura por fazer o leitor entender as múltiplas visões de abordagem do horror pelo autor e como elas tem solução além de entender as múltiplas faces do caos, obsessão, loucura e perda da humanidade e identidade dos personagens aos quais inicialmente pensávamos conhecer.

Considerações Finais

Uzumaki é uma leitura recomendada para os fãs de horror e/ou terror psicológico porém é uma leitura que pode exigir um pouco daqueles que estão começando a se aventurar pelas obras deste gênero. 

O mangá pode ser lido por inteiro em apenas um dia e o seu final que fecha bem a história. Através da finalização podemos levantar mais de uma teoria sobre a espiral e o destino ou as decisões tomadas pelos dos personagens ao longo dos volumes.

A obra, como dito, tem múltiplas camadas e, se você se esforçar pode até encontrar alguma referência ou outra colocada propositalmente ou talvez não pelo autor, mas elas não são obrigatórias a percepção do leitor para dar sentido a história ou para se ter proveito dela. Elas servem mais  para como elemento de discussão e reflexão pós-leitura tornando assim a experiência com a obra mais longeva.

Se essa obra te interessou e você deseja apoiar o trabalho do autor e conhecê-la a fundo, a Editora Devir é a responsável no Brasil pela sua publicação desta obra. Vou deixar o link aqui para vocês darem uma olhada no catálogo do autor pelo site da editora: 

Aqui e aqui.

É isso pessoal. Se cuidem e cuidado com as espirais.