GYO: Mais uma história exorbitante de Junji Ito

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Com uma história exorbitante, e um traço que fortalece a essência necessária desse mangá, acompanhamos em GYO animais aquáticos com pernas de metal invadindo a vida terrestre. Assim, mais uma vez, Junji Ito conseguiu trazer sua essência em mais um mangá de sua horror de sua autoria. 

GYO: Ugomeku Bukimi é um mangá de terror seinen escrito e ilustrado por Junji Ito, lançado em 2001 na revista Big Comic. A história gira em torno do casal Tadashi e Kaori, que lutam para sobreviver contra uma misteriosa horda de peixes mortos-vivos com pernas de metal. As criaturas ainda possuem um odor conhecido como “fedor da morte”. O mangá ainda acompanha duas histórias bônus. No Brasil, a editora Devir publicou recentemente o mangá, compilado em um único volume. 

Junji Ito consegue então demonstrar com maestria a essência do medo e terror dos personagens ao enfrentar uma situação até excessiva, mas que, os sentimentos de terror dos personagens, conseguem contrastar muito bem com a história. 

Análise do enredo e personagens

Começamos o mangá com o casal Tadashi e Kaori em alto mar. Kaori reclama que o cheiro da maresia faz ela mal. Os dois estão passando férias em uma casa de praia. É interessante nesses primeiros momentos analisar a relação do casal, percebendo-se que os dois acabam brigando muito fácil. No entanto, Tadashi parece não querer desistir do relacionamento, pois ama a garota e tem medo que ela fique sozinha. 

Analisando o relacionamento dos dois e sobre a construção dos personagens, acabamos vivenciamos um relacionamento sombriamente humorístico. No entanto, quando as criaturas aquáticas de pernas de metal aparecem e Kaori entra em desespero, e depois o casal volta para Tóquio, temos um relacionamento entre os dois totalmente diferente. Dessa vez, são personagens mais apáticos, como cita Kimlinger (2008) em sua análise do mangá: “eles são egocêntricos e propensos a abusos verbais – mas seu relacionamento, especialmente quando entra em um território verdadeiramente bizarro, fornece a GYO um gancho emocional essencial.”

Analisando agora os personagens, temos Kaori que, muitas vezes, acaba se desesperando e a reação da personagem parece tão real, muito bem desenhada e demonstrada que, muitas vezes, parece que também estamos sentindo a carniça dos animais. Assim, o sofrimento de Kaori é muito bem demonstrado, ainda mais quando ela é infectada pela bactéria e seu corpo se transforma. O leitor sente o desespero pela garota e o ponto alto com certeza é quando ela tenta se enforcar. 

Tadashi, que é o personagem que está mais em foco no mangá, a maioria de suas cenas em desespero, são por conta da Kaori. Então, é interessante analisar que um personagem move o outro diante do conflito principal do mangá, que são os peixes violentos. 

No fim, Kaori  morre, não tendo mais corpo, acaba tendo seu fim de um jeito sombriamente triste. É um fim que nenhum relacionamento deveria sofrer, acabando de uma forma dolorosa e excedente, porém, com esse tom necessário para a obra. No entanto, o fim da obra não é de certa forma tão concreto, mas não sendo um problema. 

Analisando sobre as duas histórias extras, uma delas é “A Trágica História do Pilar Principal”, um conto mais curto que mostra um pai de uma família que fica preso sob um pilar de um casa. Ele não pode sair de lá se não a casa acaba desmoronando. Ele morre e seu corpo permanece lá para sustentar a casa. O outro conto, um pouco mais longo, chama “O Mistério da Falha de Amigara”,  onde um terremoto deixou falhas em na Montanha de Amigara, tendo formato de pessoas.  Assim, as pessoas sentem necessidade de entrar nesses buracos que tem seu formato. Esta segunda história é mais interessante e tem um final até que surpreendente. As duas histórias vem também no volume único da Devir.

A arte de Junji Ito em GYO

Como citado, a arte de Junji Ito consegue muito bem ambientar a história do mangá. Os personagens são desenhados até de uma forma simples, com reações um pouco mais de detalhes, mas que tudo consegue demonstrar os sentimentos necessários para as cenas. Os personagens, muitas vezes, possuem olhos assustados e closes em seus rostos, demonstrando as expressões de terror. O personagem que chama mais atenção com certeza é o tio de Tadashi, que acaba enlouquecendo, tendo uma feição assustadora, após tentar várias experiências com esses animais e depois com Kaori

Sobre os cenários, Ito ilustra as correntes de ar, mostrando como o “fedor da morte” penetra nos personagens. O tio de Tadashi até comenta sobre como é o cheiro desses animais, parecendo o cheiro do corpo morto de alguém que ficou dias apodrecendo. Assim, Ito busca algumas vezes desenhar formas de demônios no meio das correntes de ar, demonstrando algo como a possível morte. Já os monstros aquáticos com pernas de metal, têm uma arte mais grossa, tornando seus monstros grotescos. A arte consegue ser ainda mais perturbadora quando os humanos são infectados pelas bactérias e são postos nas pernas de metal, e consequentemente, ver Kaori nesta situação, deixa o leitor impactado. 

Para quem não conhece as obras de Junjo Ito, e tem interesse em começar a ler histórias de horror, GYO é uma boa indicação. Acompanhamos uma ótima construção dos seus personagens que, possuem uma reviravolta hedionda e sombria em suas construções e em seus relacionamentos, diante de um evento macabro e excessivo.