Análise: Pluto (vols. 1 e 2)

Saudações pessoas, como estão? De volta ao nosso pequeno quadro de análises, chegou a vez de destrinchar um dos últimos lançamentos da Panini no segmento da ficção científica, Pluto, escrito por Urasawa Naoki e baseado na obra de Tezuka Osamu (popularmente conhecido como o “Deus dos Mangás”), sendo este um mangá que estava sendo muito aguardado pelos leitores.

O mangá apresenta uma releitura mais séria de um dos arcos de Astro Boy (Tetsuwan Atom no original), mais icônico dos trabalhos de Tezuka, e que veio a se tornar a primeira série de anime do mundo. Dada esta introdução rápida, sigamos com a análise;

 

OBS: Como sempre lembro a todos que HAVERÃO SPOILERS DO MANGÁ.

 

Dados Técnicos:

  • Título: Pluto
  • Editora: Panini/Planet Mangá
  • Preço: R$ 18,90
  • Obra Original: Tezuka Osamu
  • Roteiro/Arte: Urasawa Naoki
  • Coautoria: Nagasaki Takashi
  • Supervisão: Tezuka Makoto ( Tezuka Productions)
  • Formato: 13,7 x 20 cm
  • Acabamento: Brochura com orelhas
  • Capa: Cartonada com laminação fosca
  • Número de páginas: 200
  • Papel: Offset
  • Lançado em: Dezembro de 2017

 

Sinopse

Em um mundo onde humanos e robôs coexistem, o poderoso robô Mont Blanc foi destruído. Ao mesmo tempo, um importante ativista protetor dos direitos dos robôs é assassinado. Os dois incidentes apresentam algo em comum nos locais dos crimes: chifres colocados nas cabeças das vítimas. Gesicht, um competente investigador da Europol, está prestes a enfrentar o mais tenso e complexo trabalho de sua carreira, no qual ele também é uma vítima em potencial: um dos robôs mais poderosos do mundo!

 

A obra inicia-se mostrando um grande incêndio florestal na Suíça, onde vemos o que restou do famoso guarda florestal robótico Mont Blanc. Em seguida vemos o investigador alemão Gesicht acordando de um pesadelo e tendo uma rápida conversa com sua esposa, antes de atende ao chamado da Europol para investigar o assassinato do ativista Bernard Ranke.

Chegando lá, vê-se que o local foi completamente destruído, e que Ranke estava com duas hastes presas à sua cabeça. Logo em seguida, um suspeito é visto próximo ao local, e este destruiu um robô policial. Gesicht segue em perseguição e encontra o elemento, um jovem drogado que destruiu o policial para evitar ser preso por porte de entorpecentes. Ao capturar o rapaz, descobre-se que Gesicht também é um robô e, após a prisão, em seguida ele vai até a casa do oficial destruído reportar isso para a esposa dele, que pede para que ele permita que ela mantenha suas memórias do marido.

@ Urasawa Naoki / Tezuka Osamu / Shogakukan / Panini

A investigação progride ao mostrar que a mesma pessoa que matou Ranke também matou Mont Blanc, pois ambos foram deixados com o mesmo padrão de hastes presas à cabeça. O investigador deduz que aquilo foi o trabalho de um robô, e se dispõe a capturar o responsável.

Dias depois, ele vai até o lugar onde será realizado o funeral de Mont Blanc, e vê como as pessoas tinham amor pelo guarda florestal. Ele também conversa com o Prof. Reinhart, criador do robô, que pede para que ele capture o criminoso. Depois vemos ele acordando do mesmo pesadelo, mas dessa vez no laboratório do Prof. Hoffman, que cuida de sua manutenção. Eles conversam sobre os casos em que o detetive está trabalhando, e Hoffman sugere que ele tire férias no Japão, para aliviar o stress das investigações.

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Ao sair do prédio da Europol, Gesicht vê os restos do oficial Robby sendo levados por um carro de lixo, e pega o chip de memória dele para levá-lo até sua esposa. Esta pede para que ele lhe insira o chip, para que possa manter as memórias de seu marido consigo, e ao vê-las, eles descobrem que o oficial só foi atacado por ter se distraído, vendo uma figura que ele classificou como humano pulando de um prédio para o edifício onde Ranke foi assassinado.

Após confirmar os detalhes de sua viagem de férias, o detetive vai até uma penitenciária para robôs, na Bélgica, onde ele se encontra com Brau-1589, o primeiro robô preso por homicídio na história. Ao ver as imagens dos assassinatos, Brau faz uma associação com o deus pagão Herne, devido aos “chifres” deixados após as mortes, e chega ao nome do deus romano Pluto (ou Plutão em português), dizendo que este indivíduo iria matar outros seis robôs considerados de alta tecnologia, incluindo o detetive.

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Somos levados em seguida para a Escócia, onde o compositor Paul Duncan recebe o robô North #2 como seu novo mordomo. Anteriormente uma unidade militar, North tenta se aproximar do velho músico, que o trata com certo desdém por ele não ser humano. Após alguma convivência e conversas, o mordomo pede a Duncan que o ensine a tocar piano, pois ele não deseja retornar aos campos de batalha.

Mesmo assim, o compositor se nega a reconhecer que o mordomo possa produzir música de verdade, contanto ainda sobre seu passado, falando sobre como foi abandonado pela mãe, como desenvolveu seu grande apreço pela música, e como ele foi salvo da morte por um “médico do mercado negro” (uma referência ao Dr. Hazama Kuro, de Black Jack, outra obra de Tezuka). O velho continua mandando-o ir embora, e North tem uma lembrança de quando lutou em uma guerra na Ásia. No dia seguinte, ele vai embora do castelo.

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Paul começa a sentir falta do mordomo, e quando este reaparece, lhe diz que foi até a região da Bohemia, onde o músico nasceu, para procurar sobre a música que ele murmurava em seu sono. Ele conta que a mãe do velho compositor nunca o abandonou, e canta novamente a música que eles sempre entoavam quando estavam juntos. Com isso, Duncan aceita North e começa a lhe ajudar na prática de piano, melhorando a convivência entre eles.

Dias depois, Paul termina a canção que não conseguia concluir, mas antes que pudesse mostrar ao mordomo, este sente que a mesma ameaça que destruiu Mont Blanc se aproximava do castelo, e parte para interceptá-la. O compositor escuta a canção que North entoou dias antes, e pede para que ele cante dentro de casa, percebendo triste que seu amigo foi destruído em batalha.

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O próximo passo de Gesicht foi seguir até a Turquia para encontrar o campeão de lutas profissionais Brando. O detetive acaba conhecendo a família do lutador e janta com eles, tendo uma longa conversa com Brando sobre como é a sensação de ter filhos, além de avisá-lo que ele iria ser perseguido pela pessoa que matou Mont Blanc e North #2. O campeão não demonstra preocupações e diz que irá vingar o guarda florestal, que era seu amigo próximo, dizendo também que irá ajudar Gesicht no que for preciso.

O cenário muda para o Japão, onde o jurista Tazaki Junichiro, criador das Leis Robóticas Internacionais, foi assassinado seguindo o mesmo padrão dos outros casos. Ao mesmo tempo, Gesicht se encontra com Tetswan Atom (o Astro Boy), e acaba se fascinando pela forma como o garoto robô sente e percebe o mundo a sua volta, agindo de forma praticamente humana. Além disso, ele pede a ajuda de Atom na resolução do caso, colocando-o a par da situação e prevenindo que ele pode ser mais uma vítima.

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Após isso, ele diz que ainda irá se encontrar com outros dois robôs para avisá-los do assassino, e se prepara para deixar o Japão. Atom o convida para visitá-lo novamente com sua esposa, e diz que enquanto o detetive estiver ao lado dela, ele poderá superar qualquer coisa. Novamente, o policial acaba se sentindo comovido pelas atitudes do garoto, algo que ele encara como novo em si mesmo.

Na central de polícia de Tokyo, vemos Atom auxiliar a investigação do assassinato de Tazaki. A vítima morreu por sufocamento, mas nenhum tipo de vestígio foi achado, o que faz o inspetor-chefe Tawaki acreditar que tenha sido um robô o assassino. Após examinar várias pistas, o garoto conclui que aquilo foi obra humana, para descrença do inspetor.

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Além disso, ele descobre que Tazaki tentou entrar em contato com alguém, sendo esta pessoa o Prof. Ochanomizu, guardião de Atom. O garoto vai até o cientista e diz que ele está sendo marcado como alvo pelo assassino, assim como todos os membros do Esquadrão de Investigação que atuou na 39º Conflito Centro-Asiático.

O cientista explica para Atom os pormenores que levaram ao conflito armado, ocorrido no Reino da Pérsia, e sobre seu trabalho de investigação, que infelizmente não mostrou-se conclusivo. Em seguida, somos levados para a Grécia, onde Gesicht se encontra com Heracles, campeão mundial de lutas profissionais, e eles conversam sobre o Conflito Centro-Asiático. O campeão diz que aprendeu sobre “sede de sangue” na guerra, mas que após combater lá ele passou a ter “piedade” de seus oponentes, não mais os destruindo. Isso faz ele questionar Gesicht se os robôs não estariam evoluindo.

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No Japão, Atom continua a discussão com Ochanomizu sobre o assassinato, e o professor cita o caso de Brau-1589. o garoto questiona a falta de defeitos detectada em Brau, perguntando se ele poderia chamar de “humano” um ser dito perfeito que mata outros, ao mesmo tempo em que um tipo de tornado se forma no espaço aéreo turco.

Brando é mostrado lembrando-se do conflito na Pérsia, e em seguida ele sai para enfrentar a ameaça que percebeu se aproximar. Na Grécia, Gesicht também percebe a situação e liga desesperado para Atom, e todos veem o tornado indo em direção ao lutador. Apesar de correrem para Istambul, Heracles e o detetive não chegam a tempo, e Brando é destruído pelo indivíduo, que lembra um robô com grandes chifres.

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O campeão contacta seus colegas e tenta enviar as imagens que captou do assassino, mas só consegue mandar imagens de sua família, tendo estes sido seus últimos pensamentos antes de morrer. Atom percebe um sinal enviado pelo assassino misturado aos vídeos da família de Brando, e interpreta que aquilo significa que o criminoso iria infligir uma “grande dor” aos seus alvos.

Gesicht novamente tem um pesadelo após a situação com Brando, e fala para sua esposa que eles deveriam tirar férias. Porém, ao tentar fazer a reserva da viagem, ele descobre que sua esposa tinha um registro para viajar para fora da Federação Européia, sendo que ela nunca saiu da região. Ele descobre que há registro sobre a marcação e cancelamento de uma suposta viagem ao Japão por parte deles, além de notar coisas estranhas em suas memórias de uma viagem de treino da Europol, que fizeram na mesma época, citada para a Espanha.

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Depois, ele pede a Hoffman que faça uma checagem nele, para verificar problemas em sua memória, e sugere que talvez alguém tenha mexido em seu banco de memórias e implantado fatos falsos na mesma, podendo esta ser a fonte de seus pesadelos. O cientista questiona Schelling, chefe da Europol alemã, se ele havia feito algo em Gesicht, mas ele desconversa, falando sobre os robôs de última linha que vieram a ser o motivo para a guerra na Pérsia, e dizendo que muito dinheiro tinha sido investido no detetive, o que deixa Hoffman completamente desconfiado.

Em seguida, o chefe Schelling é mostrado conversando em uma sala escura com alguém falando por um urso de pelúcia. Eles discutem sobre o plano para eliminar os sete robôs e, ao ir embora, o policial chama a pessoa de Dr. Roosevelt. Enquanto isso, Gesicht, após concluir um pequeno caso de latrocínio, relembra de sua participação na guerra da Pérsia, e decide voltar a encontrar Brau. Ao chegar lá, ele decide trocar chips de memória com o criminoso, ao mesmo tempo em que o presidente reeleito dos Estados Unidos faz seu discurso de posse, sendo possível ver o mesmo urso que apareceu junto com Schelling atrás dele.

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Ao examinar o chip do detetive, Brau diz que por trás do presidente havia uma inteligência artificial milhares de vezes mais poderosa que eles. Na costa da Turquia, Heracles descobre que os braços de Brando foram encontrados na mesma posição de chifres vista nos outros assassinatos, o que mostra que o inimigo deles ainda não foi derrotado, como se pensava. No Japão, o tornado foi visto acertando um caminhão de transporte de animais do zoológico de Tokyo, e estes cercaram um garotinho. A polícia estava para interferir na situação até que uma menina apareceu e apaziguou os animais, sendo esta identificada como Uran (irmã de Atom), e terminando aqui o volume 2 do mangá.

 

É interessante ver como Urasawa conseguiu transformar Astro Boy em algo completamente diferente em Pluto. Logo de cara vemos que a arte do mangá incorpora-se bem ao estilo narrativo apresentando, saindo do traço cartunesco de Tezuka (adequado ao estilo mais leve e aventuresco de seu mangá) para um traço arrojado e consistente, digno de uma obra mais séria e sombria.

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Ainda falando em arte, deve-se largamente elogiar este aspecto no mangá. Além de ambientes extremamente bonitos, um bom tratamento de iluminação e construções detalhadas, o grande primor está no design e expressividades dos personagens. Cada um destes possui um desenho que acompanha muito bem a personalidade que lhes foi atribuída (por exemplo, o sorriso sincero e acolhedor de Brando, ou a imutável expressão de desdém do inspetor Tawaki ao falar com ou sobre robôs), agregando imensamente não só a seu desenvolvimento, mas a sensação de apego aos mesmos.

Os personagens em si constituem-se como a grande atração da obra. Com uma psicologia refinada e vários questionamentos filosóficos, é incrível e prazeroso ver como a descoberta de novas sensações e noções afeta cada participante da estória. Seja Gesicht aprendendo um pouco mais sobre como se aproximar da humanidade, ou Duncan descobrindo uma nova amizade com North #2, a forma como eles são trabalhados influencia diretamente na qualidade e progressão da obra,  bem como ajuda na reflexão das ideias apresentadas pelo autor no enredo.

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E creio que focar nesta dualidade entre humanidade e robôs seja o diferencial de Pluto. Toda vez que o detetive se encontra com um novo personagem, vemos sua batalha interna para entender um novo sentimento que ele descobriu com estas pessoas, e que ele nunca pensou que pudesse ser demonstrado por uma máquina. Em minha percepção, esta tentativa de torná-lo próximo a um humano através desse aprendizado é o que o torna um personagem tão intrigante e atraente aos leitores.

Em termos de enredo, vemos que o mesmo apresenta múltiplas faces, mesclando a investigação policial dos assassinatos com o drama pessoal de Gesicht, que durante todo o tempo parece estar lutando com seus próprios demônios internos enquanto busca esquecê-los ao ajudar os possíveis alvos do criminoso. Aliado a uma progressão muito bem conduzida, e várias reviravoltas impressionantes, o mesmo demonstra uma solidez e qualidade pouco vistas no segmento de mangás, algo advindo da genialidade de Urasawa, que já pôde ser vista em suas obras anteriores, como Monster ou 20th Century Boys.

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Por fim, devo dizer que diferentemente das demais obras que já analisei, não irei colocar um quadro de pontos positivos e negativos aqui, pois não consegui encontrar nenhuma única falha a ser apontada em Pluto. A maestria com que o universo de Tezuka Osamu foi reconstruído me conquistou de forma absoluta (e com certeza conquistou, e conquistará, todos os que lerem o mangá), e arrisco a dizer que este tenha sido o melhor mangá que alguma vez eu já tenha lido.

Qualquer um que tenha interesse em obras policiais, dramas, ou que apenas procure uma obra com grande competência artística e de roteiro, pode ler este mangá sem qualquer medo de se decepcionar.

 

Nota final: 5.0 / 5.0

 

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Pois bem pessoas, finalizo aqui mais uma análise. Quaisquer sugestões, críticas, pedidos e ódio gratuito podem ser deixados nos comentários (elogios também). Boa leitura, e até a próxima.