O livro Horror Noire é um estudo cientifico contemporâneo sobre as últimas décadas e a forma com que os negros foram representados nos cinemas até o surgimento do movimento blaxploitation, que o tinha como finalidade a produção voltada, exclusivamente, para o público negro. Relatando, na maioria dos casos, a violência e marginalidade dos guetos, esse movimento foi de extrema importância no que diz respeito a questões como empoderamento e formação de identidade em contraponto à cultura hegemônica branca.
Estando dividido por décadas, a autora Dra. Robin R Coleman, vai, sabiamente traçando uma linha cronológica sobre o perfil de cada filme, e principalmente, abordando a forma com que os negros são retratados nesses longa-metragem, como por exemplo, a figura do negro como um vilão predador em O Nascimento de uma Nação (1915), a associação de negros à figura de macacos no filme King Kong (1933), e passando também pelos filmes do movimento blaxploitation, como o filme Coffy: Em busca de Vingança (1973), onde uma enfermeira busca vingança contra as pessoas que envolveram sua irmã no mundo das drogas.
Nos estudos abordados no livro, é possível observarmos que estes estereótipos raciais não ficavam presos apenas aos filmes de horror, ao nos explicar o surgimento da representação negra no cinema, a autora nos mostra alguns estereótipos que eram abrangentes a todos os gêneros do cinema, como por exemplo, o negro como alivio cômico, a figura do negro como empregado leal ao personagem branco (que era o protagonista), o negro como homem medroso, ou a mulher negra como promiscua, passando também pelo uso do blackface, que, ainda hoje é utilizado sob o manto de “homenagem” e/ou “fantasia de carnaval”.
O livro nos apresenta um leque bastante vasto de filmes ambientados na década de 70’ que tinham narrativas completamente negras, como o já citado Coffy: Em busca de Vingança (1973), Shaft (1971), ou o conhecidíssimo Superfly (1972) e Blacula: O Vampiro Negro (1972). A Editora acertou em cheio ao anexar no livro todas as referências bibliográficas utilizadas pela autora, tal como a vasta cinecoteca citada no livro, o que o tornou ainda mais completo.
Muito temos a falar sobre Horror Noire, ele tornou-se um dos livros mais importantes da minha estante. Ver como as pessoas negras eram (e ainda são diga-se de passagem) retratadas nos filmes é, na maioria das vezes, indigesto e revoltante, mas, é possível vermos também as mudanças nesse cenário (que a um tempo ainda perdurava estereotipado e racista), onde podemos citar aqui os filmes, Corra! (2017) e Nós (2019), ambos do diretor e roteirista Jordan Peele.
O livro nos permite refletir sobre a indústria cinematográfica, nos dando uma lição sobre opressão e estereótipos, nos permitindo um aprofundamento no assunto, gerando questionamentos e desconstrução sobre o mesmo.
“Você só precisa procurar “negro” no Dicionário Oxford da Língua Inglesa para ver a gama de associações estabelecidas no século XVI; a palavra é usada como sinônimo para, entre outras coisas, maligno, sinistro, cruel, triste etc. Ainda mais revelador, “homem negro” podia fazer referência tanto a um Preto quanto ao Diabo.” Pág.57
Horror Noire conta também com um documentário lançado pela Shudder em 2019, porém, até o presente momento, ele não foi lançado por nenhuma plataforma de streaming aqui no Brasil.