E aí leitores e leitoras, chegou o sábado, então é dia de coluna literária! Aqui é a Lanterna de Tinta e hoje eu trouxe um tema diferente para vocês. Vamos falar sobre o CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), o maior laboratório de pesquisa de partículas do mundo. Mas você deve estar perguntando por que exatamente eu quis escrever sobre… É simples, o CERN foi citado em um dos últimos livros que eu li: Anjos e Demônios, de Dan Brown. Mas, não apenas isso, eu comecei a reparar que o CERN é citado em filmes e séries e pensei “Será que as pessoas notam essa ‘referência’ e, caso notem, será que sabem o que é o CERN?”.
O Laboratório
O CERN, fundado em 1954, é um complexo localizado na Suíça. Lá moram e trabalham físicos dedicados a responder uma pergunta. Encontramos logo que entramos na página oficial do CERN a seguinte questão: qual a natureza do nosso universo?
Ao longo dos seus anos de existência muitas coisas foram feitas, inventadas e descobertas. Foi no CERN, por exemplo, que nasceu a Web. Foi onde começaram a trabalhar com foco na matéria escura e no mecanismo de bóson de Higgs, que, baseados nos possíveis resultados cada vez mais promissores, estão no caminho para desvendar algumas das perguntas que tanto movem o trabalho de muitos e a vida de todos.
Mas o grande orgulho do CERN, ou ao menos aquilo pelo qual ele é mais conhecido, é o Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider – LHC). Até hoje o maior de qual a existência conhecemos, com 27 km de circunferência. Consiste em um anel de ímãs supercondutores, com várias estruturas de aceleração, para aumentar a energia das partículas ao longo do caminho. Construído na fronteira entre a Suíça e a França, a mais de 100 metros de profundidade; ele é, como citado na série The Big Bang Theory, “a Meca dos físicos”. Além do LHC, existem outros aceleradores de partículas no CERN, porém menores.
Na Ficção
Possivelmente, como um bom nerd, você já deve ter ouvido falar de alguma dessas coisas. Por exemplo, em The Flash (a série sobre o herói da DC, distribuída pela Warner Bros. Entertainment.), no início da primeira temporada, uma explosão no acelerador de partículas dos laboratórios S.T.A.R. foi o que deu início a uma série de estranhos acontecimentos consequenciais em Central City. Ainda com a DC, temos o herói Sideways, que, como uma de suas habilidades, cria barreiras de matéria escura. Em Star Trek (série sobre uma tripulação que explora mundos, distribuída pela NBS), usam a antimatéria para impulsionar a Enterprise.
Em Anjos e Demônios nós somos apresentados ao CERN, ao acelerador de partículas e a matéria escura, a conhecida antimatéria. Sem entrar em muitos detalhes, pois falaremos mais para frente sobre a trama (em outra coluna), o laboratório vira cenário de um crime e Robert Langdon, o famoso professor de simbologia de Harvard, é chamado às pressas para comparecer ao local. Que ligação tudo isso tem é a questão.
Como vimos nesses poucos exemplos, os avanços científicos estão sempre presentes no mundo do entretenimento. Isto faz com que muitos curiosos se interessem mais por temas abordados nos mundos ficcionais, porém com ligações claras com o desenvolvimento atual. Sem levar em conta quando é a criatividade de um criador de histórias que passa na frente da ciência e molda em seus contos uma tecnologia que um dia poderá existir.
A Antimatéria
Em 1928, Paul Dirac escreveu uma equação que combinava teoria quântica e relatividade especial para descrever o comportamento de um elétron se movendo a uma velocidade relativística. Em outras palavras, a equação de Dirac poderia ter duas soluções, uma para um elétron com energia positiva e outro para um elétron com energia negativa, ou seja, para cada partícula existe uma antipartícula correspondente, exatamente igual à partícula, mas com carga oposta.
A ideia abriu a possibilidade de galáxias e universos inteiros feitos de antimatéria. Mas quando a matéria e a antimatéria entram em contato, elas se aniquilam – desaparecendo em um flash de energia. O processo de aniquilação de matéria e antimatéria gera uma quantidade brutal de energia. Este processo produz energia sem deixar resíduos, portanto é uma reação limpa.
No CERN, os físicos produzem antimatéria, em quantidades ínfimas, para estudar em experimentos. Para responder às perguntas, como: O Big Bang deveria ter criado quantidades iguais de matéria e antimatéria, então por que há muito mais matéria do que antimatéria no universo?
O Large Hadron Collider (LHC)
Começou a funcionar em 10 de setembro de 2008 e continua sendo a mais recente adição ao complexo de aceleradores do CERN. Dentro do acelerador, primeiramente, dois feixes de partículas de alta energia viajam (em direções opostas em tubos separados – dois tubos mantidos em ultra vácuo) perto da velocidade da luz. Depois eles são guiados ao redor do anel do acelerador por um forte campo magnético mantido por eletroímãs supercondutores. Que direcionam eficientemente a eletricidade sem resistência ou perda de energia. Graças a isso, é requerido o resfriamento dos ímãs a –271,3 ° C (uma temperatura mais baixa que o espaço sideral). Por esse motivo, grande parte do acelerador está conectado a um sistema de distribuição de hélio líquido, que resfria os ímãs.
Imediatamente antes da colisão, outro tipo de ímã é usado para “apertar” as partículas mais próximas, aumentando as chances de colisões. As partículas são tão pequenas que a tarefa de fazê-las colidir é como disparar duas agulhas a 10 quilômetros de distância com tanta precisão que elas se encontram no meio do caminho.
O Brasil Quer Genebra
O CERN atualmente funciona com 23 países sendo parte oficial do laboratório, e o Brasil não é um deles. Mas os pesquisadores brasileiros já utilizam vários dos recursos disponíveis no CERN. Porém ocorre que, neste caso, a participação é a título de colaboração.
O professor Jun Takahashi, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp esteve no CERN, neste ano de 2019. Ele deu um exemplo hipotético de como Brasil poderia se beneficiar ao fazer parte da lista de países membros. Ele lembra que o nosso país detém a maior reserva mundial de nióbio. O caso é que esse é o metal utilizado na produção de imãs supercondutores, como os do acelerador LHC. “Se uma empresa nacional se interessasse em desenvolver uma nova geração de imãs supercondutores, ela poderia se valer tanto do ferramental quanto do conhecimento compartilhado proporcionado pelo CERN”, explica.
Ainda não se sabe se essa parceria será firmada. Ou se as perguntas avidamente buscadas serão respondidas. Mas espero que vocês tenham entendido um pouco sobre esse lugar incrível e um pouco do que acontece por lá. Para você que quer acompanhar posts literários, siga o Instagram @lanterna_de_tinta. Gostou do texto, tem alguma dúvida ou crítica? Deixe um comentário. Você também pode ler nossa última coluna clicando AQUI, onde falamos sobre 5 das bibliotecas mais surreais do mundo. Boa semana, boa leitura e até a próxima.