Já que estamos no mês de outubro, vou indicar um título que faz jus (ou não) a temática do mês. Dementia 21, traz ao leitor a mistura de extrema bizarrice e humor ao mesmo tempo, sem perder o foco sobre as principais questões abordadas ao longo dos capítulos.
SOBRE O MANGÁ
Escrito e ilustrado por Shintaro Kago, famoso pelas obras do gênero ero guro nansensu, ou seja, combinação de humor, o grotesco e o nonsense para falar de forma ácida da sociedade japonesa e de suas normas e tabus. O material impresso no Japão conta com 7 volumes de poucas páginas. No Brasil, por sua vez, foi baseado no formato americano em um único volume trazido pela editora Todavia.
Dementia 21, conta sobre perrengues vividos por Yukie Sakai, uma jovem cuidadora de idosos. O que por um momento parece ser um trabalho simples, instantaneamente Yukie se depara numa situação completamente desafiadora onde precisa colocar à prova todo seu comprometimento e dedicação ao trabalho a fim de conquistar a maior pontuação pelo serviço prestado.
ERA MESMO PARA RIR ?
A obra bate forte sobre as condições exploratórias no trabalho de modo geral. Tudo inicia quando Yukie se destaca dentre as colegas de profissão e uma das veteranas, aquela tem relações extraconjugais com o chefe. Inconformada, ela ameaça o amante para que reverta a situação e, finalmente, ela ganhe os louros da vitória.
Parece até mesmo roteiro de novela, mas não é um cenário exclusivo da sociedade japonesa. Muito pelo contrário, isso acontece tanto aqui quanto em qualquer outra parte do mundo. Infelizmente, o “trabalho em equipe”, na maioria dos casos, se torna maquiagem para ditar que a empresa valorize pelas condições de saúde física e mental do funcionário. Sendo que a realidade, muitas vezes pode ser completamente o oposto.
Yukie representa tudo isso e mais um pouco onde cada tarefa é uma emboscada. Por exemplo, quem iria imaginar que uma senhorinha, que fica o dia inteiro deitada, era responsável pela morte dos antigos cuidadores? Ou que teria que cuidar sozinha de vários idosos ao mesmo tempo, a ponto de não ter mais espaço no cômodo e tendo que saciar todas suas necessidades como dar comida, água, fazer massagem só para manter a reputação no trabalho?
Além disso, Kago também aponta sobre a solidão e abandono dos idosos, que tornou-se recorrente no Japão. Uma dura crítica ao modo como são tratados os mais velhos, e a errônea ideia de que eles atrapalham as famílias. Inuyashiki Ichirou diga-se de passagem, ignorado por eles dentro da própria casa .
Apenas de tudo, existem cenas que merecem destaque. Imaginem a seguinte situação: qual seria a conversa entre dois arqui-inimigos após o reencontro depois de 30 anos?
Isso :
Ou então isso :
LER OU NÃO LER?
Dementia 21, de longe, é um tipo de mangá que agrada todos os públicos. Por ter um humor escrachado, tem quem drop logo nos primeiros capítulos. Mas a verdade é que por trás do exagero, existe a reflexão sobre as questões dos idosos, o excesso de trabalho desgastante para provar o seu papel na sociedade etc.
Então por esses motivos, vale a pena dar uma chance. Até mesmo pra quem não está acostumado com o gênero.