Desde o surgimento dos vídeo games, existiam jogos que eram praticamente impossíveis de serem terminados. Muitos desses jogos mantém até hoje a sua fama de intermináveis em uma única jogada. Os mais velhos se lembram que os arcades de Metal Slug eram mais difíceis que suas versões de console.
Dificuldade universal?
Eu gostaria de propor nessa coluna uma discussão sobre os motivos que fazem os jogos mais árduos fazerem tanto sucesso.
É claro que dificuldade é um termo muito subjetivo. Certas pessoas possuem dificuldades com tarefas motoras, outras com resolução de puzzles porém, existem alguns jogos que são consenso em relação a dificuldade.
Jogos difíceis: As dificuldades de antes
Temos como consenso que as versões Arcade eram propositalmente mais difíceis que as versões de console. Os arcades eram como jogos coletivos onde muitas vezes acumulavam filas de jogadores em determinada máquina. Acredito que aumentar o nível de dificuldade era uma das soluções para que houvesse uma rotatividade maior dos jogadores, diminuindo as filas, e claro lucrando mais com fichas.
Com a popularização dos consoles, os jogos mais difíceis também foram se popularizando, como o Battletoads, Ghosts‘nGobblins, AlexKid e afins. Muitas vezes os jogos eram alugados nas locadoras na esperança de conseguir terminar na frente dos seus amigos, ou até chamá-los em casa para dividirem o controle.
Atualmente também temos esses consensos no quesito dificuldade, entre eles temos Sekiro, Dark Souls, Bloodborne, Cuphead e outros.
Frustração
Mas por que fazem tanto sucesso? Acredito que isso se dá devido a um mix de fatores. Quando paramos nossa rotina para consumir algum tipo de arte e/ou entretenimento queremos uma recompensa imediata por isso, seja se entreter, adquirir algum conhecimento ou ver uma boa história.
A dificuldade para passar de certos obstáculos funcionam como um gatilho em duas etapas. Primeiro que não conseguir passar mexe com o ego e gera uma sensação de frustração. Nos fliperamas ainda era agravado pelo fato de estar literalmente perdendo dinheiro em cada ficha perdida, na época em que os jogos eram alugados também tínhamos essa sensação, muitas vezes tendo que entregar o jogo sem ter terminado e só podendo jogar de novo na outra semana.
A segunda etapa pode ser de duas formas: Desistir do jogo, que muitas vezes ficará marcado na sua memória quando for conversar sobre isso, ou ir tentando até passar, desenvolvendo estratégias, aprendendo padrões e tudo mais.
Jogos difíceis: Recompensa imediata
Passando e terminando o game, conseguimos uma satisfação imediata, pode vir como um troféu, um nome no score de pontuação ou simplesmente satisfação pessoal de cumprir o desafio.
Esses sentimentos ficam em nossa memória por mais tempo, seja devido ao esforço, ao número de vezes que foi jogado até completar, ou a frustração de desistir.
E mesmo com o passar do tempo que o entretenimento foi lançado, ainda nos relembramos deles sempre que o assunto for trazido de volta à tona.
Há aqueles que gostam de jogar para passar o tempo e relaxar, que se frustram muito rápido com a jogatina quando consegue a recompensa. Existem muitas formas de evitar que isso aconteça, desde a possibilidade de aumentar ou diminuir a dificuldade, nivelar os inimigos com base no desempenho do jogador, ou a possibilidade de deixar o personagem mais forte.
Alguns jogos não deixam o jogador escolher a dificuldade que querem jogar, criando-se o mito de ser extremamente difícil ou impossível de se terminar, aumentando ainda mais a satisfação pessoal imediata ao terminá-lo.
Poderíamos fazer um paralelo com os cassinos e jogos de azar, gachas, e como o gatilho de frustração e recompensa funcionam no cérebro, mas eu não quero correr o risco de falar alguma bobagem e ser injusto ou me alongar demais no tema.
Gostaria de agradecer a todos que leram até aqui, e também pedir a opinião de vocês o que será que fazem os jogos difíceis fazerem tanto sucesso?