Of Bird and Cage: Álbum ou jogo experimental?

Gitta sentada no bar, triste

A palavra em Of Bird and Cage é experiência. Só vou deixar isso aqui. Podemos resumi-lo como um concerto em um álbum, traduzido em um jogo interativo de 2 horas. Sim, é isso aí. Pura experiência.

No álbum/game nós acompanhamos Gitta, uma que só queria fazer sua música. Porém, ela carrega consigo profundos traumas e um vício em drogas que mantém sua mente nos trilhos – ou muito pelo contrário. Nossa historia com a jovem começa com o ápice de seus problemas: seu sequestro.

Gitta no chão, em Of Bird and Cage, com as mãos amarradas por seu sequestrador

Pausa para o reforço de sempre: aqui é um ambiente sem spoilers. O que você vai encontrar é o que vemos nas sinopses, um pouco da minha experiência e opiniões sobre a mecânica do game, mas a história eu deixo para você descobrir tudo por conta própria. Especialmente por ser tratar de um game narrativo.

Prepare seu fone e vamos lá!

Of Bird and Cage: o que vem primeiro, o game ou a música?

Primeiramente, o jogo é a experiência interativa do álbum. Um foi criado para o outro. O concerto conceitual de metal sinfônico, inspirado na história de A Bela e a Fera, conta com a performance de grandes nomes da música (como Ron “Bumblefoot” Thal, ex-Guns N’ Roses, Rob van der Loo (Epica), Ruud Jolie Within Temptation e Danny Worsnop, de Asking Alexandria). É a alma do jogo e dita experiência, sensação e dinâmica.

Além de chamar atenção de fãs do metal, acredito que a ideia seja ampliar os horizontes. A proposta, para a era interativa que vivemos, é levar a música e a personificação de sua emoção a um público novo.

Os gráficos também fazem parte da experiência e são bem ricos em alguns momentos, especialmente ao externar os pensamentos da personagem. Porém, pode deixar a desejar em certos momentos, particularmente na fluidez de movimentos e em alguns efeitos da mente perturbada de Gitta. Nada que interfira grandiosamente na experiência, ao meu ver.

Um álbum jogável

Apesar de ser um jogo narrativo, é mais interativo do que eu imaginava. Enquanto exploramos e investigamos ambientes, o tempo todo surgem objetivos e missões secundárias a cumprir, diálogos e decisões a tomar. Porém, um problema: todo momento possui uma janela de tempo para você agir. Basicamente, a duração das canções define o tempo que você tem para explorar e resolver problemas. Até porque o mundo não para porque você quer analisar todo o ambiente de um cenário, né?

Jogo oferece duas alternativas de ação para Gitta em relação ao seu traficante: flertar ou rejeitar

E se você não conseguir cumprir nenhum dos objetivos, o jogo só lamenta e segue a história. Para alguns isso pode ser irritante, mas eu achei provocativo e desafiador – especialmente aliada ao frenesi das músicas. O que teria acontecido se eu conseguisse completar todos os desafios? Havia algo que eu poderia ter feito para evitar essa situação? Acredito que um sistema de checkpoint mais flexível, podendo retornar com maior facilidade aos ambientes de interação, tornaria a experiência ainda mais atrativa. Apesar de quebrar a fluidez da narrativa, agradaria mais os players.

Eu particularmente não me lembro de um jogo que tenha me envolvido tanto com a música. O game é forte em fazer o jogador sentir. Pautado em memórias e em pesadelos vivos que se misturam, as letras e melodias traduzem o interior dos personagens – há momentos que se assemelham aos musicais, em que personagens interpretam as canções. É fácil se perceber sentimental ou ansioso ao desconectar, ainda envolto na história.

Personagens cantam uma das músicas principais, divididos por uma parede

Experiência

A sensação em Of Bird of a Cage é a de um filme de suspense, quando as coisas começam a ficar tensas e entra uma trilha sonora que torna tudo ainda mais emocionante. Só que no game a ação depende de você. Como você reagiria? Tentando escapar de um ambiente escuro, sozinha, sua ansiedade crescendo com os minutos (personificada pela música), sabendo que a qualquer momento pode ouvir o som de um carro do lado de fora? Em que beco virar para escapar? E se não tiver saída?

Cenário externo do bar de Of Bird and Cage, indicando o pensamento que Gitta teve de correr

Assim como um filme – e como qualquer coisa na vida -, a experiência é algo pessoal e pode ser que você não curta a proposta. Porém, é inegável que Of Bird and Cage é um jogo diferenciado e vale a imersão: seja para conhecer novas canções, embarcar na história ou apenas experimentar uma nova proposta de interatividade.

Para mim, ficou o gosto por um álbum fora da minha bolha musical e a vontade de mais jogos experimentais.