Como sabemos, jogos nos proporcionam entretenimento, mas também são capazes de gerar debater sobre questões sociais, e por isso hoje quero lhes apresentar a One night hot springs, uma visual novel sobre uma moça que só quer passar um tempo com as amigas, mas esse simples rolê pode se tornar um desafio, e não deveria.
Não estou acompanhando o BBB avidamente, mas acabei vendo vários VTs de participantes desrespeitando a identidade da participante Lina, que é travesti e usa pronomes ela/dela. É assustador ver como ignoram facilmente um pronome que está literalmente tatuado na testa, também assusta ler todos os comentários concordando com o desrespeito a identidade de vários grupos.
O que é One night hot springs?
One Night Hot Springs é uma visual novel, lançada em agosto de 2018, ela inicia a trilogia “A Year of Springs”. Desenvolvido e distribuído pela NPCKC, o jogo está disponível para Pc custando R$6,49 e mobile para Android gratuitamente. O jogo possui mais ou menos meia hora, e possui 7 finais
Aqui você estará na pele de Haru, uma garota japonesa, sua amiga Manami está completando 20 anos, e decide comemorar a data com suas melhores amigas em uma fonte termal. Haru quer muito passar um tempo com suas amigas, mas não está totalmente confortável com a experiência, por ser trans, a moça teme passar por situações constrangedoras.
Estude, escute, conheça e divulgue
Antes de começar a review, é importante ressaltar que não é jogando uma visual novel de meia hora que você irá se educar totalmente e compreender todas as questões que pessoas trans e travestis (são identidades de gênero diferentes!) enfrentam diariamente, e so você também for cisgênero, entenda que nunca sentirá na pele essas questões. A historia Haru é apenas um pequeno exemplo.
Faça sua pesquisa, leia livros, assista documentários, busque informações por conta própria. Entenda que as pessoas não vivem e prol da sua desconstrução e que você deve ser o responsável por seu aprendizado. E é claro, amplifique a voz da comunidade, siga criadores de conteúdo, streamers, influencers, etc. Como a própria Lina (@Linndaquebrada), Ana Flor (@TdeTravesti), Rebecca Gaia (@Rbcgaia), Cais Niara (@caisniara), Carmen Mawu Lima (@CarmenMawu), Ayana Flora (@Florababylon), Erika Hilton (@ErikaHilton), Alina (@AlinaDurso), Sabrinoca (@Sabrinocao), Travety Glamour (TravetyGlamour), etc. Há criadores incríveis por ai, tenho certeza que você encontrará alguém nos nichos que gosta de acompanhar.
Nas fontes termais
No jogo você vai guiando Haru em sua noite com amigas, e é mostrado um pinguinho da experiência de uma pessoa trans no Japão. O jogo tenta abordar o assunto de forma leve mas direta (documentos desatualizados, dead name e disforia são abordadas no jogo, e podem ser gatilho então fica o alerta!). O jogo não tem uma história super longa e complexa, até porque esse não é seu objetivo. O objetivo aqui é ver como um rolê simples com amigas pode acabar causando uma ansiedade enorme e situações desconfortáveis simplesmente por uma pessoa ser quem ela é, e como ninguém deveria passar por esse tipo de situação. é angustiante ver ela se privando de tanto, mas ao mesmo tempo, seus medos são compreensíveis.
E como roda?
A jogabilidade é simples, por meio de diálogos e escolhas você rapidamente chegará a um dos 7 finais possíveis, sendo muito fácil conseguir completar todo o jogo em um único dia. E você vai ficar curioso com os outros finais, é difícil jogar uma única run e deixar pra lá. A interface é fácil de entender, joguei em inglês mas há versão em português.
Os gráficos são uma gracinha, o estilo fofo se mantém no design de personagens, backgrounds e cores. As músicas também acompanham o design leve, agradável e fofinho.
O veredito – One night hot springs
One Night Hot Springs fornece uma oportunidade de identificação e conforto para pessoas que vivem essa realidade, e é uma oportunidade para pessoas cis refletirem enquanto jogam uma visual novel rápida e com várias possibilidades. Lembre-se sempre que não cabe a você decidir quem o outro é, a existência do outro não é sobre você e sua visão, cabe a você respeita-lo/la/le. E como a própria novel diz “Perguntar por um nome que alguém não está usando agora, é como negar quem eles são agora”.