Hades tem chamado uma boa atenção desde seu lançamento em setembro de 2020. Com oficialmente poucos meses de vida (além do acesso antecipado), já conquistou uma sólida fan base altamente engajada e que produz um conteúdo cativante até para quem é de fora. Foi assim que conheci o game e agora estou me aventurando no Submundo.
Após vencer o BAFTA Game Awards nas categorias Melhor Jogo, Game Design e Narrativa em cima de games consagrados como The Last of Us 2 e Animal Crossing, o hype sobre a produção da Supergiant Games ficou ainda mais intenso.
Mas, afinal, sobre o que é o jogo? Qual o estilo? Será que Hades é para você?
O toque de Midas
Antes de tudo: os gráficos são simplesmente lindos. Rica em detalhes e cores (mesmo se tratando do Mundo Inferior), a estética cativa e convida o player a explorar os ambientes com boa vontade. Assim como as animações, bem trabalhadas e que contribuem para o ar divertido do game.
Igualmente, a dublagem é marcante, bem atuada, agradável e casa bem com o espírito dos personagens. A trilha sonora é muito bem pensada para cada situação e tom, transitando em momentos-chave e garantindo o impacto desejado.
Valer dizer que, para os gregos, Hades também era um sinônimo para o próprio Submundo. O nome do game não poderia ser melhor para amarrar o conceito da narrativa.
A narrativa
No RPG, acompanhamos a trajetória de Zagreu, filho de Hades, em sua implacável tentativa de sair do Submundo. O problema é que escapar do reino de seu pai parece impossível.
O Submundo é formado por diversos aposentos interligados, agrupados em diferentes seções, que mudam constantemente, idealizados para garantir a permanência dos mortos até o fim dos tempos. Portanto, o papel do jogador é aprimorar Zagreu para sua tarefa hercúlea – jornada que envolve MUITAS mortes, indispensáveis para a progressão do herói.
Claro que o deus Hades encara com cinismo as tentativas de Zagreu deixar seu lar – não somente por seu filho renegar o posto de príncipe do Submundo, mas também pela aparente impossibilidade de sucesso.
No Mundo Inferior, Zagreu conta com a ajuda de seu treinador, o herói Aquiles, e da deusa Nyx, a noite. É através de Nyx que Zagreu conquista a atenção dos olimpianos: através de Atena, os outros deuses descobrem o jovem e passam a zelar por sua causa, auxiliando da melhor maneira que lhes é possível.
Zagreu é determinado, sarcástico e seu humor ácido é aplicado ao brincar com sua tarefa quase impossível. Suas reações às falas do narrador que, teoricamente, são destinadas apenas ao player, são uma boa sacada cômica.
Além do nome, todo o jogo é envolvido na mitologia grega. Desde a narrativa às habilidades e todo o resto. As armas disponíveis são as consagradas pelos deuses na batalha contra os Titãs. Zagreu interage com divindades ctônicas – habitantes do Submundo – em seu dia a dia e encontra famosos habitantes do Submundo em sua jornada, como Sísifo, o condenado a rolar uma enorme pedra pela eternidade.
O game
Acima de tudo, Hades é um RPG em estilo de dungeons, em que as tentativas de fuga (quase sempre frustradas) trazem recompensas. É categorizado como “roguelike” e segue o conceito de “morte eterna” – ou seja, não tem contador de vida. Morreu, morreu, volte para o começo e tente tudo de novo.
Toda tentativa de escapar é única, com salas e oponentes diferentes, o que evita a sensação de repetição – com exceção de alguns bosses. Também pode-se escolher diferentes armamentos e um item auxiliar antes de começar uma nova tentativa, o que muda bastante o estilo de jogo.
As recompensas encontradas nos caminhos de Zagreu são para diferentes aplicações – afinal, o príncipe tem muito a fazer. Enquanto deve melhorar suas habilidades e constituição mirando sua fuga, ele ainda se importa com a casa que sempre conheceu. Alguns dos itens são destinados a reformas do Palácio de Hades e acréscimos nas áreas do Submundo que beneficiam o player. Além disso, há um sistema de side quests que enriquecem a história e podem trazer bônus a Zagreu.
A escolha faz a força
Além do aprimoramento do personagem, algo essencial para progredir nas dungeons é a escolha. A todo momento o player é obrigado a escolher um caminho ou outro, cada um com recompensas diferentes.
Ao longo das dungeons, Zagreu pode receber mensagens dos olimpianos, que sempre envolvem três opções de ajuda divina. Cabe ao player fazer as escolhas mais corretas que levem o herói cada vez mais longe em sua tentativa ou que arrecade o máximo possível de itens.
Cada vez que o player cai em batalha, Zagreu desperta dentro do castelo de seu pai, levado pelo rio por onde correm as almas dos mortos. Hades sempre terá um comentário desencorajador ao ver seu filho retornar, mais uma vez, morto.
Por outro lado, outro sistema de escolha essencial é o de relacionamento com os personagens. Zagreu pode presentear os NPC’s com néctar encontrado em suas incursões, o que aumenta a sua relação com cada um deles e lhe dá retorno em forma de itens exclusivos.
Você aceita a mensagem de Hades?
Eu consegui ir bem longe nessa jornada. Achei que tinha concluído o objetivo e era isso, fim. Mas Hades ama surpreender. A narrativa arruma maneiras de te manter curioso dentro do jogo e fazer de tudo para continuar ajudando Zagreu.
Portanto, se você curte um RPG bonito, com um sistema bem estruturado, estratégico e com pancadaria, pode ser que Hades te conquiste como me conquistou. Lembre-se de analisar suas escolhas e intercalar seu estilo entre ser agressivo e cauteloso em batalha. Teste todas as armas e descubra qual te agrada mais – até aqui, me adaptei melhor ao escudo Aegis.
Se você decidir jogar, saiba que a maior sensação é a ansiedade em descobrir se um dia você e Zagreu sairão do Hades. Uma coisa é certa: vocês irão tentar. Muitas, muitas vezes.
Hades está disponível para PC e Nintendo Switch.