Digimon é uma franquia que dispensa apresentações. Criada por Akiyoshi Hongo em 1997, a franquia da Bandai Namco surgiu primeiramente como uma série de Virtual Pets, bichinhos virtuais similares aos Tamagotchi, também da Bandai Namco, sendo o seu trabalho o de cuidar da vida e saúde de seu parceiro eletrônico, mas, diferente de Tamagotchi, no Virtual Pet Digimon era possível fazer seu parceiro evoluir para diversas formas, desde um bebê até o seu estágio máximo de crescimento, com diversas variações de tipos e espécies, e além era possível lutar contra o parceiro de outras pessoas que possuíam o aparelho, fazendo com que não só você tenha que cuidar da saúde do seu amigo digital, mas também treiná-lo para ficar forte e poderoso o bastante para derrotar qualquer outro Digimon que o possa desafiar.
A partir daí, com o enorme sucesso dos Virtual Pets de Digimon, a franquia explodiu, gerando mangás, card games, brinquedos, figures e animes, sendo os animes de Digimon os que são mais conhecidos e adorados por aqui no Brasil. Mas a franquia também gerou vários Games que foram lançados em diversas plataformas ao decorrer dos anos, porém, com a baixa popularidade e interesse da série, a franquia acabou não exportando uma parcela de seus jogos com o tempo, os tornando exclusivos do japão, porém, essa triste tradição mudou, com a chegada de Digimon Story Cyber Sleuth.
Digimon Story Cyber Sleuth foi produzido pela Media Vision, que por mais que o nome não seja muito familiar para muitos, foi responsável pela produção de títulos e séries aclamadas, como a série de jogos Wild Arms, Valkyria Revolution, e o jogo Shining Resonance Refrain.
Já sobre a sua publicação, o jogo foi publicado em 2015 pela Bandai Namco, que sempre foi responsável pela publicação de jogos (e quase tudo) de Digimon, e que mais uma vez, dispensa apresentações, sendo famosa no mundo inteiro pela publicação de diversos jogos e franquias, como a série Tekken, a série Tales, etc. Mas vamos ao assunto principal, Digimon Story Cyber Sleuth.
NARRATIVA
Digimon Story Cyber Sleuth conta mais uma narrativa focada nos monstros digitais e o seu mundo, mas a história de fato começa quando um grupo de jovens, que até então ainda não se conheciam muito, se encontram em uma sala de chat do EDEN, um mundo virtual no qual você pode se comunicar e interagir com diversos usuários que estão logados na rede. Na sala de chat, aparece um estranho usuário chamado de “Mr.Navit”, suposto mascote do EDEN, que os intimam a aceitar um presente seu, e que caso o contrário aconteça, eles seriam hackeados. Ao você e alguns membros do grupo aceitaram o convite, é possível escolher o gênero de seu personagem, sendo possível escolher entre feminino ou masculino, caso escolhe masculino, o nome sugerido é “Takumi”, e caso seja feminino, o nome sugerido é “Ami”, mas você tem total liberdade de mudar esse nome.
Ao chegarem no ponto de encontro do convite, coisas estranhas começam a acontecer, como um estranho usuário que lembra um fantasma aparecendo e ajudando o/a protagonista, e principalmente, uma criatura monstruosa e perigosa surgindo e atacando os usuários, deixando-os em coma. Contudo, ao ser atacado/a pela criatura, algo estranho acontece, ao invés de estar em um estado de coma, o/a protagonista volta para o mundo real, mas com uma aparência totalmente desfigurada e com a habilidade de poder se conectar e transitar livremente entre o mundo real e o virtual.
A partir daí, o/a protagonista é resgatado/a pela Kyoko, uma detetive de casos digitais e sobrenaturais, dona da sua própria agência, e ao ter conhecimento da sua situação, passa a te ajudar, mas em troca, é necessário ajudar ela a resolver diversos casos entre o mundo real e o mundo virtual, e que consequentemente, vão acabar ajudando a resolver os diversos mistérios da história.
Em suma, esse é o começo da história, que é dividida em capítulos, mas ao decorrer dela, você terá que passar por diversos personagens, enfrentar vários inimigos e Digimons, resolver diversos casos, e principalmente, entender todos esses mistérios intrigantes que estão acontecendo no mundo digital e impactando o mundo real, como a presença ampla de Digimons pela rede afora.
JOGABILIDADE
Para progredir a história, você terá que passar por diversos capítulos e missões da agência da detetive, e para conseguir passar por elas, você precisará criar, escanear, cuidar e treinar diversos Digimons, com a ajuda da Mei, uma misteriosa personagem que o guia em sua jornada, com o apoio de seu laboratório. Cada Digimon tem suas habilidades, elementos e tipos, além de que há uma quantidade enorme de diferentes Digimons para obter, logo, ter um time diverso e bem preparado é fundamental para passar pelos desafios.
Ao entrar em batalhas, você poderá ter até 3 Digimons em combate, sendo que é possível ter mais 8 com você, mas para colocá-los em batalha, é necessário que os 3 primeiros percam a batalha, ou que você troque individualmente, mas isso custará 1 turno.
Mas não só de batalhas vive o seu detetive, para resolver os casos, terá que fazer que fazer aquilo que é típico de um RPG, ou seja, explorar o cenário, encontrar objetos, e falar com diversos NPCs, mas Digimon Story Cyber Sleuth apresenta uma mecânica um pouco diferente.
O protagonista, devido a suas novas habilidades consegue transitar quase que livremente entre o EDEN e o mundo real, realizando um fenômeno chamado “Connection Jump”.
Ao fazer isso, você terá que transitar frequentemente entre os dois mundos para poder concluir as missões, seja entrando em um ar condicionado para checar se não tem um Digimon que esteja destruindo o aparelho, ajudar um Digimon a fugir de um Hacker perigoso, encontrar algum servidor específico, de fato, a várias e diversas missões, dos mais diferentes tipos de clientes e objetivos.
Bom, mas queria já deixar claro um detalhe aqui, por mais que Digimon Story Cyber Sleuth tenha sim suas mecânicas únicas e diferentes, elas não variam muito de bons RPGs no mercado, ou seja, elas não são complexas e você não precisa se preocupar muito para entender elas, se você já jogou qualquer RPG, você vai entender como progredir sem muitas dificuldades.
TRILHA SONORA E DUBLAGEM
A trilha sonora do jogo é bem voltada para o eletrônico e o instrumental, com apenas algumas poucas faixas que são mais diferentes e tocam em outros gêneros musicais, como Rock, Clássica, Pop, e até mesmo Jazz, que são tocadas em momentos específicos da história ou em eventos especiais.
Já sobre a dublagem, só existe uma opção de dublagem, e ela é inteira em japonês, com um elenco quase que inteiro formado por vários dubladores que possuem experiência na dublagem de Animes. Um detalhe interessante da dublagem também é que Digimons mais conhecidos e famosos, como o Agumon e o Gabumon por exemplo, são dublados pelos mesmos dubladores que dão as suas vozes em suas diversas na franquia desde Digimon Adventure.
VISUAL
O visual e a aparência de Digimon Story Cyber Sleuth no geral é bonita e colorida. Os modelos, principalmente dos Digimons são bem feitos e até mesmo detalhados, sendo várias das suas diversas características corporais bem representadas aqui, cada um deles contém uma animação de movimento e comportamento próprios, já os personagens principais, o responsável pelo visual deles foi Suzuhito Yasuda um artista e ilustrador renomado, conhecido pela participação de sua arte em diversas light novels e jogos, como Durarara e Shin Megami Tensei: Devil Survivor, e sinceramente, eu gosto da arte dele aqui, ela é diferente o bastante para se destacar e ser única, principalmente para o estilo artístico de Digimon, mas ainda sim é bem familiar do estilo japonês e de animes e mangás em geral, a escolha dele para participar aqui é mais que bem vinda.
Por outro lado, enquanto o visual dos personagens são charmosos e coloridos, mas sinto que muitos dos cenários, principalmente os que são dentro do EDEN, são um pouco básicos, e quase sem muitos elementos que os tornem bem diferentes ou os destaquem muito.
POSITIVOS VS NEGATIVOS
Bom, vou começar com um dos problemas que acredito que alguns não vão achar que é algo ruim, mas sinto a necessidade de falar sobre. Os personagens, por mais que sejam bem carismáticos e divertidos, muitos deles seguem uma fórmula ou tipo de comportamento que é comum em animes, como um personagem que é super energético, super brincalhão e super carismático, mas que não é tão inteligente, uma personagem que é muito tímida e possui muita vergonha, tendo dificuldade até mesmo de falar com os outros, mas que possui uma peculiaridade incomum, um personagem que se acha todo estiloso e maneiro, tentando falar de forma enigmática e com charadas, esses comportamentos e características vindas dos animes se mostram frequentes ao decorrer do jogo.
Em suma o ponto que eu quero chegar é, eu não considero esses tipos de personalidades ruins ou muito desagradáveis, mas se você não gosta desse tipo de personagem com personalidade mais “anime”, gostaria de algo mais conflitante e diferente, ou até mesmo personagens super desenvolvidos e com vários arcos de desenvolvimento, você infelizmente não vai achá-los aqui.
O sistema para criar, treinar e cuidar dos seus Digimons é ótimo, mas ele pode ser um pouco confuso, e até mesmo um pouco punitivo para iniciantes de RPG, principalmente pelos diversos sistemas disponíveis no laboratório, além de que algum Digimons, principalmente os mais fortes, vão precisar de bastante dedicação, treino, e até planejamento para terem essas formas alcançadas, o’que pode ser visto como desafio para alguns jogadores, mas uma dor de cabeça para outros.
As missões, por mais que boa parte sejam sim divertidas, há algumas delas acabam sendo simples demais, principalmente as opcionais, sendo as missões de “Obter item em um ponto A e entregar em ponto B” por exemplo, muito cansativas e de certa forma, até mesmo chatas.
Por fim, quero falar de algo que eu considero sim um problema na questão da história, mas vou fazer ao máximo para evitar spoilers. Em suma, da metade pro final do jogo, a narrativa acaba introduzindo alguns conceitos e elementos que são presentes em diversas histórias do universo de Digimon, como por exemplo personagens exclusivos de jogos que só foram lançados no japão, ou a presença dos Royal Knights (Cavaleiros reais) e de Yggdrasil (Ou King Drasil, como é em algumas versões).
O problema aqui não é a menção e participação desses conceitos, eu até as considero bem vindas, principalmente para os fãs da franquia, o problema é que para jogadores novatos ou que tem pouco contato com Digimon, é muito provável que haverá uma confusão para eles, porque esses conceitos são introduzidos, mas não são muito bem explicados, tornando necessário que o jogador iniciante, para poder entender bem a história, tenha que fazer uma pequena lição de casa prévia de alguns elementos da franquia Digimon para poder entender a história e não ficar muito perdido, e isso muitas vezes acaba não resultando em uma experiência agradável.
OUTROS DESTAQUES
O jogo possui diversas referências a franquia Digimon, sendo algumas delas aparecendo e complementado alguns casos e momentos da história.
Victory Uchida, um membro do editorial da revista japonesa V-jump aparece em diversos locais, ajudando o jogador ao dar diversos itens valiosos e raros.
Há uma variedade enorme de Digimons para se obter, e todos eles possuem uma descrição sobre a sua história de origem e outras curiosidades sobre eles.
O jogo possui diversos desafios e missões depois do fim do jogo, e é possível até mesmo fazer um New Game +, mas não vou detalhar muito sobre para não dar spoilers.
No arcade de Nakano Broadway, é possível ver um pôster de Tekken 2, é mais uma curiosidade do que um destaque, mas é difícil não comentar.
CONCLUSÃO
Digimon Story Cyber Sleuth é um jogo que, por mais que aparentemente não seja voltado para o público geral de games, se mostra como um jogo bem divertido.
Seu sistema, por mais que seja complicado de entender no início, não é impossível de entender, e se torna até mais divertido ao entendê-lo bem, e a sua história, por mais que não seja a mais surreal ou a mais incrível de todas, guarda muitas surpresas, ótimas revelações e possui momentos bem legais e marcantes.
Se você é um fã de animes, de RPGs, da franquia Digimon, ou se você por algum motivo estava distante desses seres digitais e está a procura de uma boa história em que há a presença deles, recomendo fortemente, mas, se você não se encaixa em nenhum desses grupos, a recomendação infelizmente acaba sendo bem difícil de ser feita.
Digimon Story Cyber Sleuth está disponível para Playstation 4, Playstation Vita, e para Nintendo Switch e PC na edição Complete edition, que junto dele vem o jogo Digimon Story Cyber Sleuth Hacker’s Memory.