A matéria desta semana é sobre um filme que talvez poucas pessoas saibam que é baseada em uma HQ, Snowpiercer, trata-se de uma série em quadrinhos, desenvolvida pelos autores franceses Lob, Rochette e Legrand. Foi lançada no Brasil intitulada como O Perfuraneve, o título é horrível, mas acreditem, deve ser o melhor que pôde ser feito, já que o título original é Le Transperceneige, e não existe uma palavra em português para traduzi-lo. Agora chega de papo furado e vamos ao filme.
Recentemente a Netflix disponibilizou em seu catálogo a série O Expresso do Amanhã, que despertou interesse e acendeu um holofote sobre esta produção de 2013, dirigida por ninguém menos que Bong Joon-ho, ganhador do Oscar de melhor filme com seu último trabalho, O Parasita. Este também, foi o primeiro filme em inglês do diretor.
O cenário de abertura do filme retrata um mundo sofrendo com o aquecimento global e que resolve tomar uma drástica atitude de solução que mudará todo o planeta. Em uma tentativa desesperada de abaixar os altos índices de temperatura, são lançados mísseis como um composto químico chamado CW-7, que acaba desencadeando uma nova era do gelo, causando extinção geral de praticamente todas as formas de vida, já que os últimos sobreviventes estão a bordo de um trem bem peculiar.
Um dos grandes personagens deste filme é, justamente, o trem, pelo filme não dá para saber ao certo quantos vagões possui, mas é possível notar que é dotado de uma força gigantesca e um ecossistema autossustentável, capaz de suprir todas as necessidades de seus ocupantes (mesmo que não seja de forma justa). Seu trajeto é um loop por trilhos que ligam o planeta todo e tem a duração de um ano e as pessoas a bordo são divididas por classes sociais.
O desenvolvimento da trama se inicia nos últimos vagões, onde estão localizadas as pessoas miseráveis, que vivem em situações precárias e desumanas; seu líder é Gillian, (John Hurt, mais conhecido pelo seu papel de Olivaras em Harry Potter) que juntamente com seu aliado Curtis (Chris Evans) elaboram um plano para causar uma revolta e chegar a locomotiva, assumindo o controle do trem, uma tarefa árdua, já que todo o trem é fortemente armado.
Sem querer Curtis vira o comandante da revolta, acompanhado de Edgar (Jamie Bell) seu fiel amigo, iniciam o ataque que se intensifica quando os ocupantes dos últimos vagões percebem que os guardas estão com armas sem munição o que gera uma histeria coletiva. Todos os passos de Curtis não foram tomados em vão, na verdade alguém dos vagões superiores enviava mensagens secretas utilizando a distribuição de comida, e uma destas mensagens revelava a existência de Namgoong Minsu (Song Kang-ho), que é um especialista em segurança, capaz de abrir todas as portas do trem.
Namgoong é um viciado em Kronol (um tipo de droga alucinógena) e possui uma filha, também viciada. Com a promessa de receber a drogas por cada porta aberta, Namgoong vai permitindo o avanço do grupo, porém cada porta que se abre revela uma surpresa e aos poucos vai detalhando como é o funcionamento do trem.
O grupo consegue avançar bem e rápido, até um vagão anterior ao vagão de carga, onde acontece uma reviravolta e, a meu ver, uma das melhores sequências de cenas do filme. O vagão está repleto de pessoas armadas com machadinhas e facas, envolve soldados, oprimidos e membros do comando de ambos os lados, uma mistura de acontecimentos que muda toda a dinâmica do filme, são cenas de tensão e muita violência.
Após um embate fervoroso, a maioria das pessoas são instruídas a permanecer no local e um único grupo de destaque continua o avanço, este grupo é composto por Curtis, Namgoong e sua filha, Grey (Luke Pasqualino), Andrew (Ewen Bremner) e Tanya (Octavia Spencer), guiados agora por Mason (Tilda Swinton), após ser feita refém. Ao avançarem, Mason explica como todo o sistema do trem funciona e a importância de se manter um equilíbrio para que nada entre em colapso.
O grupo enfrenta mais alguns desafios e sofrem mais algumas perdas pelo caminho, mas Curtis consegue finalmente chegar a locomotiva e antes de entrar faz revelações impressionantes sobre seu passado. A abordagem não era como ele esperava, na verdade sua posição não é favorável, o que permite que Wilford (Ed Harris), o homem que comanda o trem, desenvolva um diálogo controlado; Wilford faz revelações sobre um sistema de equilíbrio bastante maquiavélico, fato que traz um conflito de emoções ao expectador, causando um estranhamento na consciência.
O final é cheio de ações empolgantes que fazem o expectador criar várias teorias ou se decepcionar com o desfecho. A verdade é que se trata de um filme de ficção científica muito bem construído, uma adaptação ótima com um elenco de peso e mesmo a história sendo uma linha reta, é possível notar as diversas histórias paralelas construídas ao longo do enredo. Então, minha recomendação é que leiam os quadrinhos, assistam o filme, vejam a série e se divirtam ligando tudo isso! E lembrem-se: “Todo mundo está em seu lugar, exceto você”.