Inspirado no bestseller do autor Ferdinand Von Schirach, O Caso Collini é um filme alemão de drama. Na história, Caspar Leinen (Elyas M’Barek), um jovem e inexperiente advogado, é posto à prova quando é apontado pelo tribunal como advogado de defesa de Frabrizio Collini (Franco Nero), um cidadão exemplar italiano de 70 anos que durante mais de 30 anos trabalhou na Alemanha e que, sem motivo aparente, mata Hans Meyer (Manfred Zapatka), um respeitado empresário, na sua suíte de hotel em Berlim. O interesse público no caso é grande, mas Collini mantém o silêncio sobre o motivo que o levou a assassinar um homem exemplar como Meyer. Enquanto Caspar se afunda cada vez mais num caso incompreensível, é confrontado não só com o seu próprio passado como também com o maior escândalo judicial na história da Alemanha e com a verdade que ninguém quer ouvir.
Apesar de não ser uma história verídica, o filme tem como principal tema os reais crimes cometidos pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Começamos o filme sem entender o motivo do assassinato de Hans Meyer e parece que a história tratará mais da vida do advogado Caspar Leinen, mostrando sua infância simples. Seu pai foi embora quando ele era criança e ele foi criado somente pela mãe. Mas o que interessa mesmo é a ligação dele com Hans Meyer, que foi como um pai para ele, situação essa que se mostrará um dos pontos principais da trama.
O filme demora um pouco para entrar no ritmo, o início sendo bastante lento, mas quando descobrimos o real motivo de Collini matar Meyer, o filme engrena e foca mais no passado de Collini e os crimes cometidos por Meyer durante a guerra. O exército alemão, liderado por Meyer, invadiu uma pequena vila na Itália e mataram alguns moradores, incluindo o pai de Collini.
Isso demora a ficar claro, pois Collini se recusa a falar com seu advogado, Caspar, o que faz com que Caspar se sinta desesperado, pois eles perderiam o caso e Collini passaria o resto da vida preso. Ao mesmo tempo que Caspar quer continuar no caso, ele também se vê dividido, pois Meyer era muito próximo dele e para ele Meyer era um grande homem e fez muito por ele. Mesmo assim, ele se mantém firme, indo até contra a neta de Meyer, que não queria que ele representasse Collini.
A verdade começa a aparecer e a história a andar quando Caspar descobre um senhor que sabia da história do massacre e decide depôr, com isso Collini se abre e Caspar começa a desvendar os mistérios do passado de Collini e Meyer. Apesar de ser um advogado recém-formado, Caspar se destaca por sua resiliência e espírito investigativo.
A atuação de Franco Nero que faz o papel de Collini é pontual e a que mais chama a atenção. No início do filme ele se mantém calado e toda a sua emoção está na expressão em seu rosto, vemos que ele ficou marcado pela guerra, não tendo se casado ou tendo filhos. Sua vida se resumia aos acontecimentos em seu passado. Descobrimos que ele havia tentado, junto de sua irmã, que Meyer fosse julgado e condenado por crimes de guerra. Mas aí entrou a lei Dreher, que fez cair a responsabilidade por esses crimes de guerra, deixando Meyer impune, assim com tantos outros que cometeram crimes horrendos durante a guerra. Foi aí que Collini resolveu fazer justiça com as próprias mãos.
A fotografia do filme também é linda, usando de tons sepia e de azul, o que passa uma sensação de algo frio e sem vida, um reflexo da situação explorada no filme. Além disso as locações são muito bonitas, tanto os lugares na Alemanha e o lugar do julgamento de Collini, quanto as cidades da Itália, que tem seu próprio charme.
O filme então explora a justiça e a vingança, que são dois temas principais na história. Muitas vezes a justiça falha, favorecendo aos criminosos e não as vítimas, o que faz com que precisemos buscar justiça sozinhos, apesar de não deixar de ser uma situação de vingança. A história, por mais que não seja verídica, nos faz estar presente no julgamento de Collini. Será que ele agiu certo, ou a vingança é algo que nunca devemos buscar? Fica a dúvida, pois, por mais que muitas vezes ela seja a única solução, a vingança também nos envenena, tanto quanto a situação de injustiça que vivenciamos.