American Son – O desespero de uma mãe

Dirigido por Kenny Leon e estrelado por Kerry Washington, Steven Pasquale, Jeremy Jordan e Eugene Lee, American Son, lançado em 2019, é um daqueles filmes que originalmente são peças de teatro. Lidando com um assunto que não poderia estar mais atual, o filme conta a história de Kendra, que fica desesperada ao ter seu filho, Jamal, dado como desaparecido. Ela, então, não abre mão de pressionar um policial a ajudá-la.

Com o movimento Black Lives Matter e o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, a atenção do mundo todo se virou para os casos de racismo, principalmente nos estados americanos. George Floyd foi um homem negro brutalmente morto por um policial branco, quando este se ajoelhou no pescoço de George.

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American Son nos mostra essa realidade do racismo de maneira dolorosa e crua através dos olhos de uma mãe que tenta a todo custo saber o paradeiro de seu filho. Essa mulher, Kendra, passa a madrugada em uma delegacia insistindo para que um policial branco consiga notícias sobre o que aconteceu com Jamal (seu filho). Este policial fica fazendo de tudo para deixá-la no escuro, sem lhe dar notícias. O filme traz um roteiro bem ágil e as falas de Kendra, principalmente, são um tapa na cara do policial e de quem assiste.

Ela pergunta para ele se ele tem filhos e ele diz que tem duas filhas, e ela rebate perguntando “você tem um filho negro?” o que o deixa sem palavras. Ele não sabe o que é para ela ter um filho negro desaparecido, em um país como os Estados Unidos (e outros) em que casos de racismo e assassinato de pessoas negras pela polícia são inúmeros e só aumentam.

O filme, além de ter um roteiro ótimo e diálogos ágeis e certeiros, usa muito bem a locação única. A história inteira se passa dentro de uma sala na delegacia, o que é um reflexo da peça de teatro, que também não muda o cenário, deixando os atores livres em um só lugar, movimentando-se pouco. A performance dos atores é essencial para o sucesso ou fracasso do filme. Kerry Washington é quem se destaca, até porque ela é a personagem principal do filme, mas a atriz é impecável em cenas dramáticas, e é fácil sentir o desespero dela.

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Em um certo ponto do filme, entra em cena também o ex-marido de Kendra. Um homem branco que não enxerga seu próprio racismo. Apesar de ter um filho negro, ele evita reconhecer isso, além de condenar algumas atitudes do filho. Fica claro que ele não aceita inteiramente ter um filho negro e também não tem noção do sofrimento de Kendra. Para ele, Jamal precisaria agir de certo modo para não virar um alvo da polícia e não percebe que, não importa o que o filho faça, ele sempre será um alvo pela sua cor de pele. Temos os melhores diálogos do filme de Kendra com o marido, que também atua muito bem. Vemos o quanto a postura do policial também muda com a chegada do marido de Kendra, por ele ser branco. O policial começa a dar informações que antes ele não dava quando apenas Kendra estava presente.

O filme sustenta bem o suspense sobre o que pode ter acontecido com Jamal e tem um desfecho bem dramático e triste (e talvez já esperado) quando o policial anuncia que Jamal sofreu uma abordagem da polícia junto com outros dois amigos e acabou morto. American Son nos dá um soco no estômago e termina logo após sabermos do destino de Jamal. Sendo curto e certeiro, vale muito a pena assistir ao filme, não se sente nem o tempo passar. Está disponível na Netflix.