A Vastidão da Noite: Uma homenagem à The Twilight Zone

A Vastidão da Noite foi um dos filmes independentes mais falados de 2020. Disponível na Prime Video, o filme é dirigido e escrito por Andrew Patterson e estrelado por Sierra McCormick e Jake Horowitz.

Ambientado nos anos 50, numa cidade pequena do Novo México, a história segue um locutor de rádio e uma operadora de telefone. Logo no início do filme, já vemos claramente a homenagem do diretor à série clássica de 1959, The Twilight Zone, conhecida no Brasil como Além da Imaginação. Vemos uma tela de TV e nela é anunciado um programa, que é chamado também de A Vastidão da Noite, como o filme. É como se entrássemos para um episódio de The Twilight Zone, o que já começa interessante.

Depois disso, acompanhamos os dois protagonistas, Everett e Fay, que se encontram por acaso durante um jogo de basquetebol no colégio da cidade. O filme começa mostrando de maneira natural um dia normal na vida dos dois, que tem um diálogo bem interessante sobre o futuro, em que até mesmo adivinham através de previsões várias coisas que sabemos que acontecerá, como a chegada do homem à lua. Nessa sequência inicial, vemos planos longos, sem cortes, em que a câmera segue os dois, como se quem assiste estivesse furtivamente acompanhando os personagens. O roteiro é ágil, a direção certeira e os atores tem uma química maravilhosa, fazendo com que o diálogo seja totalmente dinâmico e nada cansativo de acompanhar. Percebe-se também o quão ensaiados os dois estão, além da química que os atores tem.

©Amazon Studios

Um bom tempo do início do filme é passado com essa conversa dos dois, mas logo as coisas começam realmente a acontecer. Everett vai para a estação do rádio e Fay vai para casa. Durante a transmissão do programa de Everett, Fay percebe que um som estranho foi transmitido a eles, então ela liga para ele e os dois começam a investigar, ao mesmo tempo em que coisas estranhas começam a acontecer na cidade. As pessoas começam a ligar para Fay também, relatando luzes estranhas no céu.

Everett então transmite de novo o som e pede para que se alguém saiba algo sobre o som, para ligar para o programa dele. Um homem então liga para o programa e conta sua história. Ele era um militar e, durante uma missão, ouviu o mesmo som, mas isso foi escondido das pessoas, ninguém falava disso. Durante essas cenas, a tela chega até a ficar escura e ouvimos apenas a história do homem. O relato é tão intrigante que até mesmo esquecemos que estamos olhando apenas para uma tela preta. Algo interessante do filme é também o fato dele dar fala a pessoas que na época sofriam com a discriminação. O homem do relato revela que é um homem negro e por isso ninguém acreditaria nele. Nisso vemos o quanto pessoas vistas como “diferentes” não eram levadas a sério.

©Amazon Studios

Além da tela preta, temos também momentos em que a tela volta a ficar no formato de uma TV pequena dos anos 50, em momentos importantes do filme. Temos muitos planos longos e câmera parada, o que exige uma entrega certeira dos atores, o que acontece, com ajuda também do diretor, que tem uma visão da história que coincide muito bem com o resto do que o filme já apresentou. A Vastidão da Noite é um daqueles filmes que fala, mas não mostra. Por isso os planos longos e muito diálogo. Não faria sentido, depois de estabelecido o tom do filme, se, por exemplo, fossem mostrados flashbacks, como na cena em que uma senhora conta um relato sobre seu filho que desapareceu, que também tem a ver com o som ouvido. Tudo começa a se interligar e Fay e Everett chegam cada vez mais perto de desvendar o mistério que ronda a cidade. O filme tem um desfecho que encerra a história dos personagens, mas que nos deixa ainda mais intrigados com o que poderia vir depois disso.

A Vastidão da Noite é um filme bem “redondo” que entrega muito bem o que se propõe e é uma bela homenagem à The Twilight Zone, tanto que poderia ser um episódio da série. Acho até que essa era intenção do diretor. O filme foi feito com um orçamento bem baixo, o que nos deixa curiosos para saber o que o diretor pode criar no futuro tendo, quem sabe, um orçamento maior.