Entrevista: Isabella Leão, autora de “A Herdeira de Umbrea”

Se você já leu a Herdeira de Umbrea ficará feliz de ver o que a escritora pode compartilhar conosco. E se você ainda não leu, recomendo muito nosso review sobre o livro.

Isabella Leão, autora de A Herdeira de Umbrea e game design do PandoraRPG concedeu ao MDA uma entrevista e pudemos perguntar a ela mais sobre sua obra e o mundo que a envolve. Gostaria muito de agradecê-la pela entrevista e pela colaboração durante essa matéria.

Capa a Herdeira de Umbrea. É exibida o rosto de Vikni, uma jovem de pele clara, cabelo moreno e olhos verdes.
Fonte: Isabella Leão

Primeiro, gostaria de agradecer a entrevista, poderia se apresentar ao público por favor?

Oi, eu sou a Isabella Leão, escritora gaúcha de terror e fantasia e agora também trabalhando na parte de game design de RPGs. Sou uma pessoa bastante tímida e reclusa, então eu travo um pouco nestas partes de apresentação. Comecei escrevendo histórias no wattpad bem nova, onde recebi muito apoio, tive um romance de bastante sucesso lá, e resolvi vir para a área autoral onde comecei a dar vida ao meu projeto de fantasia medieval sombria, publicado pela Amazon. No ano seguinte, lancei o Pandora RPG, um sistema feito para adaptar diversas realidades, tendo como diferencial, há ampla estrutura para jogos solo também! Hoje eu trabalho na continuação da Herdeira de Umbrea e no Guia do Mundo de Umbrea.

O universo de A Herdeira de Umbrea envolve vários elementos culturais e folclóricos e, em especial da cultura eslava, de onde veio esse vínculo e inspiração com essa cultura?

Meu primeiro contato com a cultura eslava foi jogando Rise of the Tomb Raider, na missão da Baba Yaga. Eu fiquei apaixonada por aquilo e comecei a pesquisar mais de onde tinha vindo a lenda, começando a pegar muito gosto pela mitologia e cultura local, especialmente porque ela tinha muito mais elementos de terror do que outras. Enquanto pensava em Umbrea, comecei a estudar mitologia e história dos povos eslavos, conheci pessoas de lá com quem fiz algumas amizades, e fui trazendo estes elementos aos poucos. Acho importante deixar claro que os dravhosí são um povo bem diferente e único, eu usei os eslavos como inspiração principalmente em detalhes para dar realismo, trazendo alguns festivais, métodos de organização social, formas de taxar impostos, meios de produzir tecidos e tintas, ditados populares, estrutura do idioma etc. Meu objetivo era sempre dar vida a um mundo bastante verossímil e estudar estes detalhes culturais ajudou muito. Para quem for um pouco mais fã de história, a parte que mais me inspirou na construção da sociedade foi o período da Russ de Kyev (aproximadamente de 900 a 1200 DC), Além da própria cultura eslava, também me inspirei bastante em épocas históricas como cruzadas e na inquisição.

Apesar de tudo isso, acho importante demais salientar que nada deve ser levado de forma mais literal. Não se deve traçar paralelos dos reinos dravhosí com reinos eslavos de fato, nem da Igreja de Haggndar com religiões da vida real, ou qualquer associação de que os dravhosí “são” os eslavos. Antes de dar vida a história de Vikni, eu criei um mundo bastante amplo e coeso, tracei uma linha do tempo de 1200 anos dos dravhosí, citando cada um dos reinados e períodos, detalhei o surgimento de religiões, a modificação dos conceitos divinos, conforme a sociedade avançava, marquei ascensão e queda de famílias. Embora seja possível notar paralelos, é importante que o leitor entenda que não vai além de meras inspirações.

Myr é um mundo com muitas formas de horror e nenhuma delas deve ir além das páginas do livro e do espaço da imaginação. Essa separação com o mundo real é essencial.

Muito dos elementos dos meus livros são coisas que eu vejo, sonho ou pensamentos repentinos que me tomam a mente, às vezes é mais como se eu descobrisse Umbrea e não inventasse, de fato. Gosto de dizer que meu consciente faz as pesquisas e estudos e meu subconsciente cria o mundo e gera as cenas.

Muito na obra se desenvolve em torno das bruxas, desde a percepção de personagens individuais até percepções coletivas como o preconceito de um povo sobre elas, o temor, e para alguns até certo fascínio, poderia explicar um pouco mais sobre essa ideia e porque as bruxas são tão importantes para a obra?

Quando se cria um mundo de fantasia sombria, todos os elementos principais devem estar, de alguma forma, ligados ao terror (especialmente os sobrenaturais). Assim, em Myr, o terror se manifesta de várias formas, no frio e fome que os personagens passam constantemente, nas emoções de solidão, melancolia e fúria, na agressividade e abusos causados pelas próprias pessoas e na forma com que monstros, deuses e a bruxaria são vistas.

Eu adoro bastante histórias de bruxaria, especialmente conectadas ao terror, e sentia falta disso em obras do gênero que eu lia, em que a magia costuma ser mais tratada de forma épica, grandiosa e bela. Eu queria trazer algo poderoso, mas igualmente perigoso, ameaçador. Ser um bruxo em Myr é um risco constante, tanto interno, por conta dos próprios pensamentos de Umbrea que ficam perambulando pela mente do conjurador, quanto externo, pela perseguição da nobreza, da igreja e do povo. Sempre imaginei que a capacidade de distorcer a realidade teria que vir com um fardo pesado e, uma mente capaz disso, seria constantemente violada por essa própria habilidade de reconstruir o mundo.

A forma com que eu construí a bruxaria também está intimamente ligada ao meu quadro psiquiátrico mais delicado, transformando elementos que são comuns a mim para um paralelo ligado aos poderes da entropia de Umbrea, fazendo o leitor mergulhar em muitas sensações e emoções que eu passo constantemente. Isso é algo que passa despercebido para a grande maioria das pessoas, mas foi crucial para toda estrutura da magia. A bruxaria em Myr é bem contextualizada na história, na cultura e no funcionamento, permitindo que o leitor a veja como algo real e possível, ele entende os limites, consequências e perigos e acho que isso adiciona camadas de imersão e identificação com os personagens.  Quando ele entra na mente de Vikni, o leitor mergulha profundamente em um terror psicológico de várias camadas.

Quais são os autores que te inspiram muito? Quais obras você sente que influenciaram o seu livro?

A obra que fez eu me apaixonar pela fantasia medieval foi Game of Thrones, eu não conhecia nada deste gênero até ver o primeiro episódio. Lembro até hoje da cena, era a parte em que o Rei Robert e sua comitiva chegavam em Winterfell. Achei tudo aquilo lindo e fantástico. Depois fui conhecendo outras obras, como Senhor dos Anéis, The Witcher e o próprio D&D, mas, aquela que mais se aproximou do que eu gostava, foi Berserk.

Acho que qualquer pessoa que ler A Herdeira de Umbrea e também tenha lido Berserk vai encontrar referências, além de um clima muito parecido. E eu fico bem feliz, quando leitores da obra do Miura se apaixonam também pelo meu universo.

Fugindo um pouco da fantasia, meu autor favorito de terror é o Stephen King, amo a construção de histórias dele, o clímax, a forma com que a mente dos personagens é invadida aos poucos. Ele me inspira muito na forma com que o terror é construído gradualmente. Também guardo alguns traços de escrita de obras que eu gostava muito quando novinha, como Alice no País das Maravilhas do L. Carroll e Pollyanna da E. H. Porter.

O que podemos esperar sobre as aventuras de Vikni nas próximas obras? Algo que você possa compartilhar?

O próximo livro já está com a primeira metade concluída, e o clima se manterá o mesmo. Terror, aventura e foco no psicológico das personagens. De novidades teremos mais personagens narradores (no primeiro temos apenas duas linhas de trama e agora teremos seis). Outra coisa muito especial é que trarei uma personagem que terá o primeiro contato com a bruxaria e ela verá, junto do leitor, o processo de transformação desde o início. Acho que este será um dos grandes arcos e novidades. O livro novo também avançará por novos locais de Myr, enquanto o primeiro manteve-se em Darsheim, agora teremos também Osengard e Grendarya. Além disso, vou colocar o leitor, através de outros personagens, dentro de inéditas subculturas dos dravhosí, como mercenários e bandoleiros, outras religiões serão detalhadas, como as meramente citadas Sacerdotisas do Dragão. Também estou reservando um final tão impactante quanto o do primeiro livro!

Apresente aos leitores, por favor, sobre A Herdeira de Umbrea e porque deveriam dar uma chance para a obra.

Eu gosto de começar apresentando a Herdeira de Umbrea para quem não deve ler, pois é uma obra que retrata de forma bem crua a violência, abusos, torturas, agressão física e verbal, além de tratar de emoções fortes como abandono, solidão e tentação aos pecados. Se a pessoa tem gatilhos ou alguma sensibilidade especial com algum destes temas, eu não recomendo a leitura.

Quem gosta de fantasia sombria, terror e mundos medievais mais realistas, eu tenho certeza que adorará A Herdeira de Umbrea. Os combates são verossímeis (estudei muita HEMA para montar as cenas de combate), a baixa fantasia faz as personagens sofrerem com elementos como frio, fome, sede, dor. As lutas são dramáticas, os monstros são focados no terror e a bruxaria é um elemento bastante presente na obra. Fãs de Berserk, Claymore, The Witcher, Dark Souls, Game of Thrones, e aqueles que gostem da parte mais sombria da Idade Média da Terra mesmo, creio que encontrarão no meu livro um ótimo entretenimento.

O grupo da Vikni é diverso, os personagens são aprofundados e a narrativa é fluída e cativante. No prólogo o leitor já vai entender bem a proposta e o tom do livro, é uma introdução muito honesta da história, então confio bastante que se a pessoa gostar do prólogo, vai gostar de toda a obra. Quem quiser conhecer, pode ir à Amazon, clicar em “Pedir Amostra” e ler os primeiros capítulos gratuitamente.

Por fim, eu estou sempre aberta a conversar com os leitores, ouvir teorias, tirar dúvidas, compartilhar opiniões. Tem sido uma experiência muito legal manter esse contato próximo de leitores-autora, então convido todo mundo a me seguir nas redes sociais que eu estou sempre postando novidades e interagindo com todo mundo.

E, por fim, quero agradecer muito ao Bruno, pelo contato e educação comigo, e ao Mundo dos Animes, pela oportunidade que me deu e pelo ato de divulgar a literatura nacional. Fiquei bem nervosa escrevendo, mas foi uma experiência fantástica!