Supaidaaman – Com Grandes Poderes, Vêm Grandes Robôs Gigantes

Eu não pretendia usar o Porão do Tokusatsu para falar da série de hoje. Apesar de nunca ter passado no Brasil (ou em qualquer lugar fora do Japão), o “Homem-Aranha Japonês” já virou figurinha carimbada quando se fala das coisas mais aleatórias vindas da Terra do Sol Nascente. Então para quê perder meu tempo falando de algo que muitos já conhecem, não é mesmo? Bom, tudo mudou no dia 12 de novembro, quando Stan “The Man” Lee faleceu aos 95 anos. Um sujeito extremamente controverso, mas que foi diretamente responsável por vários elementos que persistem ainda hoje nos tokusatsu que tanto amo. E é por isso que hoje vamos falar um pouco do Homem-Aranha da Toei (que daqui em diante só chamarei de Supaidaaman) e sua grande influência. Minha pequena homenagem ao cara que consolidou o Universo Marvel. Excelsior!

Sinopse:

Takuya Yamashiro é um jovem motoqueiro que presencia a queda da nave espacial Marveller, vinda do planeta Spider. Quando o pai de Takuya é morto pelos monstros do Exército da Cruz de Ferro, Takuya recebe a ajuda de Garia para receber os poderes do planeta Spider e se tornar o Homem-Aranha. Marveller se transforma no robô de combate Leopardon e Takuya deve lutar para vencer as forças do mal.

©Toei Co./Marvel Comics Group

A essa altura do campeonato já é praticamente um meme o fato do nosso querido Supaidaaman ter um robô gigante em seu arsenal. Engraçado que quase ninguém nunca comenta de seu carro voador armado com metralhadoras, o Spider Machine GP7… Mas enfim, por qual motivo dar um mecha para o Homem-Aranha? E porque diabos ele se parece com uma esfinge egípcia ao invés de uma aranha? A segunda questão é um mistério sem fim, mas a primeira é até simples de responder.

Supaidaaman foi lançado em 1978, ainda durante o primeiro boom dos animes de mecha. Naves gigantes que se transformam em robôs eram praticamente garantia de boas vendas, e a Toei sabia muito bem disso. Como os animes já geravam muitos ienes para o pessoal da Popy (uma subsidiária da gigante Bandai) foi decidido que a versão japonesa do Amigão da Vizinhança serviria para testar esse tipo de merchardising nos tokusatsu. Claro que já tínhamos robôs gigantes em produções mais antigas (Red Baron, Daitetsujin-17, etc) mas o Leopardon seria o primeiro a ter dois diferenciais: além de ser pilotado pelo herói (ao invés de controlado de longe) ele também se transformaria! E boom, a versão Chogokin (com peças de metal e mais qualidade) vendeu mais que mupy em evento de anime.

©Toei Co./Marvel Comics Group

Mas você com certeza deve estar se perguntando quais são as diferenças entre o Supaidaaman e o Homem-Aranha normal, além do robôzão gigante. As diferenças entre Peter e Takuya não poderiam ser maiores: ao invés de um adolescente nerdão patético, Takuya é um motoqueiro de 22 anos que tem até namorada! Namorada essa que “herdou” a profissão do Peter, sendo uma fotógrafa. Ao invés de ser movido por um sentimento complexo de culpa, nosso Supaidaaman teve o pai morto pelos vilões e agora quer a boa e velha vingança mesmo! Os poderes dos dois Homens-Aranha (ou o plural seria “Homem-Aranhas”? Fica o questionamento) é bem semelhante, a única diferença é que o Sentido de Aranha de Takuya funciona mais como um radar e que a teia é… bom… é só uma corda mesmo.

Ao contrário de sua contraparte americana, no tokusatsu temos um elenco fixo e centralizado de vilões: o Exército da Cruz de Ferro. Esse grupo alienígena, como de praxe, já conquistou dezenas de planetas e fez da Terra seu próximo alvo. O líder é o terrível Dr. Monster (um sujeito que lembra vagamente o Dr. Destino do Quarteto Fantástico), sempre acompanhado de sua assistente Amazoness. Essa vilã tem duas peculiaridades interessantes: por mais da metade da série ela é secretamente a chefe da namorada de Takuya, sendo editora de uma revista. A segunda questão é que a personagem simplesmente troca de penteado (umas perucas bem vagabundas, pra ser sincero) umas três vezes durante a série, sem absolutamente nenhuma explicação. Os anos 70 eram incríveis mesmo.

©Toei Co./Marvel Comics Group

Ao invés de enfrentar cientistas loucos com roupas de duende ou caçadores malucos, o Supaidaaman segue a boa e velha fórmula de tokusatsu que já era padrão na época: monstros emborrachados enviados um por vez! Chamados de Machine BEM, as criaturas são sempre um misto de algum animal com partes robóticas. Uma estética bem interessante que a Toei reutilizaria várias vezes em suas séries seguintes.

Um diferencial um tanto engraçado do Supaidaaman é que apesar de ser o berço da fórmula “monstro pequeno enfrentando herói > monstro grande enfrentando robô” ele não tinha nenhum tipo de golpe final nem nada para derrotar o monstro! Ao invés disso o vilão meio que só ficava de saco cheio da luta e crescia porque sim. Mas depois disso entramos na zona de conforto e todo episódio termina com Takuya berrando (sério, o cara GRITA) o nome de sua nave, Marveller. E depois disso vem o incônico “Change, Leopardon!”, que inicia a transformação em robô… enquanto o vilão assiste quietinho, claro. Eles são monstros mas não quer dizer que sejam mal-educados.

©Toei Co./Marvel Comics Group

Eu tiro sarro mas a verdade é que o Supaidaaman é divertidíssimo. Ver o Homem-Aranha se apresentando como “O Emissário do Inferno” e repetindo a mesma cena três vezes em ângulos diferentes é uma experiência praticamente psicodélica. Além de tudo ainda é uma tremenda aula de história para ver onde nasceu o embrião dos Super Sentai da Toei, que até então seguiam uma linha bem diferente com Goranger e JAKQ.

Agora um segredinho: com o sucesso dessa parceria, os próximos três Sentai (Battle Fever, Denziman e Sun Vulcan) todos mantiveram o copyright da Marvel. E o próprio Stan Lee se interessou muito com a idéia de levar o último, Sun Vulcan, para a América. O plano do velhinho era reutilizar as cenas de ação e substituir as cenas dos atores japoneses por novas filmadas nos Estados Unidos por atores americanos… Ou seja, por muito, muito pouco Stan Lee não foi o criador dos Power Rangers – uma década antes!

Minha homenagem ao bigode mais famoso dos quadrinhos fica por aqui, mas semana que vem tem mais coisa desconhecida aqui no Porão do Tokusatsu. E não vai ser nada dos anos 70, eu juro! Digo, eu acho né…