Atenção: spoilers à frente
Na primeira vez que eu assisti à abertura de BoJack Horseman, a sua estética deixou-me hipnotizada. A música instrumental composta por Patrick e Ralph Carney carregada de melancolia e saudosismo, mesclada aos visuais da rotina doentia e vazia do protagonista estabeleciam um padrão deprimente e intrigante que culminava no afogamento do personagem equino. Quem diria que desde o início o fim já estava à mostra?
Após a quinta temporada acabar e a sexta ser anunciada como a última, fiquei curiosa em como a equipe arrumaria as pontas soltas e se despediria de seu longevo projeto de sucesso. Diferentemente das produções anteriores de 12 episódios, a temporada final conta com 16, e foi dividida em duas partes. Semana passada, alcancei a primeira, e sexta passada, 31 de janeiro, vi a segunda.
Após finalmente trabalhar sua atitude e manter sua sobriedade, BoJack está em um lugar melhor. Afastado de Los Angeles, ele agora trabalha como professor universitário em Connecticut. Tudo parece bem, até que seu passado aparece para prestar conta. Todos os seus pecados (em evidência a morte da Sarah Lynn) batem à porta graças a uma investigação jornalística e agora só resta responder pelos erros.
Como nada é fácil, as coisas eventualmente dão errado. Por mais que ele responda à matéria da maneira mais responsável possível, as evidências de seus atos mais hediondos falam mais alto. BoJack tenta manter a cabeça erguida em meio a esse mar de lama, mas após sua irmã Hollyhock cortar todo o contato com ele, finalmente ele mergulha no desespero. Na sua decadente espiral de horror, ele finalmente realiza o que parece seu último ato: afogar-se na piscina como a abertura sugere.
Faria sentido acabar a série naquele momento, sua morte funcionando como o ponto final da sua existência. Entretanto, o que os realizadores executaram encaixou muito, muito melhor. Levando em conta seu compromisso com a verossimilhança, uma resposta mais complexa e genuína veio à tona: a vida simplesmente continuou. Ele sobreviveu e, agora na prisão por invadir propriedade privada, paga verdadeiramente pelas suas ações. O último episódio, o qual só utiliza as vozes do elenco principal (BoJack, Princess Carolyn, Diane, Mr. Peanutbutter, e Todd) ilustra isso perfeitamente.
Como se despedisse de cada um deles em particular, ele observa como eles seguiram adiante, adaptando-se a novas situações e tornando-se as melhores versões deles mesmos. De certa maneira, todos eles o deixaram para trás. Mr. Peanutbutter percebeu suas tendências de co-dependência e sente-se suficiente sozinho agora. Todd tomou as rédeas da sua vida e não mais necessita da boa vontade alheia. Princess Carolyn não mais vai trabalhar como sua agente resolvendo todos os seus problemas. Por fim, Diane resolve cortar contato, grata por ele ter feito parte de um momento da sua história, todavia tóxico demais para continuar seu amigo.
É nesse ambiguidade que BoJack Horseman acaba: seu tom triste ainda que esperançoso ilustra a natureza humana. Temos o poder de seguir adiante e, se cairmos na nossa jornada, precisamos ter a responsabilidade para nos erguer de maneira sadia. Não houve um desfecho de fato, nem todas as respostas foram dadas, só nos foi dada a promessa de muitas possibilidades. Como o personagem titular disse há muito tempo, “Desfecho é uma coisa criada pelo Steven Spielberg para vender ingressos de cinema. É como o verdadeiro amor e as olimpíadas de Munique: não existe no mundo real. A única coisa que pode fazer agora é viver a sua vida.”
Sentirei falta dessa incrível série que me arrancou tantas risadas como lágrimas. Foi um prazer abordá-la semanalmente, no entanto é hora de seguir em frente, rumo ao novo dia. Deixo vocês com a música de finalização do último episódio, Mr. Blue da Catherine Feeny.
Você pode assistir a BoJack Horseman no serviço de streaming da Netflix.