Atenção: o texto contém spoilers!
Histórias de fantasia têm um certo tipo de encanto que eu não consigo encontrar em mais nenhum lugar. O sobrenatural, sortilégios, e a ambientação salpicada pela influência da arquitetura medieval (seja ocidental ou orienta) me fascina como nada mais. Talvez tenha sido isso que me atraiu inicialmente para O Conto da Princesa Kaguya, Good Omens, ou DuckTales. Foi isso certamente que captou a minha atenção para a franquia Little Witch Academia (LWA).
Idealizada por Yoh Yoshinari e lançada inicialmente como um curta em 2013 pelo Estúdio Trigger sob o projeto financiado pelo governo japonês, o Young Animator Training Project, a animação de 22 minutos teve uma recepção excelente. Tão boa inclusive que empolgou a equipe para realizar uma continuação direta para Blu-Ray (OVA), Little Witch Academia: The Enchanted Parade, em 2015 e, em 2017, a série em si. Sem esquecer, é claro, da adaptação para mangá e o videogame de 2018.
A obra acompanha os esforços da explosiva Atsuko Kagari (que eu chamarei de “Akko” doravante pois é como ela é conhecida por todos ao seu redor), uma bruxa sem muitas habilidades mágicas, no curso de feitiçaria da escola Luna Nova. Apaixonada pelas artes sobrenaturais graças a uma apresentação de truques realizados pela sua ídola Shiny Chariot, ela duramente luta todos os dias pelo seu lugar em meio a magas mais competentes.
À primeira vista, LWA apresenta-se como um mahou shoujo de tons juvenis: aventuras bobas pela escola e múltiplas enrascadas. No entanto, gradualmente, as peças do mistério vão se encaixando: por que ela é tão ruim com magia? Por que a Shiny Chariot desapareceu? Por que a professora Ursula Callistis tem tanto interesse na Akko? Essas questões são introduzidas como detalhes, porém ganham espaço de destaque no clímax, tecendo uma teia narrativa complexa e diversa.
A arte do desenho é muito competente, no mesmo nível do resto das produções do Estúdio, criando um ritmo charmoso e cheio de energia. O mundo de LWA é vibrante e muito criativo, oferecendo várias possibilidades absurdas e divertidas para serem exploradas (como, por exemplo, a sindicalização de criaturas mágicas). As personagens, que eu destacaria como ponto mais forte da animação, são bem desenvolvidas e diversas, enriquecendo a história com seus desafios e vitórias.
Ao longo dos 25 episódios, Akko é comparada repetitivamente à brilhante Diana Cavendish. Considerada estudante-modelo, Diana é tudo que a protagonista não é: versada, habilidosa, genial, e ainda herdeira de um enorme legado de poderosas bruxas – ao passo que a tola, inexperiente e incapaz Akko tem problemas até com feitiços básicos. Contudo, graças à sua persistência, a personagem principal segue adiante, mesmo com toda as adversidades na sua frente.
O que não sabíamos, e une todas as peças que mencionei alguns parágrafos atrás, é que Diana também teve as mesmas dificuldades que a nossa protagonista anos antes após assistir ao mesmo show da Shiny Chariot, a qual – cheia de culpa – tornou-se a professora Ursula. Ela também viveu os mesmos perrengues e os superou apenas pela imensa força de vontade. Essas duas moças, de personalidades e cenários familiares completamente opostos, conseguem demonstrar o poder que repousa sobre a resiliência e o desejo de superação. A verdadeira magia delas, afinal, é a sua insistência.
LWA é uma estória de fantasia que eu já vi os moldes várias vezes, entretanto, a sua execução oferece uma narrativa diferencial, capaz de entreter e emocionar. Fui conferir pelas bruxinhas, continuei vendo pela força de espírito da Akko.
Você pode assistir aos 25 episódios de Little Witch Academia no serviço de streaming da Netflix.