Death Note One-Shot: Traçando um comparativo com Code Geass

Bom, como pode ter percebido pelo título, esse é um texto acerca de Death Note, e acredito que não preciso repetir uma sinopse, que você leitor,  já sabe de cor e salteado. Pois, mesmo que nunca tenha visto, todo mundo já ouviu falar por aí sobre o animê do guri que mata as pessoas escrevendo o nome delas em um caderno, é inevitável. Sendo assim, após 13 anos do término do mangá, muito se ouve falar a respeito dessa obra, uma vez que, além de seu anime ter ultrapassado as barreiras do nicho otaku, dentro desse meio, também virou símbolo do “anime sério, inteligente e maduro”. Assim, é totalmente plausível o burburinho instaurado após o anúncio de “Death Note 2”, a recente One-shot que dará seguimento a história criada por Takeshi Obata e Tsugumi Ohba.

Portanto, a pergunta que sempre me faço quando é anunciado a continuação de uma obra anteriormente fechada é, será que isso precisa de fato existir? Bem, não irei fazer mistérios quanto a minha constante resposta para essa questão, pois, para mim, não, não precisa existir. A composição original não pede uma continuação, nem vejo, como admirador de Caderno da Morte, a necessidade de um maior desdobramento dessa narrativa. Entretanto, seguindo essa lógica, extinga os seres humanos, dado que eles com certeza não precisavam existir. 

Dito isto, apesar de no capitalismo as coisas não precisarem de um motivo, além de gerar dinheiro, para estar. Na minha visão, talvez puritana, a ausência de dever dramático e temático que uma continuação como essa têm, me faz não conseguir deixar de sentir uma particular e imensa preguiça para com essa divulgação. Contudo, isso não faz com que essa “continuação” seja automaticamente ruim, até porque nem lançou ainda. Todavia, o histórico desse tipo de trabalho, digamos que não é muito favorável.

Code Geass por exemplo, partilha deste caso e é a referência mais direta e rápida que consegui relacionar. E a obra sofre de uma infeliz continuação dispensável. Embora o foco aqui não seja aprofundar nesta, mas sim indiciar o simples fato que era uma obra com começo, meio e fim que  teve extensão sem propósito.

Sendo assim, essa continuação parece mais com um derivado ruim de uma franquia de sucesso do que realmente uma continuação direta do original. Algo que desaponta de certo modo, pois não quero que obras com potencial joguem esse mesmo fora de maneira tão previsível. Contudo, por outro lado, é um tanto quanto estranhamente conforme que sua narrativa seja tão pouco significativa, ao que diz respeito a obra original, a ponto de poder ser felizmente ignorada.

Ademais, o recentes filme de Code Geass  possui o pensamento comercial que viabiliza isso, o fator spin-off. Uma vez que, os dois está alocado em um realidade “alternativa”, sendo essa uma estratégia para não desagradar os fãs que não curtirem essa nova versão da história e preferirem a anterior, ainda assim, sem perder os lucros dessa nova empreitada.

Algo que essa continuação de Death Note não possui, visto que ela se passa na “cronologia principal“, alguns anos após o final do mangá, todavia, ainda que ela não se resguarde neste recurso, sua curta duração pode ter o mesmo efeito, cair na vala do esquecimento com facilidade caso precise, caso desagrade os fãs.

Porém, analisemos não a suas funções, ou a falta delas, como continuação, mas especulações do que pode vir a ser seu conteúdo; a partir do que me chamou atenção no material divulgado. Já que, no poster há um elemento que sozinho consegue ser, ao mesmo tempo, o mais inovador, danoso e chamativo, o novo personagem. Pois a parte favorável dele é, ele não é o Kira, no entanto, a parte nem tão favorável é, talvez ele seja um segundo Kira. Isso pode parecer um bocado confuso, mas não é. 

Pois, o Light é um bom personagem que teve seu fim, um fechamento adequado e que faz parte de seu brilho e do significado do enredo, de forma que trazê-lo de volta seria como desmontar um segmento do que é Death Note. Além disso, já vimos a trajetória do Kira do começo ao final, tudo que menos precisamos é uma repetição dessa jornada, com pequenos acréscimos aqui e ali, escorada no peso do nome Death Note. Certamente não necessitamos de outro Boruto que conta as mesmas coisas pela segunda vez, só que de maneira pior.

Então é aí que entra o componente comercial e desagradável da coisa toda. Visto que, a “propaganda” em cima desse novo protagonista, que felizmente não é o Light, o vende como sucessor do próprio, não direto, mas “espiritual“, o que não só torna plausível a associação do fã entre os dois personagens, mas sim, torna essa a intenção por trás disso. A maçã, o Ryuk atrás, o semblante desse personagem, tudo sugere isso, sendo exatamente essa característica a mais cansativa. Eu não preciso ver a jornada de Kira novamente, protagonizada por ele ou não, eu já a vi, o mangá e anime original ainda existem.

Logo, se querem tentar trazer de volta uma história já finalizada, que tragam com novas ideias e propostas, esse novo personagem tem potencial para isso (até porque eu gostei bastante do character design mais moderno). Recriar o que já foi consolidado anteriormente é tomar escolhas preguiçosas, e se escolhas preguiçosas são feitas, eu não tenho motivos para não fazer o mesmo (mesmo que talvez não seja decisões propriamente dos autores).

Porém, não só expectativas ruins me vieram ao ver este poster, apesar de terem sido maioria… Já que, algo bom saltou à vista. Alguns podem dizer que isso não significa nada ou que é irrelevante, porém, na minha opinião, o celular que esse guri carrega é o elemento mais intrigante presente nessa capa. Visto que, ele abre uma possibilidade muito interessante, que o filme de 2017 deixou passar. O coeficiente da internet nessa discussão toda.

Em vista que, Death Note é uma obra do início do século e, indubitavelmente, muitas coisas mudaram de lá para cá, era o início do boom da era da internet e das redes sociais, um elemento que sem sombra de dúvidas mudou muito o mundo. As relações sociais se modificaram e criaram camadas inéditas, da mesma forma o acesso a informação, a maneira de se comunicar e a possibilidade de dizer o que quiser, quando quiser, para quem quiser ouvir, sem os filtros comunicativos da imprensa e da mídia, nem ao menos filtros sociais, já que os indivíduos estão encobertos pelo anonimato da internet. Imagine como seria a existência de um Kira nesse mundo de 2020, esse é o tipo de renovação revigorante que citei anteriormente, é o tipo de proposta que me deixa muito empolgado! Claro, feito da devida maneira, algo semelhante ao que a adaptação de Devilman Crybaby fez. Trouxe a essência e intenções daquela obra de 1972 para hoje, sem parecer datado ou menos coerente com a nossa realidade.

Óbvio, você pode dizer que na época que o mangá foi publicado já existia internet, além de que a mesma é citada por vezes e, consequentemente, utilizada no mangá e no anime. Apesar disso, eu insisto na minha posição, são contextos distintos, onde outras nuances poderiam vir a ser abordadas, mesmo que não exista uma distância de eras tão grande como a de Devilman. Essa é a maneira com que eu vejo essa história podendo ser interessante, se modernizando. Pegar a essência, questionamentos e proposta do anterior e fundir com uma nova leva de nuances. Talvez essa seja, aos meus olhos, a melhor forma de se reapresentar narrativas antes contadas.

Porém, essa não é a minha expectativa geral quanto ao One-shot, pois, mesmo que ele não seja ruim e abarque novas alternativas, minha opinião de que não precisava existir persiste. Ohba e Obata já demonstraram anteriormente conseguir fazer outras boas produções, além de Death Note, não acho que eles precisem se escorar no sucesso de sua obra mais famosa. Além do mais, outros fatores periféricos ainda podem interferir, o apego aos antigos personagens, o foco na criação e explicação de “lore”, principalmente de partes totalmente desnecessárias e desinteressantes como o mundo dos shinigamis, ou até a limitação do formato curto.

Assim, meu exercício de futurologia me diz que, por ser um One-shot, muito provavelmente será esquecido e se tornará outra daquelas notícias que chamam mais atenção que o material em si. Eu mesmo nem cogito ler este, ou melhor, nem cogitava antes de ter a ideia de usá-lo como ponte para falar brevemente sobre continuações e novas adaptações. Pois, agora que teci tantos comentários sobre, na maioria negativos, seria um pouco hipócrita da minha parte não correr atrás desse trabalho.

No entanto, é isso, o anúncio de “Death Note 2” significou duas coisas para mim. Primeiro, preguiça para com outra continuação que julgo dispensável. Segundo, uma faísca momentânea de que eu poderia ter boas coisas para dizer a respeito desse assunto, apesar de que, no final, provavelmente, eu estivesse e esteja errado quanto a isso. Todavia, espero que vocês tenham gostado do texto, estou curioso quanto ao que acharam deste anúncio, então deixe sua opinião nos comentários. Então, é isso, obrigado por lerem até aqui, um bom novo Caderno da Morte e viremos a página até o próximo texto.