De vilão à herói: Hakaider

E voltamos com mais um Porão do Tokusatsu! Enquanto escrevo esse texto o filme do Venom estrelado por Tom Hardy está nos cinemas. Como muita gente por aí eu também achei completamente bizarro escolherem um vilão que é basicamente a versão maligna de um herói (no caso o Homem-Aranha) para ser o protagonista de seu próprio filme… E ainda fazerem isso separado do super-herói original! Mas aí que me toquei: um dos meus filmes favoritos de tokusatsu fez exatamente a mesma coisa! Hoje apresento pra vocês Mechanical Violator Hakaider!

Sinopse:

Na distópica cidade futurista de Jesus Town, o tirano Gurjev e seu anjo mecânico Mikhael controlam a população. Contra eles, um grupo de renegados luta para levar liberdade ao povo – e seu mais poderoso aliado é Hakaider, o misterioso androide esquecido pelo tempo.

©Bandai/Toei

Antes de falar do filme em si, um pouco de contexto: Hakaider surgiu em 1972, não como um herói mas sim o grande vilão do mangá/tokusatsu Jinzou Ningen Kikaider (Androide Kikaider), mais uma das criações do mestre Shotaro Ishinomori. Enquanto o Kikaider era uma máquina em forma humana que lutava contra suas emoções nunca sabendo se seguiria o caminho do bem ou do mal… Hakaider era mau. E eu não tô falando de “oh, ele era um rival que as vezes sacaneava o mocinho da história” não, Hakaider era 100% maligno, atacando inocentes e só se importando com seu único objetivo: destruir. Daí seu nome, que é um trocadilho com “Hakai“, “destruição” em japonês.

A popularidade de Hakaider era imensa, talvez até maior do que sua contraparte boazinha. Não é a toa que ele foi o primeiro escolhido para ganhar um filme solo quando a Toei Company (em parceria com a Bandai) decidiu dar nova vida à alguns de seus personagens mais antigos. O projeto ficou à cargo de Keita Amemiya, um diretor e designer que nunca escondeu sua paixão pelo gênero  e trabalhou em inúmeras produções, como Zeiram, Kamen Rider ZO, Garo e tantas outras. Com o carta-branca da Toei para fazer o filme do jeito que ele quisesse, Amemiya agora tinha duas opções: contar uma história de redenção onde as crianças aprenderiam uma valorosa lição sobre amizade e superação… Ou uma filme da mais pura e maravilhosa violência sem limites. Adivinhem qual ele escolheu!

©Bandai/Toei

Ignorando completamente qualquer ligação com sua série de origem, Hakaider nos coloca num futuro pós-apocalíptico em Jesus Town, uma cidade controlada por Gurjev, um déspota vestido como um cantor de Visual Kei e seu robô em forma de anjo, Mikhael. Em meio a essa ditadura terrível e opressora, um grupo de jovens forma uma rebelião para tentar libertar o povo – o que vai ser meio difícil já que eles estão armados com estilingues enquanto os guardas Gurjev tem metralhadoras.

No meio de toda essa treta, Hakaider desperta em sua prisão – ainda em sua forma humana, ele está acorrentado numa tumba subterrânea e sua memória está avariada. Sem saber exatamente qual é a sua missão, nosso “herói” faz o que qualquer “pessoa” normal faria: sobe em sua moto, pega sua shotgun e sai dirigindo pacificamente. Isso até encontrar os soldados de Gurjev atacando os rebeldes, aí sim ele parte pra porradaria! E meus amigos, que porradaria! Hakaider se transforma faz jus ao nome e destrói completamente os inimigos, esmagando cabeças, explodindo carros e botando fogo nos caras até que só sobram cinzas e poças de sangue.

Eu mencionei que os heróis desse filme se vestem de preto como demônios e os vilões de branco como anjos? SIMBOLISMO!

©Bandai/Toei

Os rebeldes são um bando de adolescentes genéricos completamente sem graça, tirando uma menina chamada Kaoru. Ela tem uma série de sonhos onde é salva por um misterioso cavaleiro negro, e é muito sutil a forma como o filme deixa implícito qu-OK, OK, é extremamente pretensioso e óbvio que ela tá sonhando com o Hakaider. Acho que o diretor estava sem graça de fazer um filme tão violento e quis colocar algum conteúdo mais artístico na trama. Irônico ele achar que alguém ligaria pra isso num filme onde até os prédios sangram. Não, eu não estou brincando.

A história de Hakaider pode não ser super complexa (a parte mais interessante é um chip de controle da mente que Gurjev quer colocar na população) mas tem seus momentos e não atrapalha. Afinal, é tudo apenas uma desculpa para vermos a ação rolando solta. Os designs de Amemiya são um show à parte, todos os personagens que usam armaduras (incluindo o próprio Hakaider, Mikhael e os soldados do vilão) tem um visual que lembra bastante os outros trabalhos dele em obras como Kamen Rider Black, Spielvan e Winspector. Os veículos, armas e cenários também são de cair o queixo – saudades dessa época mágica quando a Toei ainda se importava com essas coisas. Hoje em dia parece que o estúdio só reciclar os mesmos quatro cenários pra tudo…

©Bandai/Toei

Hakaider foi muito bem recebido pelos fãs japoneses e chegou até a receber um tenebroso jogo para o Sega Saturn com cenas do filme em FMV. O filme também chegou eventualmente nos Estados Unidos com o título simplificado de Roboman Hakaider, com direito a dublagem em inglês e um trailer com uma das melhores taglines de todos os tempos: Ruthless Justice? Or Satanic Evil? 

Com míseros 51 minutos, Hakaider é um daqueles filmes que te dá exatamente o que você quer sem perder nenhum tempo. A ação é frenética e os visuais dão água na boca, uma combinação difícil de ignorar! Se você quiser conferir a aventura solo do personagem que inspirou o MacGaren do Jaspion e até mesmo o Darth Vader (é sério mesmo, pode procurar) recomendo fortemente ir atrás dessa pérola.

O Porão do Tokusatsu fica por aqui, mas não deixe de comentar o que achou e deixar sua sugestão para o próximo texto! Estou pensando em explorar algo fora do Japão… Esperem pra ver!