Nenhum trabalho é fácil, como o trabalho de detetives como Jake Peralta e a delegacia 99. Não só o trabalho da polícia, como o trabalho de hospitais, situações de pânico, entre outros casos costumam ter uma retratação meio fria, com personagens que não se afetam com situações que mexem com a gente.
Entre piadas e personagens durões, o que mais causa impacto são os bordões para situações críticas que acabam esquecendo outras coisas, como o nosso envolvimento com o cenário. Muitas vezes a intenção não é ser empático, mas mostrar alguém que supera qualquer coisa. E quantas vezes nós podemos ser francos sobre como nos sentimos em algumas situações invés de bancarmos os fortes?
Quantas vezes você vê alguém falando “tenho medo, mas vou mesmo assim pelo meu dever”? Poucas. O usual é manter a frase “estava cumprindo meu dever” como se a pessoa só devesse cumprir a missão passada pelo Capitão Nascimento. Não que isso tenha algum problema, mas sejamos sinceros, nem todos tem esse perfil.
Assim chega Brooklyn 99 com quebra de padrão para os estereótipos criados. Mesmo com situações tropa de elite, existem os episódios (vários, se comparado com demais séries) em que a situação ou conflito apenas se resolve quando os sentimentos são expressados de forma sincera.
A maioria das vezes, os personagens falam claramente o que incomoda de maneira clara e madura “fiquei nervoso por estar frustrado em não saber como lidar com a situação”, “eu não quero que você faça alguma coisa, apenas quero que me escute mais”, “eu estou com ciúmes, que é uma emoção feia, e não quero aceitar isso”.
Um dos episódios marcantes da série é quando a detetive Rosa Diaz participa de um tiroteio enquanto os colegas aguardam notícias e não tem ações para fazer. É desesperador para a maior parte dos personagens perceber que podem perder os amigos, podem não estar mais presente na vida das pessoas amadas e protegê-las e o que eles podem fazer sobre a situação é somente falar sobre o que lhes aflige. O próprio seriado faz uma crítica dizendo que um filme sobre esse tipo de situação seria entediante. Mas não quer dizer que falar sobre os próprios sentimentos não ajude.
Entrar em contato com o que lhe torna frágil não é fácil, aceitar suas atitudes e seus sentimentos também não. Especialmente quando temos tanto exemplo de herois perfeitos inquebráveis na parte sentimental. Não é um problema ser o heroi forte que você quer, que supera os obstáculos sem problemas emocionais. E ser um heroi que fala das suas fragilidades, é empático e consegue ajudar os outros em suas fragilidades também não.
Não siga o padrão, siga aquilo que quer ser. Seja o heroi que quiser ser, mas seja com todo seu ser.