Rede de Ódio: Manipulação de alto nível

Estamos tão habituados às produções clichês e roteiros baratos que quase nos esquecemos que o cinema é a sétima arte, por sorte, existem pessoas que nos salvam da monotonia e reacendem o interesse por tramas bem contadas. Felizmente, este foi o caso de Rede de Ódio, dirigido por Jan Komasa e escrito por Mateusz Pacewicz, é um filme polonês que discute a manipulação dos comentários na internet, através dos haters.

O protagonista desta história é Tomasz (Maciej Musalowski), um jovem que saiu de um vilarejo para morar na cidade grande, com a intenção de estudar e vencer na vida, porém, no segundo ano de aula Tomasz comete plágio e acaba expulso da faculdade de direito. Seus estudos eram pagos pelos Krasuck, uma família rica de Varsóvia que costumava passar as férias na fazenda da família de Tomasz. De maneira inesperada e inapropriada o jovem resolve visitar esta família, que obviamente demonstra desconforto com a visita do rapaz e ainda caçoa de seus modos simplórios.

A partir deste ponto, identificamos um comportamento suspeito sobre o caráter do rapaz, pois ele demonstra ser mentiroso, ambicioso e ardiloso, enganando e desejando um posicionamento ao qual não lhe cabe. A princípio esse comportamento é motivado pelo afeto que sente por Gabi (Vanessa Aleksander), a filha mais nova do casal Krasuck, amiga de infância de Tomasz e que possui problemas psicológicos.

Tomasz, aproveita a noite em uma cidade grande e vai com um amigo em uma festa, lá ele encontra Gabi, que está totalmente alterada devido ao uso de drogas, sem ter consciência em seus atos começa a interagir com Tomasz e em seguida o ignora. Então, o rapaz começa a persegui-la, após alguns instantes ele a resgata de um cômodo isolado, totalmente fora de si e a leva para casa. Porém, antes disso, Tomasz encontra Beata (Agata Kulesza), diretora de uma famosa agência de Relações Públicas e faz uma proposta em troca de um emprego.

No dia seguinte as coisas começam a mudar para Tomasz, através de um comportamento agressivo e ousado, acaba impressionando Beata e consegue o emprego. Ao mesmo tempo, sabendo das condições que precárias que tinha ficado, Gabi se sente em dívida e convida Tomasz para uma festa de família, aproximando mais o rapaz de seus objetivos, na festa Tomasz acaba contando que não está mais na faculdade, o que foi um erro, pois ele acaba esnobado pela família novamente.

A agência de Beata é famosa, mas não pelos motivos certos, na verdade se trata de uma equipe especializada em disseminar o ódio pela internet, criando contas falsas, fazendo postagens discriminatórias e instigando o preconceito. São nesses parâmetros que o talento de Tomasz vem à tona e ele revela suas tendências sociopatas, instalando escutas, manipulando pessoas e destruindo vidas, tudo para alcançar suas ambições narcisistas.

Os acontecimentos que vão ocorrendo durante a trama são realmente impressionantes, nunca estivemos tão suscetíveis quanto agora, em tempos de conectividade, com a informação na palma da mão, temas como preconceito, homofobia, abuso moral e disseminação de ódio, foram muito bem explorados. A arma do sociopata moderno é a informação, obtendo ela o sociopata é capaz de provocar violência psicológica e física, manipulando pessoas tanto diretamente quanto sugestivamente, sem a menor ponta de empatia.

A atuação do elenco também é muito boa, com destaque para o Maciej (Tomasz), que incorpora totalmente seu personagem, suas expressões revelam uma pessoa totalmente fria e calculista, mas ao mesmo tempo com emoções a flor da pele, sendo capaz de ir do agressivo e explosivo, para a vítima injustiçada em um piscar de olhos, totalmente dissimulado. Não há como expressar, de maneira rápida e simples a mensagem que o longa transmite sem cometer algumas injustiças, mas fica a indicação para contemplar a história e se impressionar com ela.