As Horas: Um importante filme sobre depressão

As Horas (The Hours no original), baseado no livro homônimo escrito por Michael Cunningham, conta a história de três grandes mulheres, em três épocas distintas. Dirigido por Stephen Daldry, o longa do gênero de drama é liderado por três grandes atrizes renomadas de Hollywood, que fazem do filme um show de interpretações.

©Miramax Films

Nos anos 2000, temos Meryl Streep, que vive Clarissa Vaughn, uma editora de livros em NY decidida a dar uma festa em homenagem ao seu amante do passado, Richard (vivido por Ed Harris), um escritor que está morrendo vítima de AIDS.

Clarissa é chamada carinhosamente de Mrs. Dalloway por Richard, o que é uma referência ao livro de mesmo nome que liga as três protagonistas. Assim como a personagem título do livro, Clarissa tenta de todas as maneiras fazer com que a festa dê certo, apesar de a condição de Richard piorar a cada dia mais, fazendo-o perder as esperanças.

Em 1923, Nicole Kidman vive Virginia Woolf enquanto a mesma está escrevendo Mrs. Dalloway e lutando contra a depressão, as vozes que ouve e pensamentos suicidas. O filme começa com a cena de Virginia no lago onde acabou tirando a própria vida. Ela mesma lê a carta que escreveu para seu marido, Leonard, antes de colocar pedras em seu casaco e afogar-se em um rio perto de sua casa. O filme já começa impactante e marca o ritmo do longa, com suas protagonistas batalhando para superar seus próprios demônios.

Em 1951 vive Laura Brown (interpretada pela sempre incrível Julianne Moore) uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles. No dia da festa de aniversário de seu marido, Laura não consegue parar de ler o livro Mrs. Dalloway. Fascinada por sua estória, ela tenta escapar da realidade em que vive de qualquer maneira pois não se sente nem um pouco feliz com seu casamento e nem consegue demonstrar totalmente seu carinho pelo seu filho. A personagem também sofre de depressão e pensa várias vezes em tirar a própria vida, por se sentir presa à um lugar que não faz com que ela se sinta completa.

O roteiro, escrito por David Hare e pelo próprio Michael Cunningham, é quase impecável. O ritmo que os dois conseguem dar ao filme é magnífico e faz juz ao livro. A sequência de cenas, mesmo com a alternação de tempo na trama, são muito bem amarradas e fazem com que a história seja construída de maneira inteligente, apesar de sua narração não-linear. Viajamos de uma estória para a outra, mas o fato de elas estarem tão interligadas e os seus acontecimentos serem tão parecidos, mesmo que aconteçam de maneiras diferentes e em anos distantes, prende a atenção do espectador até o final, que é emocionante assim como o filme todo.

A trilha sonora de Philip Glass é linda, arrebatadora e perfeita para o clima dramático e melancólico do filme. As atuações dispensam comentários. As três atrizes entregam todo seu potencial e é possível perceber a atenção do diretor e o apreço dele por essas personagens. O destaque, no entanto, é de Nicole Kidman que levou o Oscar de Melhor Atriz naquele ano. Sua interpretação como Virginia Woolf é sem dúvida uma das mais incríveis e memoráveis de sua carreira. Ela conseguiu incorporar totalmente os trejeitos e a personalidade da escritora, fazendo-nos acreditar completamente que ela é Virginia Woolf. A equipe de maquiadores do filme também está de parabéns por deixar a atriz tão perfeita e convincente fisicamente para o papel.

As Horas é um filme dramático, que trata de depressão e da natureza humana de uma maneira sensível, por vezes sombria, mas inesquecível. Com atuações marcantes e tecnicamente muito bonito ele merece ser assistido por todos, sem exceção.