A Outra Terra – E se existisse outro planeta Terra?

A Outra Terra é um filme indie de ficção científica estadunidense de 2011. Dirigido por Mike Cahill e estrelado por Brit Marling e William Mapother. O roteiro foi assinado pelos dois e o próprio diretor que filmou o projeto. O filme estreou no festival de Sundance.

Na história, Brit vive uma jovem de 17 anos, Rhoda Williams, que é aceita no MIT e é fascinada por astronomia. Voltando de uma festa, ela ouve no rádio sobre o descobrimento de um planeta idêntico a Terra. Embriagada, envolve-se em um acidente sério de trânsito e acaba matando a mulher e filho de um homem, que acaba ficando em coma.

Quatro anos se passam e Rhoda já cumpriu sua pena. Ao sair da prisão, ela tenta se adaptar a nova vida. Ela também descobre que uma competição está acontecendo para levar uma pessoa até a Terra 2, como é chamado o planeta descoberto. Ao mesmo tempo, fica sabendo que o homem do acidente, John, saiu do coma e vive isolado em sua casa.

©Fox Searchlight Pictures

PRODUÇÃO INDEPENDENTE

A Outra Terra não é um filme de ficção científica que explora viagens interespaciais ou uma grande produção Hollywodiana. Até porque, por se tratar de um filme independente, o custo de produção é bem baixo. Foi o primeiro projeto criado em parceria por Brit Marling e Mike Cahill. Os dois ainda produziriam Sound of my voice juntos. No futuro, em parceria com Zal Batmanglij, Brit ainda criaria The OA, uma série da Netflix. Dá pra perceber que esse filme foi o ponto de partida da criação de Marling, que se aprofundaria em mais questões intimistas da vida humana em seus futuros projetos.

A criação do roteiro para o filme veio de uma ideia de Brit e Mike. Brit já falou em várias entrevistas que resolveu escrever suas próprias histórias por não gostar muito dos papéis que eram dados as mulheres na indústria do cinema. Ela então resolveu escrever e também produzir seus filmes, além de atuar neles. A fotografia fica por conta do próprio diretor, que usa muito de câmera na mão, movimentos mais livres acompanhando os personagens e também alguns zooms no rosto da protagonista para dar mais emoção.

A trilha sonora é muito bonita, feita pela banda Fall on your sword, que é muito marcante, principalmente na cena de abertura, que mostra uma imagem de Júpiter. O filme não deixa de ser uma carta de amor ao universo e a tudo que nele contém, mas esse não é o foco. O foco aqui são os personagens, pessoas normais, seus erros e suas escolhas. O que faríamos se pudéssemos tomar escolhas diferentes? Provavelmente seríamos outra pessoa, não é mesmo?

©Fox Searchlight Pictures

UM OUTRO VOCÊ

A premissa do filme é a de que existiria um outra planeta Terra que seria um espelho do nosso, ou seja, tudo que existe em uma, existe na outra. Isso inclui, claro, todos os seus habitantes. Seria uma oportunidade de conhecermos uma outra versão de nós mesmos. É uma ideia que poderia interessar a muitos ou, pelo menos, instigar a curiosidade. Será que seríamos os mesmos ou seríamos diferentes?

Isso é algo que chama a atenção de Rhoda, já que ela sofreu por ter seu futuro mudado depois do acidente. Ela tem a vontade de ir até esse outro planeta, já que não sabe mais o que fazer de seu futuro. Ela passa a trabalhar limpando uma escola e se isola muito das outras pessoas. Vemos que ela se tornou uma pessoa mais vazia, melancólica e introvertida. A possibilidade de talvez ela ter feito escolhas diferentes nessa outra Terra e levar uma vida completamente distinta a interessa.

Será que nesse outro lugar ela foi para o MIT? Será que o acidente aconteceu também como aconteceu nessa Terra? São perguntas que ficam no ar. O filme pode não agradar tanto pessoas que esperam por um grande plot de ficção científica, pois, como já dito antes, a intenção do filme é justamente usar essa ideia de uma outra Terra para explorar o mais fundo da alma humana.

©Fox Searchlight Pictures

UMA SEGUNDA CHANCE

Rhoda acaba se aproximando de John, quando vai visitá-lo para dizer que foi ela a responsável pelo acidente que matou sua família. O problema é que ela perde a coragem e mente para ele, falando que faz parte de uma empresa de limpeza. Mesmo não sendo sua intenção, os dois se aproximam cada vez mais.

Rhoda tenta seguir a vida e de alguma forma fazer com que os dias de John não sejam tão solitários. São duas pessoas unidas por uma tragédia. O filme nos mostra pessoas que sofreram e sofrem de alguma forma. Intercalados com imagens de Rhoda vagando pela cidade, temos a narração de um cientista. As falas dele, explicando sobre a outra Terra são provavelmente as melhores partes do filme. Ele nos traz dúvidas que são típicas dos seres humanos. Perguntas como: será que estamos sozinhos? E se eu tivesse tomado uma escolha diferente? O que gostaríamos de ver se pudéssemos olhar para nós mesmos de fora? Iríamos gostar do que vemos?

A aproximação de John e Rhoda é como uma segunda chance para ambos, assim como seria uma segunda chance para Rhoda viajar até essa outra Terra. O filme fala principalmente de segunda chance, autoconhecimento e sobre nossas escolhas e como elas afetam a gente e quem nós acabamos nos tornando. Já é sabido que possivelmente existam várias realidades alternativas atreladas a nossa. Cada decisão diferente que tomamos é um novo caminho que pode ser trilhado.

Outra Terra nos dá um lugar físico aonde isso poderia acontecer. Um lugar aonde um outro você existiria. As possibilidades são infinitas e as discussões sobre isso seriam bastante vastas. Mas a longa não chega a se aprofundar no que acontece depois que conhecemos essa “nova” Terra. Isso também pode não agradar, mas ao deixar em aberto, tudo fica livre para várias interpretações. Já que a premissa do filme nunca foi se aprofundar nisso, mas sim explorar o efeito dessa possibilidade nas pessoas.