Você já pensou como seria viver em uma sociedade que não se pode fazer piadas sujas ou tão pouco falar sobre qualquer coisa que tenha conotação sexual? O anime Shimoneta pode te apresentar muito mais do que apenas um ecchi genérico que tem em todas as temporadas do ano. Aqui quem apresenta o tema da vez é o Vulpixs, e vamos discutir sobre o temível futuro distópico japonês sem imoralidade.
Pra quem já conhece bem dos meus textos no NSV – Mundo Geek, sabe que eu gosto de debater as distopias apresentadas em animes. Um ótimo exemplo também é o texto sobre a distopia futurista de Psycho Pass que você pode encontrar aqui no site.
A distopia pode ser apresentada de várias formas contanto que ela retrate uma antítese utópica, ou conhecido no popular, um lugar ou estado ou estado imaginário vivida sob condições de desespero e opressão ou algumas das vezes como o caso de hoje, a privação.
Creio eu que não tenha uma forma melhor de explicar a abordagem do texto senão pelo próprio nome do anime “Shimoneta to iu Gainen ga Sonzai Shinai Taikutsu na Sekai”, que traduzido para o nosso idioma, ficaria: O Tedioso Mundo onde o conceito de Piadas Sujas Não Existem (Japão, por que você gosta de dar nomes tão compridos???) — Vamos continuar chamando apenas de Shimoneta que é bem mais fácil. E bem, o título já mostra um pouco no ponto que queremos chegar.
A trama de Shimoneta expõe um mundo distópico e futurista no qual a sociedade é privada de qualquer conhecimento considerado antimoral, além de monitorar todas as ações das pessoas para que elas não saiam desta bolha de ignorância. Tudo isso para que o Japão pudesse te tornar o país 100% moral, apenas censurando tudo que fosse obsceno. Sim, tudo mesmo e isso vai de palavras verbais e escritas, gestos com as mãos que possam ser assimiladas à conotações sexuais e até o próprio conhecimento sobre o sexo, a reprodução humana e também do funcionamento do órgão reprodutor masculino e feminino.
Resumindo, é um mundo onde as pessoas não sabem nada relacionado a sexo. Esta é uma lei entrada em vigor num tempo não muito distante de onde se passa o contexto do anime, portanto apenas poucos dos adultos e os mais velhos tem a compreensão da existência deste mundo cheio de imoralidade e livre de algumas décadas atrás.
Shimoneta usa da comédia como desculpa para trabalhar o seu objetivo com a obra, comédia esta que é uma das melhores formas de se trabalhar uma crítica social e moral com um país como o Japão pelos seus povos nativos não conseguirem nem dar a mão para o outro sem sentir vergonha. É um grande tapa na cara para trazer a tona o seguinte slogan: Por que falar sobre sexo ainda é um tabu?
Boa parte das distopias apresentadas em livros, séries, filmes, animes e mangás servem para nos acordar, fazer refletir sobre o estado atual que vivemos e se devemos nos atentar com um futuro sombrio como o de Shimoneta — Calma! Não estou dizendo que não poder fazer piadas com conotações sexuais seja motivo para tanto barulho, embora o anime dê esta desculpa para esconder a sua verdadeira mensagem por traz de seu roteiro.
Eu, Vulpixs, sempre tento me esquivar ao máximo de conteúdos relacionados ao gênero ecchi por não ter apego a 99% das obras apresentadas, que na maior parte das vezes, são tudo genéricos e com cenas de peitos balançando na sua tela, sem a preocupação de ter um roteiro por traz da história. Porém, o caso de Shimoneta que traz um ecchi conceitual, explora muito bem um alerta para o povo japonês. Alerta este ao declínio da taxa de natalidade no país nipônico.
Não é de 2020, de 2019 ou de 2018 que vemos a queda da população japonesa. Muito é por causa da baixa índice de natalidade que vem diminuindo e também pelo país estar com mais gente de idade a cada ano que se passa.
Ao assistir o anime com o cérebro desligado, pode parecer uma comédia como qualquer outro. No entanto, Shimoneta faz uma deixa interessante para o seu público. A informação é a maior arma para o homem desde os tempos da caverna até os dias atuais. A ignorância deixa uma pessoa burra. A falta de conhecimento sobre a reprodução humana, como abordado em um dos arcos do anime, traz um medo real para o nosso mundo. Afinal, se não sabem do funcionamento dos órgãos reprodutores, logo não estarão cientes de como repopular sua própria espécie. — Em um dos episódios, os adolescentes sentem tesão só de ver um vídeo de duas moscas se reproduzindo. Sim! É isso mesmo, tudo isso só enaltece ainda mais o quão estranho seria viver em um local e época como este.
E lógico! Quando umas ações opressivas e totalitárias como a privatização acontece, uma resistência tem de surgir para combatê-lo. Em uma distopia futurista como Shimoneta não seria diferente. No anime temos a oposição contra essas leis privativas, a “SOX“… Be, como eu explico essa sigla sem parecer tosco? Vejamos, “Sex happens most Often on Christmas” (Sexos acontecem mais no período natalino) parece um nome tosco pra você? Pois eu já nem sei mais o que pensar sobre tudo isso. Vale a pena dizer que para esconderem suas identidades faciais, eles colocam cueca e calcinha na cabeça para tampar o rosto? ÉÉÉÉÉ… Deixa quieto.
O nome SOX, além de ter um teor cômico para a comédia do anime e esconder a sua verdadeira mensagem, também é uma brincadeira com a palavra “SEXO” tanto na pronúncia quanto na escrita. No Japão, dependendo da forma escrita, a letra O pode ser definido também como um circulo ao invés do alfabeto romano. Este circulo representa uma incógnita, mais ou menos como serve o X na linguagem matemática, que pode ser atribuído a um valor indefinido. Logo, S”O”X pode ser também lido e quase pronunciado como conhecemos do inglês “SEX”. — Imagine que é aquelas despistadas de censura para que o filtro do Youtube não desmonetize algum vídeo por conteúdo ou conotação sexual.
Além disso não há nada de muito especial relacionado a distopia da privatização contra as piadas sujas, se não os próprios momentos de comédias e cenas bem… quentes eu diria. Para um bom fã de comédia e ecchi, Shimoneta to iu Gainen é um prato cheio de aprendizagens sociais, éticas e morais de uma maneira divertida.
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