Eu costumo pensar que algumas situações seriam resolvidas com muito mais tranquilidade se as pessoas tivessem tido a oportunidade de assistir determinados animes durante a vida. Não todas as situações, claro, mas, será que se as pessoas tivessem visto a história de Itachi em Naruto, elas ainda julgariam certos acontecimentos sem saber antes dos dois lados da história? E se elas tivessem visto Barakamon, será que ainda estariam com a mesma visão sobre o trabalho delas? Com Kakushigoto eu tenho essa mesma sensação: se as pessoas assistissem esse anime, será que elas entenderiam melhor a importância de criar memórias com quem se ama?
Kakushigoto é originalmente um mangá shounen de slice of life, escrito e ilustrado por Kooji Kumeta e seu anime está disponível na plataforma Funimation no Brasil, a obra conta a história de Kakushi Goto e sua vida como pai solteiro de Hime Goto, uma garotinha muito gentil de dez anos, e como mangaká de uma obra do gênero ecchi (sim, esse mesmo, aquele com cenas de fanservice um tanto quanto constrangedoras). Acontece que Kakushi faz de tudo para esconder da filha a sua profissão, com medo do julgamento que ela teria sobre ele mesmo e as consequências que a opinião dela teria na relação dos dois.
O anime tem uma comédia quase frenética, Kakushi se vê muitas e muitas vezes em situações completamente inesperadas que ele precisa contornar para que sua filha não descubra nada sobre a sua profissão. Mas, por trás de toda a comédia ácida e acelerada, temos a preocupação de um pai com as memórias que sua filha teria da sua infância e da relação com ele mesmo.
Kakushigoto tem momentos de muita ternura em meio à toda a aceleração da comédia. Durante os momentos de interação entre pai e filha, é inspirador ser espectador da preocupação que um tem pelo outro. Kakushi se preocupa com a falta que a mãe faz na vida de Hime e tenta ser um pai que compense esse sentimento de alguma forma, apesar de a mãe ter deixado presentes muito inteligentes para a filha: uma caixa para cada ano de aniversário de Hime. A cada ano que se passa, Hime abre uma caixa e, nela, sua mãe deixa objetos que constroem as memórias de quem ela foi. Enquanto Hime, no auge de seus 10 anos, se preocupa se o pai é uma pessoa de sucesso, se ele é uma pessoa pobre, ou se o chefe dele é uma pessoa importante.
Todo o anime traz uma atmosfera muito divertida que, no final das contas, se resume a um pai que quer criar memórias inesquecíveis com a filha que tanto ama. Apesar de ser workaholic, de ter seus medos e seus corre corres do dia a dia, Kakushi nos ensina que acima de tudo, quando desaparecermos desse mundo, o que vai ficar são as lembranças de momentos que, às vezes não são tão inesquecíveis, como escovar os dentes juntos conversando sobre o dia, mas que constroem uma relação próxima de afeto.
Por fim, a importância de assistir Kakushigoto está nessa construção que devemos ter com quem nós queremos bem, com quem nós amamos. É preciso dar importância aos detalhes da convivência, ouvir e ser ouvido, se preocupar com alguém e até mesmo preocupar alguém. E essa é sim, uma das coisas que eu queria que todos soubessem distinguir e é por isso que gostaria de que todos assistissem Kakushigoto.