O Meio Ambiente é uma questão sensível para ser trabalhada. Nós, seres humanos, ao longo de nossa História de manipulação de recursos do planeta Terra, causamos transformações que são ao mesmo tempo engenhosas e belas tanto como assustadoras e destrutivas: andamos por todos os continentes, atingimos as estrelas, poluímos nossas águas, e também extinguimos espécies. Os efeitos negativos, infelizmente, vêm se acumulando cada vez mais, gerando desastres que atingem tanto os humanos como os outros seres vivos dos ecossistemas – dando a sensação de que a natureza está lutando contra nós. E se essa impressão fosse verdadeira, e se o meio ambiente brigasse de volta pelo espaço perdido? Pom Poko – A Grande Batalha dos Guaxinins oferece umas respostas a esse cenário.
Atenção: o texto contém spoilers
Não é de hoje que eu elogio as obras do finado Isao Takahata. Cativante em sua sensibilidade de trazer à tela narrativas cheias de nuance e sem respostas exatas, em Pom Poko ele foca na dualidade natureza versus humanidade como tema central. Lançado em 1994, o longa-metragem de quase duas horas aborda os esforços de uma comunidade de tanukis (cão-guaxinim ou cão-mapache em Português) em evitar que humanos destruam sua floresta por razões de construção civil. O filme explora o sentimento de perda, pertença, e a perseverança de animais antropomorfizados para manter o seu lar.
Não gostaria ter de bater na mesma tecla que aqui explorei, no entanto é impossível afastar a dimensão ambiental das obras do Takahata, especialmente em Pom Poko – a obra que torna central essa temática. Assim como há a dualidade entre paisagens urbanas e campestres em Memórias de Ontem, e sobrenatural contra o ordinário no Conto da Princesa Kaguya, Pom Poko mescla esses conflitos de uma forma intimamente japonesa, trazendo uma ótica oriental à discussão ambiental no audiovisual.
O Japão é um exemplo único no seu tratamento dessas oposições temáticas. Conhecida por abraçar fortemente suas tradições e também por amar robôs gigantes, a Terra do Sol Nascente é um cenário muito vívido e complexo para ser explorado. Em Pom Poko, os protagonistas tanukis se agarram aos seus costumes como uma forma de transmitir sua liberdade e essência, entretanto os humanos que os antagonizam não são vistos puramente como uma força destruidora e cruel: somente opositora. Nós também precisamos ter moradias, afinal de contas. O filme busca portanto um equilíbrio de princípios.
Após tanto lutar para manter seu lar, infelizmente os tanukis perdem. Seguindo a história real, os animais tiveram seu hábitat destruído pelo progresso, e seu espaço substituído por complexos habitacionais, obrigando os sobreviventes a se adaptar à paisagem urbana – comendo restos e com vidas curtas, mudar-se para o interior, ou usar seus poderes de transformação para viver como humanos. Uma tragédia sóbria para um filme tão marcado por visuais adoráveis e coloridos.
A esperança, contudo, revela seu brilho ao final: depois de perderem tudo, os tanukis ainda têm uns aos outros, e juntos podem ainda celebrar sua cultura. Enquanto ainda existirem deles, é possível manter o sonho.
Takahata foi muito fortuito ao reconhecer a necessidade da harmonia entre progresso e tradição: é necessário manter um convívio saudável para uma existência plena. A animação com ares juvenis própria do Estúdio Ghibli foi muito certeira com sua crítica ambiental, inclusive virando-se para a audiência e pedindo “Faça a sua parte”. Hoje, em meio a uma crise sanitária no meio de uma crise ambiental ainda maior, Pom Poko torna-se ainda mais relevante quando pensamos em sua mensagem de companheirismo e equilíbrio. O que mais podemos fazer senão buscar a harmonia?
Pom Poko está disponível no serviço de streaming da Netflix.