Erased: o que nós poderíamos ter feito de diferente?

Não é incomum se perder perguntando vários “e se?”. E se eu tivesse me esforçado mais? E se eu soubesse que aquele abraço tinha sido o último? E se eu tivesse uma segunda chance para fazer o certo? Não é muito produtivo pensar nos caminhos secundários, afinal, só podemos seguir em frente diante de cada acontecimento, seja bom ou seja ruim. Erased (ou Boku Dake ga Inai Machi, “A Cidade Onde Só Eu Não Existo”), no entanto, abraça a oportunidade de explorar várias possibilidades não trilhadas, e responde o que é capaz de acontecer se você puder fazer tudo diferente.

Baseado no mangá homônimo lançado entre 2012 e 2016 do Kei Sanbe, a animação de doze episódios estreou em 2016, obtendo uma recepção positiva. A série explora a jornada de Satoru Fujinuma, um homem de 29 anos em 2006 que sofre “Revivals”, um tipo de viagem no tempo que ele volta uns minutos no passado para impedir algum acidente de acontecer. Quando a sua mãe, Sachiko Fujinuma, é assassinada por uma figura sombria e ele acusado da sua morte, um “revival” intenso é engatilhado causando o retorno de Satoru à 1988, quando tinha apenas 11 anos e crimes misteriosos ocorreram em sua cidade natal. Agora criança, ele se enxerga no dever de impedir as desgraças de se concretizarem.

Erased é um desenho sensível, já adianto de antemão: seu protagonista se permite se importar com as pessoas ao seu redor e fazer a diferença em suas vidas. Essa empatia e desejo de ajudar o próximo são a sua força, seu propósito, porém também seu ponto fraco, o jogando em situações perigosas apenas para salvar alguém. Essa qualidade foi também aquilo que o fez carrregar uma grande culpa desde a infância, quando não pode impedir o assassinato dos Kayo Hinazuki, Hiromi Sugita, e Aya Nakanishi. Determinado, ele se aproxima desses três personagens para evitar que o assassino dessas crianças volte a repetir seus crimes no futuro e acabe matando sua mãe também.

A narrativa é desenvolvida com competência e graça, construindo com eficiência um tom de suspense que permeia todos os episódios. Sendo uma adaptação de uma mídia estática para audiovisual, seu diretor Tomohiko Ito comentou em entrevista ao Crunchyroll a sua preocupação em como transmitir as mensagens da obra no novo formato. Ele disse o seguinte:

“O programa pode ser rotulado como ‘viagem no tempo’, o que torna fácil para reutilizar cortes de coisas que já aconteceram, mas não queríamos fazer isso. A palavra ‘revival’ aparece bastante na história, sabe? É tratada como ‘replay’, como se repetíssemos um filme […]. Nós decidimos usar isso como uma metáfora, e mostramos as bordas de um rolo de filme aparecerem na estética.”

Diante da oportunidade de mudar o futuro sombrio, Satoru seguiu adiante e pôs a sua vida em perigo múltiplas vezes, na mais pura esperança de que as pessoas cujas vidas foram interrompidas tivessem um amanhã. Caminhando entre as suas formas de 11 e 29 anos, a sua segunda chance molda o presente, barganhando chances de fazer a coisa certa, mesmo que ele não saia vivo como resultado.

Erased é uma série empolgante, repleta de sentimentos genuínos, e plena na sua execução. Fez-me refletir sobre os caminhos não trilhados e nas consequências possíveis dessas rotas. Satoru teve a oportunidade de mudar o seu próprio futuro, mas e você, o que faria caso pudesse também?

Erased pode ser visto em sua totalidade pelo serviço de streaming da Crunchyroll.