Bishounen Tanteidan (ou Pretty Boy Detective Club), do mesmo criador de Monogatari Series (e isso é bem importante), Nisio Isin, teve sua estreia animada nesta temporada de primavera de 2021. O anime nos apresenta a protagonista Mayumi Dojima que estuda na escola particular Yubiwa e está em busca de uma…. coisa (digamos assim) que ela viu dez anos atrás. Logo, ela se depara com o Clube de Detetives Bonitos que tem sua sede na sala de artes do colégio.
No decorrer dos primeiros momentos de Bishounen Tanteidan, somos apresentados também a 5 rapazes muito peculiares e excêntricos: Manabu Soutouin, presidente do clube de detetives e com um senso de estética muito forte; Michiru Fukuroi, gastrônomo do grupo (o que é interessante pelo intuito de colocar a gastronomia como uma área da arte), Hyouta Ashikaga, considerado como o de rosto (e pernas?) angelicais, Sousaku Yubiwa, extremamente inteligente, é o escultor dos detetives e, Nagahiro Sakigushi, o da voz perfeita e vice presidente do clube.
Acho que já deu pra perceber que cada um dos personagens do clube tem uma característica voltada para a estética, e isso reflete tanto nos character designs, como nas personalidades de cada um deles. É interessante assistir aos primeiros momentos do anime e perceber que essas teclas sempre são batidas, os termos “estética”, “beleza” e “belo” rodeiam todo o plot dos episódios de uma forma não cansativa, mas que deixa claro o quanto isso é importante para o entendimento do anime.
Estética vem da palavra aisthetiké, de origem grega, e significa “aquele que nota, que percebe”, é conhecida como a filosofia da arte, ou seja, é o estudo do que é o belo nas manifestações artísticas e naturais, esses estudos foram desenvolvidos por Platão e, em seguida, rebatidos e novamente estudados por Aristóteles. Durante séculos e séculos posteriores, vários filósofos tentaram e ainda tentam explicar a teoria da beleza e o que, afinal, seria belo.
Em Bishounen Tanteidan, o conceito é uma das vertentes de estudo mais atuais, se assemelhando com a estética neoplatônica, onde ela é uma filosofia que remete para a beleza e também aborda o sentimento que alguma coisa, ideia, ação, ideologia, etc, despertam dentro de cada indivíduo, ou seja, sendo uma manifestação do espírito.
Isso fica muito claro logo nos primeiros episódios, onde o espectador começa a entender um pouco melhor que o “bonito”, tanto dito pelo presidente do clube, não é necessariamente um “bonito” aos olhos, físico, mas pode ser também uma visão de valor moral. Quando a nossa protagonista Dojima sofre uma tentativa de suborno, para não contar a ninguém um fato que ela presenciou (isso acontece no episódio 3), ela prontamente recusa a proposta e solta a frase “esse jeito de levar a vida não é nem um pouco bonito”, parafraseando o presidente do clube.
Temos também o conceito de “menino” que nos é apresentado logo no início, com as “regras do clube”. Além de ser belo para ingressar, você também precisa ser “menino”. Esse termo, no início da obra, entendemos se referir ao gênero dos personagens, você não poderia ser “menina” para estar no clube, mas, no decorrer do episódio, entendemos que não é sobre gênero que a regra se refere, mas sim ao estado de espírito de “ser criança”, “ser infantil”, “Ter pureza no coração”, também um conceito de estética, vindo de Platão, do ser “bom”.
A teoria de que o autor realmente pensou em todos esses conceitos enquanto produzia a obra, é muito provável, uma vez que Monogataria Series, sua obra anterior, também é um anime com muitas referências à religiões e filosofias nipônicas, resultado de muito estudo e pesquisa da parte do autor.
Bishounen Tanteidan está sendo exibido na plataforma Funimation desde Abril deste ano. A obra completa conta com Novels (material original) publicadas pela Kodansha e uma série de mangás inspirados, criados por Suzuka Oda. O estúdio responsável pela animação é o SHAFT, o mesmo que também produziu Monogatarie Series e Puella Magi Madoka Magika, o anime ainda conta com uma opening super divertida, com uma pegada contagiante protagonizada pela música Shake&Shake do artista Sumika (mesmo que canta a abertura de Wotakoi – o amor é difícil para os otakus).