O recente drama turco, Um grito de liberdade – Annem, é um daqueles filmes que te tiram o fôlego e chega com exclusividade no Cinema Virtual. Com a direção de Mustafa Kotan, o filme conta a história de uma família de origem humilde e de uma mãe com uma dedicada, que sofre com as limitações do lugar onde nasceu, assim surge sua vontade de ver a filha tornar-se uma pessoa diferente, com conquistas maiores. O contexto da trama é baseado na relação entre mãe e filha e de início já é possível perceber que o filme terá uma conclusão pesada, bem característico dos dramas turcos, que não hesitam em utilizar muito sofrimento e cenas chocantes, capaz de provocar até mesmo aquelas pessoas que se orgulham de sua força emocional.
A história se inicia em uma pequena vila, onde Ayse (Sumru Yavrucuk), já em idade avançada consegue realizar seu desejo e ter uma filha, Nazli (Ӧzge Gürel). Por ter crescido em uma condição difícil, Ayse não pôde estudar, casou-se muito cedo e foi obrigada a se submeter a um marido rude e que não lhe demonstrava amor. Com todo esse histórico de vida, ela decide que não permitirá que sua filha siga o mesmo destino, sempre protegendo-a, busca oferecer todas as oportunidades que não teve.
Nazli, por sua vez, fica alheia as limitações que a cercam, nunca entendeu e valorizou sua mãe, sempre sentindo vergonha das manifestações de carinho expressadas por ela e se recentindo pelas atitudes grosseiras e violentas de seu pai, Osman (Tuna Orhan) , seu único desejo é ser aceita por uma faculdade para assim poder sair daquele lugar. Este desejo acaba se tornando realidade e Nazli consegue uma vaga em Istambul, inicia-se então seu grito de liberdade.
Em Istambul Nazli procura por de Nesrin (Fatma Toptas), por indicação de amigos de sua mãe, Nesrin lhe dá abrigo e um emprego, permitindo que Nazli continue seus estudos e persiga seus sonhos. Neste período Nazli também conhece Mert, (Sercan Badur) por quem se apaixona; seu relacionamento fica escondido por um longo período, Nazli, sabendo das condições de seu namorado, evita contato com sua mãe, por receio de passar vergonha novamente.
No entanto, o casal apaixonado resolve se casar e para que isso aconteça era necessário que as famílias se conheçam. Mesmo exigindo um grande esforço, a família de Nazli concorda em ir a um jantar com os pais de Mert, mas devido a grande diferença socia eles acabam sendo humilhados e a discussão quase resulta no término do relacionamento, fato que desperta ainda mais a ingratidão de Nazli.
Ayse nota a infelicidade de sua filha e se sacrifica mais uma vez, abaixa a cabeça e, mesmo sem nenhuma culpa, implora por perdão a mãe de Mert, que a trata com desdém. Como ultimo recurso Ayse então propõe um acordo, se sacrificando ainda mais, o casamento seria realizado e em troca ela e seu marido sairiam da vida de Nazli. Assim, ela abre mão da convivência e do contato com sua filha.
Neste período coisas importantes acabam acontecendo, o pai de Nazli falece, o que faz com que ela perceba que nutria um certo carinho por ele e, sentia a ausência de carinho dele por ela. Em meio ao velório, ela anuncia que está grávida, um grande acontecimento para ela e Mert. Seu filho nasce um pouco debilitado e Nazli não tem a chance de ao menos pegá-lo nos braços antes que ele também pereça. A morte de seu filho desencadeia um sentimento de incapacidade em Nazli, que começa enxergar as atitudes de sua mãe com mais clareza, mas esta tristeza não impede Nazli de continuar agindo de forma cruel com ela.
Ayse volta para o vilarejo, decide continuar levando a vida e não incomodar a filha neste período de luto, mas algo inesperado acontece, Nazli também retorna ao vilarejo, disposta a se reconciliar com sua mãe e alcançar o perdão. Porém, novas surpresas justificam seu retorno a vila onde nasceu e talvez possa ser tarde demais.
O filme retrata uma intensidade entre o amor e a ingratidão que se mesclam e nos angustia. Ele mostra um cenário, muito comum dentro das famílias, enfatizando os sacrifícios feitos pelos pais, enquanto seus filhos agem com desdém, se envergonhando ou menosprezando o que recebem. Mesmo quando os filhos não são gratos por tudo que é feito, o amor dos pais não diminui, mesmo quando não existem mais possibilidades de se proteger um filho, eles gastam os últimos esforços, pois não existe entrega maior do que o amor fraternal.