Se há uma coisa em que eu acredito é na capacidade da arte, qualquer que seja essa, de fazer a diferença na vida de alguém. É a arte que inspira cada colunista do NSV – Mundo Geek a compartilhar com o mundo um pedacinho de si periodicamente. É o amor à criação que permite o surgimento de novas técnicas, aplicações, e sonhadores, prontos para inspirar futuras gerações as quais, por sua vez, farão sua parte suscitando o mesmo encanto artístico em seus sucessores. Essa mágica experiência estética de descoberta de uma paixão é o que abre o brilhante Keep Your Hands Off Eizouken! (2020).
Keep Your Hands Off Eizouken! (ou, como chamarei doravante, Eizouken) explora os desafios de produzir animação a partir do ponto de vista de três colegiais: Midori Asakusa, tímida e brilhante em designs e concept arts; Sayaka Kanamori, a calculista mente organizadora; e Tsubame Mizusaki, a carismática animadora dedicada a movimento e personagens. Separadas, são muito competentes em seus setores, porém uma vez unidas, é como se fossem capazes de transformar o mundo através das suas criações.
Op
Originalmente um mangá, Eizouken é uma série muito felizarda em questão de como a mídia (animação) pode ser explorada e explicada dentro da narrativa. O comunicólogo canadense Marshall McLuhan em seu livro “O Meio é a Massagem” traz a máxima “O meio é a mensagem”, a qual afirma que a forma como uma determinada informação é transmitida é tão importante quanto o conteúdo, já implicando um próprio significado em si. Dessa forma, Eizouken consegue extrapolar o formato propondo uma meta-animação – um desenho sobre fazer desenho – que estuda os limites da mídia, aborda os conceitos dessa e os ilustra, aproveitando ao máximo as características que essa arte tem.
Como amante de animação, a sinopse desse desenho me intrigou profundamente e, desde a primeira vez que eu pus os olhos nessa série, eu me apaixonei. Ao longo dos seus 12 episódios, Eizouken destrincha de maneira realista o passo-a-passo na produção animada, levando em conta os escassos recursos disponíveis às protagonistas colegiais. Diante das adversidades, as três debatem, brigam, e refletem em cima das opções, demonstrando um respeito profundo e mútuo pelo que cada uma traz à mesa. É uma obra emocionante, desafiadora, cheia de personalidade e, acima de tudo, muito divertida.
Logo no primeiro instante, cheio de significado, é possível ver o carinho derramado pelos criadores da série, uma carta de amor à animação. Em entrevista ao Crunchyroll, a produtora de Eizouken, Eunyoung Choi teve a sua energia criativa comparada às das protagonistas, as quais têm as cabeças cheias de sonhos. Ela disse o seguinte: “Quero dizer, eu ainda tenho [essa energia juvenil], mas é diferente hoje em dia. É como se eu tivesse agora um ponto de vista mais realista. Você ainda precisa passar por certos processos e precisa falar com as pessoas certas ou a equipe correta. Às vezes não é um divertimento puro, 100% [fazer um desenho]. Você precisa pensar de maneira lógica e entregar o produto pontualmente. Por outro lado, quando você vê as meninas em Eizouken simplesmente se divertindo no processo, aquele sentimento [jovial] retorna. É algo que a gente se esquece fácil.”
Eizouken é uma produção fantástica, dotada de uma aplicação fabulosa da metalinguagem, no entanto, acredito que o seu verdadeiro brilho repousa nas relações humanas. As três meninas são únicas, sensíveis, e diferenciadas. Genuínas companheiras, elas ressaltam umas nas outras o que há de melhor. Suas interações soam sinceras e demonstram um amor dedicado tanto à animação como à sua amizade.
Arte é o tipo de produção com o mais notável caráter transformador, e Eizouken é a prova de como uma obra pode abrir e metamorfosear indivíduos para a sua melhor versão.
Você pode assistir a Keep Your Hands Off Eizouken! no serviço de streaming do Crunchyroll.