Overdose, depressão, assédio, violência: esses foram os ingredientes da espiral traumatizante que acompanhamos ao longo das cinco primeiras temporadas de BoJack Horseman. Após o acúmulo de tanta miséria, observamos o personagem titular colapsar e enfim buscar ajuda e responsabilidade pelos seus atos. Finalmente, ao final de 2019, um momento de reflexão e, quiçá, superação na primeira metade da sua última temporada.
No decurso dessa série semanal de críticas, é notável o meu foco na tragédia do protagonista equino. Intencionalmente, explorei estritamente a jornada de grandes desgraças e pequenas vitórias de BoJack, afinal através de suas ações pudemos examinar com atenção os temas que a equipe por trás da série quis abordar: mudança, responsabilidade, saúde mental, relacionamentos de quaisquer naturezas, entre outras. Ele, mais do que o resto do elenco, recusava autocrítica e essa impassividade movia a história, ainda que de uma maneira torta. Nesta nova fase, até que enfim!, ele pode alcançar seus amigos, e todos os arcos narrativos podem se fechar.
De qualquer forma, não poderia deixar passar a oportunidade de fazer alguns breves comentários sobre o elenco principal. No caso do personagem central que aqui ainda não havia mencionado, Todd Chavez (Aaron Paul) – um sujeito que simplesmente acabou morando no sofá do BoJack por anos a fio – a progressão narrativa foi a menos linear. Como se os criadores não tivessem um propósito claro para ele, Todd passa por aventuras bizarras mantendo seu bom humor e sua disposição. Desde sempre atencioso, ele brilha com sua atitude humana e, ao final da sua rota, ele está confortável com a sua identidade assexual e seu lugar no mundo.
Princess Carolyn, a minha personagem favorita inclusive, sempre foi uma gata inquieta, ansiosa para conquistar o mundo completamente independente. Por essa razão, seus relacionamentos amorosos explorados duraram tão pouco: ela não se permitiu ser vulnerável. Quando realizou afinal seu sonho de ser mãe (adotando a pequena Ruthie), Princess Carolyn aceitou que não precisa fazer tudo sozinha.
Os dois principais a seguir são o ex-casal Mr. Peanutbutter e Diane Nguyen. Ele é um Labrador Retriever risonho que também é mais incapaz de auto-crítica que o BoJack (sim); ela uma sarcástica e melancólica escritora humana. Ela não comunicava muito suas necessidades, e ele não ouvia quando ela falava. Fadados ao fracasso, divorciam-se e cada um segue ao seu canto, prontos para um novo relacionamento que podem se sentir como eles mesmos.
BoJack, por fim, aceita os erros do passado e tenta seguir adiante sem empurrar tudo para debaixo do tapete. É isso: todos encaminhados e a cada dia tornando-se pessoas melhores do que foram no dia anterior. O último episódio dá pistas que essas boas vibrações não vão durar muito na metade final da sexta temporada, porém foi muito bom enquanto durou.
Em retrospectiva, chegar ao final de um ciclo nunca é fácil. Após semanas revendo episódios centrais de BoJack Horseman, apaixonando-me novamente pelos dilemas dos personagens e como esses são explorados no programa, alcançar a última etapa deixa-me extremamente saudosa, mesmo ainda não tendo assistido ao desfecho de fato. Semana que vem, eu devo estar pior. Mal posso esperar.
Você pode assistir a BoJack Horseman no serviço de streaming da Netflix.