Branca de Neve e Os Sete Anões: o começo de um império

Antes de seu nome ser sinônimo com conglomerado de comunicação e capitalismo desenfreado, Walt Disney era apenas um sujeito muito interessado em animação, na época uma mídia ainda muito nova. Vanguardista e com faro para negócios, Disney revoluciona completamente a indústria lançando em 1928 o primeiro desenho animado que sincroniza imagem e som, Steamboat Willie aquele do Mickey no barco. Esse primeiro momento é conhecido por muitos entusiastas como o início do império dessa empresa, no entanto argumento que esse instante viria apenas em 1937, com Branca de Neve e os Sete Anões.

Branca de Neve é baseado no conto folclórico homônimo recolhido pelos irmãos Grimm, uma narrativa que, convenhamos, não precisa de introduções, afinal todos nós conhecemos a vida infeliz dessa menina que quase foi morta pela sua madrasta. Na época, Walt Disney optou por adaptar um conto de fadas conhecido tanto para chamar a atenção do público que já conhecia a história quanto para não pagar por direitos autorais de qualquer outra obra. O êxito obtido com essa estratégia foi, certamente, sem precedentes.

Além de ser o primeiro longametragem inteiramente de animação da história, a película obteve na sua receita sete vezes o valor do seu orçamento, recebeu óscar honorário por inovação técnica, além de indicação à categoria de melhor trilha sonora. Em cima disso tudo, é o primeiro filme dublado profissionalmente no Brasil, em 1938. Steamboat Willie pode ter chamado a atenção ao cartoons do Disney, mas Branca de Neve levou seu nome ao estrelato. Graças ao sucesso estrondoso dessa produção, Walt pode solidificar a sua imagem e da sua empresa como a de produtores de sonhos, voltados ao entretenimento para a família. Branca de Neve portanto abriu as portas do estabelecimento de uma indústria inteira.

Premiação do óscar honorário ao Walt Disney pela atriz mirim Shirley Temple. Crédito: Arquivo do Óscar

O filme, apesar de sua história impressionante, é simples, quase humilde. Seus personagens não possuem muita nuance: Branca de Neve é uma donzela em perigo, pura e amável; a Rainha Má é, como o nome indica, inequivocadamente cruel; os Sete Anões (Mestre, Zangado, Atchim, Dengoso, Soneca, Dunga, e Feliz) são arquétipos, sem personalidades definidas; e o resto do elenco é irrelevante. Surpreendentemente, esses rascunhos de personagens conseguem segurar uma narrativa inteira.

A história é em seu cerne um conto de fada e, mesmo traduzido para o audiovisual, se comporta como tal: tem desafios para sua protagonista, lição e, como a maioria, um final feliz. Disney, todavia, capitalizou na animação, o que resultou no casamento brilhante de técnica e conteúdo. Branca de Neve é um desenho animado extraordinário, especialmente para o período, com cores marcantes e construção de tensão inacreditável. A trilha é muitíssimo boa e não é por menos que recebeu a indicação ao óscar.

Disney é a ambivalente produtora de sonhos, encantando multidões desde o seu primeiro longa: fez parte da minha infância, da infância da minha mãe, e provavelmente da sua também. Independentemente da minha opinião como os negócios são feitos por esse conglomerado, admito que seus métodos funcionam e continuam cativando, 82 anos depois da sua verdadeira estreia no mercado.