Olá pessoas, nós somos as Lanternas de Tinta, juntas nós formamos um clube do livro. Então, por esse motivo, sempre trazemos para vocês colunas sobre o mundo literário. E hoje, por isso, pela primeira vez em nossas colunas, teremos uma entrevista rápida com um escritor brasileiro aclamado na vertente de literatura fantástica: Raphael Draccon. Mas antes trazemos uma breve apresentação de sua carreira. Além disso, pode encontrar o resto do texto AQUI.
“Raphael Draccon é romancista best-seller e roteirista premiado pela American Screenwriter Association. Foi considerado pela Revista ‘Isto É’ como um dos dez escritores mais influentes do mercado brasileiro. Com sua principal trilogia de fantasia ‘Dragões de Éter’ chegou ao primeiro lugar no Brasil, quarto lugar no México e também foi publicado em Portugal. Com a marca de 500 mil exemplares vendidos, teve seu trabalho citado por Walcyr Carrasco na novela Amor à Vida e seu nome por Paulo Coelho em Frankfurt como um dos autores que move o mercado nacional.
Também foi script doctor para a O2 Filmes no projeto de Fernando Meirelles com a Universal Pictures e Focus Features. Em 2015 entrou para o time de roteiristas da Rede Globo de Televisão, participando de Supermax e projetos da Globo Filmes. Em 2019 estreou como roteirista e produtor executivo na Netflix. Atualmente vive em Los Angeles após receber um Einstein Visa do governo americano como ‘Aliens of Extraordinary Abilities’, onde trabalha para cinema e TV.”
Fiquem agora com a conversa entre o clube e Raphael Draccon:
Então Draccon, qual a diferença do mercado literário, no ramo de livros que focam no fantástico, desde a época que você começou com seu trabalho na área, até os dias atuais?
Quando eu comecei não havia o mercado de literatura fantástica nacional estabelecido nas grandes editoras. A fantasia nacional estava mais concentrada em nichos, antologias e editoras menores dispostas a arriscar no gênero. Desde então houve uma abertura de mercado, e o público passou a abraçar esses autores, mudando inclusive a dinâmica de eventos literários como feiras e Bienais, não apenas no gênero fantástico, mas também no de jovem adulto.
Como é ser um dos motivos da literatura brasileira se espalhar entre o público jovem e adulto no exterior?
Pra consolidar o mercado que temos hoje foi preciso muita luta. Foi preciso enfrentar o preconceito dos editores, que não achavam comercialmente viável, foi preciso enfrentar a desconfiança do público, que estava acostumado a ler apenas os autores estrangeiros no gênero, e apenas o ato de ser escritor em si já é uma decisão que exige muita certeza, pois não há receita, nem garantias. Então poder viver disso e ainda inspirar jovens escritores é um sonho realizado.
Sobre as adaptações para o cinema, temos alguns péssimos exemplos que não vamos citar vindos da grande Hollywood. Você confiaria no cinema brasileiro no nível atual para produzir um bom filme de aventura e fantasia? Acha que estamos prontos para esse passo?
Pronto o cinema nacional está, mas a dificuldade está no orçamento. Existem poucos diretores ainda que sabem lidar com isso, não por falta de talento, apenas experiência, já que há a falta de prática pelo histórico da nossa cinematografia se concentrar mais em outros temas mais viáveis em termos de produção, como as comédias. Filmes de fantasia e aventura exigem muitos efeitos, tanto no set quanto na pós-produção, e o público brasileiro, por estar acostumado com as séries americanas, exige que os dos produtos nacionais estejam no mesmo nível. Esse é o maior desafio.
Você gostaria de ter algum livro seu adaptado para as telas? Qual deles seria o primeiro se fosse uma escolha exclusivamente sua? Por quê?
Dragões de Éter é a série me trouxe até aqui, e a que os leitores mais gostariam de ver. Já me fizeram diversas propostas no Brasil por adaptações, de jogos de celular à série animada. Mas mesmo as que eu dei uma chance não conseguiram entregar pelo motivo citado anteriormente: orçamento. Isso é tão verdade, que hoje em dia nós vemos diversos projetos criativos utilizando o financiamento coletivo para saírem do papel e não dependerem de editais e patrocínio de empresas.
Algumas pessoas pensam que as fantasias são apenas mentiras, algo que não existe e, portanto, não alcançam a verdadeira essência da vida. O que você pode dizer sobre esse pensamento?
A fantasia pode ser puro entretenimento de acordo com o leitor/espectador. Mas na verdade ela funciona não apenas como escape, mas como metáfora dos maiores dilemas da vida. É isso que conecta esse gênero com uma audiência tão grande e de qualquer idade. Não é sobre o cavaleiro enfrentando o dragão, é sobre a honra do cavaleiro, a coragem do desafio altruísta, a saudade dos que ele deixa pra trás na jornada…
Nos seus livros encontramos muitas referências à cultura pop e inspiração de sua própria vida. Quais são suas maiores inspirações nesses dois meios?
Stephen King é meu autor favorito, Caverna do Dragão é meu desenho favorito, e Final Fantasy VI e Chrono Trigger são meus jogos favoritos. Todos eles mudaram a minha vida, e eu não seria a mesma pessoa sem a existência deles.
Tem alguma mensagem específica que você tenta passar com seus livros?
Quase todos eles envolvem jornadas espirituais, personagens solitários buscando formas de atingir o enlevo. Meus livros são sobre personagens buscando sonhos impossíveis, já que foi nisso que foquei a minha vida.
Como foi a mudança dos livros para roteiros?
Eu comecei fazendo cinema, na verdade. Meus primeiros trabalhos foram no audiovisual. Eu escrevia de comerciais de shampoo até videoclipe da Claudia Leitte! Então eu sempre caminhei paralelo nas duas vertentes, mas em uma delas eu consegui um espaço maior inicialmente. E agora que a outra porta se abriu, tenho agarrado a chance com bastante carinho.
Trabalhar em conjunto com sua esposa facilitou a transição?
Para ela sim foi uma transição, já que Carol (Carolina Munhoz) vem do jornalismo. Mas ela se descobriu fascinada, e a nossa dinâmica é bem tranquila. Nós pensamos parecido, e assumimos tarefas diferentes no processo de escrita. Ela é ótima em arrumar soluções para conflitos de personagens, e ninguém deixa uma sala de executivos mais impressionada em uma apresentação do que ela, seja em português ou em inglês.
Como foi, em sua opinião, o acolhimento de O Escolhido pelo público em geral e pelos seus fãs especificamente?
É incrível! O mais bacana é que foi mais uma porta aberta para o gênero, dessa vez na Netflix, o que se torna mais um sonho realizado na jornada. Eu e Carolina temos recebido bastante feedback positivo do pessoal brasileiro, e até mesmo dos americanos, o que nos deixa felizes demais. Nós teremos uma segunda temporada já em novembro desse ano, o que é bem raro, e esperamos demais que o pessoal curta igualmente.
Ser uma pessoa pública, em algum momento, lhe foi prejudicial? Isso já lhe trouxe algum problema?
Acho que um único ponto que consigo pensar seria no fato de que existem pessoas que se dedicam a inventar muita coisa, distorcem o que se fala, fazem tudo em prol de atenção e polêmica. Mas isso ainda é muito pequeno perto do carinho que a gente recebe, e das portas que se abrem para conhecer pessoas interessantes no meio.
Mas alguma vez você já repensou sua decisão em ser escritor?
Nunca. Quando meu pai faleceu, porém, eu achei que teria de interromper meu sonho de vez e voltar a focar em empregos em outras áreas, como já fazia quando dava aulas de artes marciais. Eu e minha mãe vendemos a casa, fomos morar em um local bem menor, mas organizamos o dinheiro contado pra ver quanto tempo ainda teríamos de sobrevida. Era o tempo que eu tinha pra fazer dar certo.
Como inspiração para muitos fãs que têm sonhos a serem conquistados, o que pode dizer a eles?
A jornada é a grande diferença entre viver e apenas sobreviver. A pior dúvida é de se chegar no final da vida e se perguntar: “o que teria acontecido se eu tivesse tentado?”. Tentar e falhar é menos angustiante do que jamais saber a resposta, pois ao menos na busca você terá se tornado a sua melhor versão de si mesmo.
INDICAÇÕES DO DRACCON:
Uma música:
Numb – Linkin Park
Uma série
Breaking Bad
Um anime:
Cavaleiros do Zodíaco
Um filme:
Operação Dragão
Livros que todos deveriam ler antes de morrer:
O Rei do Inverno
Para terminarmos, o que você espera do futuro na sua vida profissional e para os seus próximos sonhos?
Continuar vivendo de inventar histórias, conhecendo as pessoas que eu sempre admirei de longe, e continuar a inspirar futuros contadores de histórias, independente da mídia.
Encerramos nossa entrevista com um carinhoso agradecimento ao Raphael Draccon, que dispôs de seu tempo para responder nossas perguntas. Sempre muito atencioso pessoalmente e nas redes sociais. Raphael vem, cada vez mais, conquistando espaço em todas as mídias quando o assunto é criatividade e talento. Seus livros estão na nossa lista de leitura que vocês conhecerão mais para frente em uma coluna sobre a Tropa dos Lanternas de Tinta (nos siga no Instagram @tropa_dos_lanternas_de_tinta, e siga o Raphael Draccon clicando AQUI).
“… Um som semidivino capaz de fazer o homem acreditar que, vez ou outra, na história da humanidade, algumas falhas podem, sim, ser analisadas e compreendidas. E enquanto houver esperança, até mesmo corrigidas.” – Raphael Draccon (Dragões de Éter).
Nós, por enquanto, vamos ficando por aqui. Quer mais posts assim? Admira alguém que gostaria que entrevistássemos? Então deixe um comentário. Boa semana, boa leitura, e até a próxima.