Foca na foca gigante: GORATH

Estava com algumas boas opções pra o Porão do Tokusatsu de hoje. Tinha um pseudo-sentai estrelado por dubladores… Um meso-americano que pratica luta-livre… tinha até um anime. Mas quando lembrei desse filme, foi impossível escolher qualquer outro. Sim, meus amigos: o monstro dessa pérola da sétima arte oriental é uma foca! Então subam em suas naves espaciais e vamos para o polo sul pra falar de Gorath!

Sinopse: Em 1980 cientistas descobrem que uma estrela chamada Gorath, está em rota de colisão com a Terra, duas missões tripuladas são enviadas para interceptar o corpo celeste, mas sua massa seis mil vezes maior que a da Terra produz uma gravidade muito grande, que destrói tudo o que se aproxima. A velocidade de Gorath aumenta, diminuindo o tempo de vida da raça humana, o que poderá ser feito para evitar esta catástrofe?

©Toho

Antes de mais nada vocês precisam entender o contexto de tudo. Nos anos 60, a Toho estava mais do que feliz. Seu primeiro filme do Godzilla em 54 deu à luz a uma franquia imensa e extremamente lucrativa, com sequências, spin-offs e muitas cópias. O “pai” do Rei dos Monstros, o diretor Ishiro Honda era um dos grandes responsáveis por tanto sucesso, juntamente do responsável pelos efeitos especiais, Eiji Tsuburaya. E se esse último nome te parece familiar é porque ele é ninguém menos que o homem que anos depois criaria o Ultraman!

Desde então a dupla não ficou parada, só de filmes de kaiju (pode chamar de MONSTRO GIGANTE, eu não conto pra ninguém) os dois trabalharam em Rodan (o pterodáctilo gigante), The Mysterians (com Gesora, a lula gigante), Varan (um esquilo-voador. Sério mesmo!) e ainda o primeiro filme da Mothra. Depois de tanto bicho gigante destruindo cidades os dois mereciam um filme com outra pegada, e aí daí que vem Gorath, O Planeta Errante.

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Claro que o “filme diferente” ainda teria que ser ficção científica, afinal não teria pra quê usar os efeitos especiais do Tsuburaya pra gravar um filme de romance né? A idéia de Honda era basicamente misturar dois filmes: o japonês Sekai Daisensou (de Shue Matsubayashi) e o americano When Worlds Collide (de George Pal), ambos tratando sobre pessoas de diferentes países e culturas se unidos para impedir um evento apocalíptico que viria a destruir o mundo. Essa inspiração atiçou Tsuburaya e ambos se prepararam para criar um épica de proporções que o cinema japonês não tinha visto até então.

Mas claro que nem tudo são flores. Mesmo com o roteiro já finalizado e aprovado, o produtor Tomoyuki Tanaka insistiu para que a dupla colocasse algum kaiju no filme… Mesmo isso não tendo nada a ver com a trama! Existem até boatos de que o monstro foi inserido quando as filmagens já estavam praticamente no fim! Ah, e como falei lá no começo o monstro em questão é uma foca gigante.

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Se não bastasse ser baseado num dos animais menos assustadores de todos, nossa foca ainda tem um nome bem sem graça: Maguma, de “magma”. Isso quer dizer que ela tem algum tipo de poder sobre o fogo, certo? ERRADO. Maguma não tem literalmente nenhuma habilidade especial além de seu tamanho. Enquanto Godzilla tem seu bafo atômico e Mothra pode voar, Maguma simplesmente anda beeeem devagar pisa em algumas coisas com suas nadadeiras. Nem suas presas gigantes são usadas para atacar nada!

Fica claro que Honda e Tsuburaya enfiaram o monstro à contra-gosto, por que além de aparecer por só alguns minutos, Maguma ainda tem a distinção de ser o kaiju mais fraco de toda a franquia Godzilla. Geralmente só existem dois jeitos de se matar um monstro gigante: a) outro monstro gigante ou b) algum tipo de super-arma avançada. Maguma, no entanto, é derrotado pela rara opção c) nossos heróis atiram nele. Simplesmente isso, eles voam com um jato, fazem pew-pew com um laser e pronto!

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Vocês devem estar imaginando que eu vou falar pra ficarem longe desse filme, mas não! Gorath é um sci-fi bem bacana, com aquela pegada de épico americano dos anos 50 e uma história que vale muito a pena – só tem um kaiju completamente supérfluo ali no meio. Ironicamente a melhor forma de ver o filme é pegando a versão americana, onde eles cortaram todas as cenas com Maguma. Não interferiu em nada na trama e deixou tudo bem melhor, finalmente os americanos mandaram bem pra variar!

E assim fecho mais uma vez as portas do Porão do Tokusatsu. Da próxima vez eu tento pegar algo com um monstro que valha a pena, prometo! Ah, e Gorath tem uma leve mensagem sobre o perigo do degelo das calotas polares então… Vão reciclar, sei lá.