Pai Nosso? – Um documentário chocante

Pai Nosso?

Uma mulher faz um teste de DNA e descobre vários meios-irmãos, revelando um esquema chocante que envolve um famoso especialista em inseminação artificial.

Pai Nosso? é um filme de documentário, lançado pela Netflix e dirigido por Lucie Jourdan.

UM CASO CHOCANTE

No ano de 1979, em Indiana, nos EUA, Doutor Cline abriu uma clínica de fertilização. Naquela época, o médico era procurado por vários casais que queriam ter filhos, mas não podiam por questões biológicas. Cline era referência nessa parte da medicina, envolvendo inseminação artificial.

Anos depois, uma mulher, Jacoba Ballard, decide fazer um teste de DNA para descobrir se possui algum meio-irmão com o mesmo doador de esperma. Quando ela recebe o resultado do teste, surpreende-se por possuir não um ou dois, mas seis meios-irmãos com o pai em comum. Aprofundando-se mais em sua pesquisa, ela acaba achando cada vez mais meios-irmãos e resolve investigar o motivo.

© Netflix

A VERDADE

Vendo que as autoridades não tomariam uma providência, Jacoba resolve investigar por conta própria. Além das autoridades, a mídia também não estava dando atenção a Jacoba quando ela tentava que alguma matéria fosse feita sobre o assunto. Até que ela encontrou uma jornalista que foi quem começou tudo e deu visibilidade ao caso através de um programa de TV.

A verdade é que Cline usava seu próprio esperma na inseminação das mulheres que consultavam-se com ele. Jacoba acaba descobrindo um total de 96 pessoas que são meios-irmãos com o pai em comum: Cline. O documentário intercala relatos, incluindo o de Jacoba e alguns casais que consultaram-se com o médico durante aquela época com encenações dos acontecimentos. Não gostei tanto das encenações e acho que deveriam ter dado mais foco às investigações e a parte legal. Mas a parte dos relatos é ótima, chamando a atenção para temas importantes, como a violência obstétrica.

© Netflix

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Violência obstétrica é o desrespeito à mulher, à sua autonomia, ao seu corpo e aos processos reprodutivos. Podendo se manifestar por meio de violência verbal, física ou sexual. Pela adoção de intervenções e procedimentos desnecessários e/ou sem evidências científicas. Em seu relato, uma dessas mulheres diz: eu fui estuprada três vezes e não sabia. É revoltante, pois o médico conquistava a confiança dos casais e, quando a mulher ia ao consultório, ele escapava para seu escritório e pegava seu próprio esperma para usar nas mulheres. Não deixa de ser um estupro, pois essas mulheres não deram seu consentimento para que Cline fizesse isso.

O filme não entra em mais detalhes, mas fica claro que o médico acreditava que não estava fazendo nada de errado. Além disso, algo ainda mais curioso é o fato de que quase todos os filhos de Cline tem olhos claros e são loiros. Cline era bem religioso e Jacoba chegou até mesmo a suspeitar que ele fizesse parte de alguma seita. E que um de seus objetivos seria a “purificação”, implicando que ele acreditava na superioridade dos brancos. O documentário fala brevemente também do passado de Cline, mas, assim como a questão da seita, não é muito aprofundado.

O fato é que, mesmo com provas, Cline ainda saiu impune e até hoje Jacoba continua recebendo resultados de compatibilidade genética com estranhos. É um caso realmente bizarro e revoltante, que eu não conhecia até assistir ao documentário.