Floresta dos Medos é uma reunião de contos escritos e ilustrados pela britânica Emily Carroll. Com ilustrações que fazem jus ao clima de terror e suspense criado pela autora, a antologia conta com tramas distintas, sendo elas: A Casa do Vizinho, As Mãos de uma Moça são Frias, Seu Rosto todo Vermelho, Minha Amiga Janna e O Ninho. Para além destes 5 contos, temos também uma história introdutória e uma conclusiva.
Como o nome já diz, todas as tramas de Floresta dos Medos envolvem a floresta na trama principal ou na subtrama dos contos, em A Casa do Vizinho, um pai sai de casa em pleno inverno, deixando suas três filhas sozinhas juntamente com um aviso: “Eu vou ficar fora por três dias”, ele disse, “Mas, se eu não voltar até o pôr do sol do terceiro dia, peguem comida, agasalhem-se, e sigam para a casa do vizinho.”
Narrada pela filha do meio, a história se desenrola a partir do fim do terceiro dia, quando a noite, sua irmã mais velha recebe uma visita estranha e desaparece no outro dia. Tal como a irmã mais velha, a mais nova também desaparece após ser visitada a noite e a irmã do meio se vê sozinha em casa, sem comida, sem lenha e apenas com uma coisa em sua mente: Chegar à casa do vizinho.
Em As Mãos de uma Moça são Frias, começamos a história conhecendo uma jovem que foi forçada pelo pai a se casar com um homem desconhecido e assim mudar-se para o grande e imponente casarão deste rapaz. No início ela retrata a estranheza do ambiente e a forma com que ela é tratada, com empregadas trançando seus cabelos com flores, elegantes vestidos de seda, fitas e uma enorme mesa de jantar. Mas logo na primeira noite algo a perturba, uma música triste e sinistra ecoa dos cantos da parede: “Eu casei com meu amor na primavera, mas no verão ele me aprisionou. Ele tirou a minha vida no outono e ao chegar o inverno, nada de mim restou… É frio onde estou e tão solitário, mas na solidão devo ficar. Sem amor, impune e esquecida, até me tornar inteira novamente.”
Curiosa e confusa com a canção, ela se levanta e sai perambulando pela casa no intuito de encontrar a fonte de tal música… E com o chegar do dia seguinte, a rotina volta a ser a mesma, empregadas a penteiam, a vestem com roupas e joias elegantes. E como parte da rotina, a cantoria continua por dias… Até que a jovem comece a sentir a loucura entrando em seus ossos… E os mistérios começam a se juntar à medida que a jovem surta, mais e mais.
Já em Seu Rosto todo Vermelho vemos uma história que me lembrou vagamente a história de Caim e Abel. Dois irmãos saem para caçar uma fera que atormenta o vilarejo, um deles consegue abater a besta, mas o outro, aquele que havia se oferecido primeiro, se oferecido para ir sozinho, nada fez… E ali, no auge da inveja, ele pensou “(…) o povo ficaria grato…A Ele” e é ai que o crime acontece. Dois saem para caçar, e apenas um volta.
Este que voltou, o invejoso, de todos teve gratidão pela morte da fera, condolências pelo falecimento de seu irmão, reconhecimento, e até mesmo os animais que seu irmão criava foram passados para ele… Mas um dia, aquele que ele matou friamente retorna… Será que ele está mesmo vivo?
Minha Amiga Janna foi de todos um dos meus contos preferidos do livro, narrado por Yvonne, umas das principais, ela começa falando da sua amizade com Janna, de como elas tem muito em comum, e de como ela a considera uma irmã. Janna e Yvonne tem um passatempo nada saudável, Janna, finge que ouve vozes do além, quem vê e ouve espíritos, e Yvonne acompanha a amiga nessas mentiras, ela fica escondida criando as falsas manifestações fantasmagóricas.
No meio da trama, Yvonne e Janna cogitam parar de fingir quando as pessoas pararem de procura-la, mas isso não acontece, o número de pessoas desejando falar com seus entes queridos falecidos só aumenta.
Mas Yvonne tem um segredo.
Um segredo que ela guarda até mesmo da sua melhor amiga.
Ela pode, realmente ver fantasmas. E sabe que tem uma presença ao redor de Janna. No começo essa presença é fria, e aos poucos os fios vermelhos entro desta presença começam a se desenvolver e a pulsar e é ai que Janna começa a mudar.
O começo de O Ninho, a personagem Mabel conta como sua falecida mãe lhe contava histórias, sobre fantasmas e monstros que criavam ninhos dentro das pessoas e as devorava de dentro para fora.
Bel nunca deu muitos créditos a esse tipo de coisa, tampouco levou-as a sério.
Numa época de férias, seu irmão mais velho vai busca-la para passar um tempo com ele e conhecer a sua esposa, Rebecca.
Mas Bel é solitária, prefere o conforto da biblioteca às insistentes tentativas de seu irmão e cunhada em fazê-la ir para passeios.
Enquanto lia sozinha debaixo de uma arvore, Bel recebe um aviso da governanta, Madame Beauchamp: “Não vá! A floresta. Não vá explorar sozinha. (…) Você pode acabar sozinha e encurralada…como Rebecca ficou.”
Após este pequeno alerta, Bel começa a notar coisas estranhas em sua cunhada, e também em Madame Beauchamp que some repentinamente…
O ninho é uma história com potencial, confesso que fiquei imaginando mais algumas páginas, mais um pouco daquela trama, seria… Intenso.
Como não fazem parte dos contos principais, e são poucas páginas (cerca de 3 ou 4) a introdução mostra uma garota lendo na escuridão do seu quarto, tendo apenas como fonte de iluminação uma pequena luminária, e mostra que, para ela, aquela pequena luminária era o que separava ela do breu e dos monstros que residiam naquela escuridão.
No conto conclusivo, vemos uma clara referência à história de Chapeuzinho Vermelho, a menina (a mesma do conto introdutório) sai da casa de seu pai para a casa de sua mãe, e o seu trajeto corta uma densa floresta, sob o alerta dado pelo seu pai, ela sabe que não deve demorar na floresta ou o lobo pode encontrá-la… Ela caminha despretensiosamente, e chega à casa de sua mãe em segurança, antes de dormir ela pensa: “Que bela noite! Que bela caminhada! Eu sabia que o lobo não me encontraria!“, mas, ela não contava que uma sombra respondesse ao seu comentário.