Um Diário do Ano da Peste – Série de Colunas: Escolha um Clássico!

Um Diário do Ano da Peste

Leitores e leitoras do mundo, aqui é a Lanterna de Tinta para a primeira coluna da série: Escolha um Clássico. Hoje falarei sobre o livro Um Diário do Ano da Peste, de Daniel Defoe (1660-1731)! Creio que a grande maioria de leitores constantes compartilha comigo um apreço único por títulos clássicos, mesmo que não os leia.

Os livros clássicos carregam consigo o peso da história da literatura durante os séculos em que a humanidade registra seus pensamentos durante acontecimentos de suas vidas, gravam histórias através da palavra escrita e moldam mundos únicos, que vivem dentro do pensamento compartilhado, pensamento este criado por pessoas que leram essas histórias. Está aí a melhor característica de um livro clássico: ele possui décadas, senão séculos, de coabitantes de um mesmo conhecimento. Conhecimento que necessita ser renovado a cada nova geração. Por isso, fica aqui um grande conselho de amiga leitora: escolha um clássico!

Primeiro a Resenha

O título é bem sugestivo, certo? Um Diário do Ano da Peste é o relato de um cidadão, quase que um arquivo. Nele Daniel Dafoe escreve da perspectiva de um homem, sobre um período terrível, certamente um marco histórico, pelo qual passou a Inglaterra. Lá estava o senhor, no centro da Peste Negra de 1665. Ele analisa cada passo da doença. Conta sobre dados de mortos baseados em estatísticas reais da época publicados semanalmente. Te apresenta um longo e assombroso ano, desde que a doença não pôde mais ser escondida pelas autoridades, até o seu fim. O homem te levará de volta aos primeiros lockdowns da Inglaterra por conta de uma peste, com reflexões sinceras e características, mas que lhe atingirão em pleno século XXI.

Cuidado Com a Pulga Atrás da Orelha

Pulga que transmite a bactéria da Peste
©ByControl

A Peste Bubônica assolou o mundo por muito tempo. E, como já é de conhecimento, seu auge foi entre os anos de 1343 a 1353. Mas talvez não seja de conhecimento geral que crises da Peste Negra estiveram se desenrolando pela Europa por séculos. Trazida por ratos que infestavam os navios, as pulgas que carregavam a doença permaneciam em seus corpos até que os matassem. Em seguida partiam para o corpo mais próximo, geralmente um ser humano. Uma praga, em uma época de higiene baixíssima, se disseminaria mais rápido do que a própria notícia da doença. E seu controle e extinção levaria o tempo que a humanidade daquela época evoluía, vagarosamente. E foi o que aconteceu.

A lógica é impecável. Ratos aparecem em ambientes de pouca higiene. Na Idade Média a higiene se quer existia se compararmos com nossos métodos atuais. Falta de higiene humana é igual a ratos convivendo com as pessoas em locais comuns. Os navios atracavam e ratos contaminados saiam aos montes. Eles também eram desembarcados em meio às mercadorias. Viviam entre as pessoas e morriam próximos aos seus pés, e então suas pulgas buscavam um novo hospedeiro. A pessoa escolhida era picada, a bactéria da pulga a deixava enferma e então essa pessoa transmitia a doença a todas as outras. A morte vinha em dez dias.

A pior parte? Nada se sabia sobre procedimentos médicos que pudessem conter a disseminação de uma doença contagiosa. Nem mesmo de onde realmente ela provinha. Basta olhar para as inúteis máscaras usadas pelos médicos da época. Aquela máscara provavelmente só aumentava a sensação de que, estar recebendo a visita de um médico, era como ver o ceifeiro chegando.

Médicos nos tempos da Peste
©Derek Castro

Um Verdadeiro Terror

Primeiramente, ler esse clássico em meio a uma pandemia foi uma jornada comparativa. Como não seria? Foi como ler dois livros ao mesmo tempo; ou como ter uma conversa com alguém do passado, onde comparávamos nossas terríveis realidades. Em segundo lugar, ler as descrições e saber exatamente do que ele estava falando, e saber exatamente como era a sensação de ver a doença progredindo e as mortes se acumulando, foi pior que ler um livro de terror. Nunca tive tal experiência com uma leitura. Eu realmente imaginei ruas de pedra ou terra batida lotadas de corpos sendo empilhados em carroças. Em seguida, preencheram minha mente imagens do jornal da noite, onde apareciam terrenos com dezenas de covas abertas, algumas com corpos embrulhados em plástico branco e outras esperando seus moradores eternos.

Para você que busca conhecimento, leia esse livro. Já assistiu Kung Fu Panda (TEM MUITA SABEDORIA NESSE FILME, OK?! kkk)? Nele o mestre Oogway afirma não existir notícias boas ou ruins, apenas notícias. Bom, usando desta lógica, Um Diário do Ano da Peste não é uma experiência ruim, é apenas uma experiência. Não é um livro divertido, longe disso… E nem preciso explicar o porquê, apenas releia tudo que eu já escrevi até agora nesta coluna. Caso busque entretenimento, leia ou não, por sua conta e risco, tudo dependerá do tipo de entretenimento que busca.

A todos que ainda estão na dúvida sobre essa leitura, eu posso afirmar que não é um desperdício de tempo. É profundamente instigante e trará muito tempo de reflexão. Um Diário do Ano da Peste pode ser, para esses tempos horríveis pelo qual estamos passando, um bom amigo. Pois é aquele tipo de amigo que te entende. Mas saiba que este é o tipo de livro que de fato honra a alcunha: clássico.

Uma Conclusão Antropológica

A verdade é que quando lemos um livro como esse, nos é revelada uma consciência comum. Mesmo que nem todos que desfrutarem desta história se aproximarão de sua totalidade. A nossa visão longa da história depois do fato, os passos da sociedade, as mudanças, os retrocessos, as estagnações ficam claras e detalhadas, como um mapa ou talvez uma receita para se cometer ou não os mesmos erros. O final deixa bem claro pelo autor, através de seu personagem principal, algo que provavelmente a grande massa de hoje só perceberá daqui um tempo. Para saber o que é, faça uma bebida quente, abra Um Diário do Ano da Peste na primeira página, e o leia.

Ah, Essas Edições, Tão Belas!

Quer saber algo que os clássicos também tem em comum? Lindíssimas edições!!! É melhor nem procurar muitas opções, confie em mim, não saberá qual delas escolher… As edições de Jules Verne quem o diga… É uma tortura escolher um título dele, pois existem muitas edições de inúmeras editoras. Mas esse é o tipo de sofrimento bom (isso existe?).

Essa edição, de Um Diário do Ano da Peste, é acompanhada de brinde por um segundo livro e dois lindos marca páginas que eu nunca usarei, vai para a coleção! Então só existem alegrias em ler um clássico. Apenas comece, encontre seu estilo de literatura clássica e aproveite um novo gosto na leitura. Falando em Jules Verne, aqui você confere minha coluna sobre Viagem ao Centro da Terra. E clicando aqui você lê minha coluna da semana passada, onde conto um pouco sobre a saga Os Legados de Lorien. Por hoje é isso! Boa semana, boa leitura e até a próxima!